Já viajei
muito…
Parti, mas
voltei sempre aqui
Viajei anos
a fio, conheci novos destinos
E regressei
sempre quando quis
De todas as
vezes parti contente
Porém, é
aqui que me reconheço e sou feliz
Cansa-me falar
de viagens
Como se só
me sentisse bem longe daqui
Que é como
quem diz longe da vida, longe de mim
Hoje viajo só,
sentado no meu sofá, em primeira classe
Viajo
quando, com e como quero,
Sem reserva,
bilhete ou horário que me apresse
Nas viagens
que fiz
Fui bem
longe, mesmo muito longe
Em toda a
parte conheci gente
Mas nunca,
jamais, tampouco me perdi
Várias vezes
perguntei por mim
Ouvi sempre
um “Não sei, não vi…”
Cansa-me pois
falar de viagens
Recordar partidas
e lugares aonde fui
Alguns onde
quase fui feliz, outras vezes infeliz…
Hoje,
prefiro o entusiasmo das chegadas
Gosto de me
rever, de me abraçar, de me dizer “Sê bem-vindo!”
Aqui, no meu
quarto, desfaço a mala que afinal nunca fiz
Retiro dela
as peças, uma a uma…
Recuso-me ter
de voltar a partir
Já viajei
muito e viajei sempre como, com e porque quis
Viajei anos
a fio, foram tantos os destinos que conheci
Que hoje quero
apenas estar aqui comigo
Porque só
aqui me reconheço, só aqui eu sou feliz
… /…
Um comentário:
Parabéns, mais uma vez.
$Momento lindo, o desta leitura. Sou uma eterna viajante, mas ao contrário de ti, estou cansada de viajar em primeira classe e sozinha. Por vezes triste de sempre me encontrar, me abraçar, me receber e de me reconhecer: sempre eu. Pareço narciso (que, quanto a mim, alguns interpretam mal), fechado na sua timidez absurda e traumática; olhando vários espelhos, num anseio patético de se admirar, só para ser admirado. Afinal, na sua atitude interpretada como supérflua, mergulha aquele em escarafunchares vários, numa eterna procura de ser feliz, conhecendo-se, aceitando-se, valorizando-se, ou seja: viajando de fora para dentro, sempre em direcção a algo que pensa ser seu, recusando a banalização do que sente; escondendo-se em armaduras ridículas, pintalgadas de medo e de - cada vez mais - uma maior solidão. Mas sempre, sempre, em desejo constante de se mostrar aos outros, conhecer os outros, viajar com os outros. Momento lindo este, meu amigo, repito.
Acabo por viajar mais um pouco - desculpa o relato.
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