domingo, 14 de julho de 2013

Nada

Não trazias nada nas mãos…
Abrias as palmas e só via linhas
Na boca, as palavras enrolavam-se-te na língua
E as letras engasgavam-te a garganta
Deitavas as mãos à boca
Num gesto desesperado de quem tentava regurgitar as consoantes que engolias… 
Que te arranhavam a garganta.
E que tanta falta te faziam para construíres as palavras certas…
E as mãos?... O que conseguiam elas mostrar-me?...
Nada, nada, só linhas…
Linhas que apenas eram as marcas das vezes que as abriste e fechaste
Sem nada trazeres nelas… nas palmas…
Hum…  pois não, não trazias nada nas mãos
E sufocavas numa overdose de tinta que te asfixiava por dentro
Palavras, letras e consoantes que não conseguias vomitar…
Desesperada, emocionavas-te e engasgavas-te ainda mais
Pegavas na caneta, tentavas escrever e… nada, não saía nada!
Olhavas as linhas das mãos e confundias-te
Vias linhas e mais linhas de tanto abrires e fechares as mãos
Na tentativa de escreveres os teus vómitos
A garganta arranhada de tanto tentares regurgitar para o papel
Doía-te…
E as letras que não conseguias juntar, mais as palavras que não deitavas cá para fora
Tolhiam-te as mãos…
E estas não te serviam para nada
Abrias as palmas e nada, simplesmente nada…
Se alguém te estendia as suas, era nada o que oferecias
Apenas nada…
Somente linhas esquecidas nas palmas das mãos…

… /…

Nenhum comentário: