domingo, 15 de dezembro de 2013

Não fui a tempo...

Todos os dias venho, de manhã, à pastelaria.
Todos os dias, bebo o meu café e escrevo, enquanto espero que o jornal da casa esteja disponível.
É difícil! O Sr Mário e o Sr. Francisco, conhecido pelo Ti Chico, sentados lado a lado, na mesa ao meu lado, devoram o jornal todo, como se não houvesse amanhã e o presente ficasse assim, todo ele ali escrito.
A leitura é feita da primeira à última palavra, apontando cada uma delas com o dedo.
Ainda não consegui perceber se gostam mais de futebol, se de canoagem, tal o interesse demonstrado pelas chamadas modalidades secundárias (!?...)
Quase todos os dias desisto e vou para casa sem ter lido o jornal, optando por regressar mais tarde, de preferência à hora do almoço, altura em que eles estarão nas suas casas, à mesa, a almoçar. É mais seguro.
Hoje não vai ser assim, até porque vou almoçar a casa de uma amiga que faz anos, a Margarida. Vai ser um almoço e peras. E peras, não… e poesia! É que cada um dos convidados está obrigado a ler uma poesia. Não sei qual deva ler, agora que me meti com a prosa!?...
Hoje vai ser tudo diferente. O Ti Chico e o Sr. Mário não estão cá!
Acabei de beber o café e… ali está ele, o jornal!...
Deixa-me cá levantar e esgueirar-me para o agarrar, antes que…
- Não, faz favor, o senhor chegou primeiro. Não se incomode, faço questão… eu estou ali a escrever. Passo por cá logo – não fui a tempo.
Dizia eu que hoje vai ser tudo diferente. Não me enganei.
Hoje não vou ler o jornal de hoje porque não posso voltar à hora do almoço. Fica para amanhã.
E assim, amanhã, tenho mais para ler, ainda que se vão acumulando as notícias passadas.
Não deixa de ser um exercício interessante. Nos dias que correm sabermos que o passado existiu!
Afinal, os dias repetem-se e se, a cada dia que passa, eu conseguir ler as notícias do dia anterior, é sinal que houve amanhã para mim.
Ah… e hoje não levo pão do dia para casa porque vou para o almoço de aniversário da minha amiga Margarida, em Lisboa e só regresso à noite.
Se me apetecer um pão com queijo, como habitualmente acontece quando faço serão a pintar, como pão de ontem.
Amanhã, logo se vê…

… /…



Um comentário:

Unknown disse...

Depois de amanhã, quando chegares à pastelaria, experimenta dar a ler um dos teus escritos ao senhor Mário e ao Ti Chico: no dia a seguir serão eles que te estendem o jornal, na esperança que os saboreies com a tua prosa cheia de poesia.