quarta-feira, 10 de julho de 2013

Cansam-me as viagens

Já viajei muito…
Parti, mas voltei sempre aqui
Viajei anos a fio, conheci novos destinos
E regressei sempre quando quis
De todas as vezes parti contente
Porém, é aqui que me reconheço e sou feliz

Cansa-me falar de viagens
Como se só me sentisse bem longe daqui
Que é como quem diz longe da vida, longe de mim
Hoje viajo só, sentado no meu sofá, em primeira classe
Viajo quando, com e como quero,
Sem reserva, bilhete ou horário que me apresse

Nas viagens que fiz
Fui bem longe, mesmo muito longe
Em toda a parte conheci gente
Mas nunca, jamais, tampouco me perdi
Várias vezes perguntei por mim
Ouvi sempre um “Não sei, não vi…”

Cansa-me pois falar de viagens
Recordar partidas e lugares aonde fui
Alguns onde quase fui feliz, outras vezes infeliz…
Hoje, prefiro o entusiasmo das chegadas
Gosto de me rever, de me abraçar, de me dizer “Sê bem-vindo!”
Aqui, no meu quarto, desfaço a mala que afinal nunca fiz

Retiro dela as peças, uma a uma…
Recuso-me ter de voltar a partir
Já viajei muito e viajei sempre como, com e porque quis
Viajei anos a fio, foram tantos os destinos que conheci
Que hoje quero apenas estar aqui comigo
Porque só aqui me reconheço, só aqui eu sou feliz

… /…

Um comentário:

a_ciganita disse...

Parabéns, mais uma vez.
$Momento lindo, o desta leitura. Sou uma eterna viajante, mas ao contrário de ti, estou cansada de viajar em primeira classe e sozinha. Por vezes triste de sempre me encontrar, me abraçar, me receber e de me reconhecer: sempre eu. Pareço narciso (que, quanto a mim, alguns interpretam mal), fechado na sua timidez absurda e traumática; olhando vários espelhos, num anseio patético de se admirar, só para ser admirado. Afinal, na sua atitude interpretada como supérflua, mergulha aquele em escarafunchares vários, numa eterna procura de ser feliz, conhecendo-se, aceitando-se, valorizando-se, ou seja: viajando de fora para dentro, sempre em direcção a algo que pensa ser seu, recusando a banalização do que sente; escondendo-se em armaduras ridículas, pintalgadas de medo e de - cada vez mais - uma maior solidão. Mas sempre, sempre, em desejo constante de se mostrar aos outros, conhecer os outros, viajar com os outros. Momento lindo este, meu amigo, repito.
Acabo por viajar mais um pouco - desculpa o relato.