sábado, 8 de fevereiro de 2014

Tempestade

Fica o teu corpo tatuado na minha cama
Ainda que por lá nunca tenhas passado
Com o rímel que não usas
Deixas nos lençóis um poema escrito pela madrugada 
E acordas cansada
Fruto da vertigem da noite em que não dormimos juntos

Viro-me para o lado mas tu não estás
E no entanto cheiro o teu perfume entranhado na almofada que não usaste
De repente sinto uma aragem fresca no rosto
Que inicia a descida do meu corpo quente por debaixo do edredão
Refrescando a minha pele ardente  
Relaxando-me por fim

Não sei ao que vens
Nem tão pouco o que desejas
Sei que me ajeito na cama
Procuro estar confortável e deixo-me levar nessa brisa
Logo se instala um temporal sob o olhar atento da lua
E meu leito vira um mar revolto

O meu quarto é agora uma tempestade
Onde o meu corpo feito barco anda à deriva sem mão que agarre o leme
Só mais tarde vem a bonança
E as ondas do mar calmo que é o teu corpo
Mais a tua boca feita areia molhada pela água salgada dos teus olhos
Devolvem-me são e salvo ao cais seguro onde te invento

Então eu viro-me para o outro lado
Passo a mão no lençol na esperança de te encontrar mas tu não estás
Ajeito a almofada e aconchego-me
Sobreponho as pernas apertando com força os joelhos
E assim feito náufrago do teu amor ausente
Só penso em sair para o mar outra vez

… /…

2 comentários:

Anônimo disse...

...e gracas sejam dadas porque o Homem Poeta mais uma vez se mostra e demonstra e o
Poeta Homem de desvenda e despe.

a_ciganita disse...

Perfeito poema, cheio de uma sensualidade linda e cativante; imagens simples e ternas; ritmo e calmaria. João é maravilhosa a forma como o escreves.