terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Irra, que chatice!

Desde miúdo que me enervam certos ruídos.
Por exemplo, este sujeito que se sentou na mesa atrás da minha é uma máquina de fazer barulhos. Senão oiçam…
Primeiro, o exagero com que mexeu a sua meia de leite.
Quatro vezes pegou na colher, quatro vezes a girou, intervalando cada uma delas com uma trinca na sanduíche mista, que pediu ao balcão.
O ruído produzido pelo processo de mastigação é terrível, para mim, e o que este senhor emite, insiste em fazer-se ouvir.
Conquanto não o estou a ver, imagino que dê grandes dentadas no pão, sentindo dificuldade em o mastigar convenientemente, tal o volume que este ocupa na sua boca. Mas ele resolve a situação dando goles, sorvidos e bem barulhentos para ajudar a deglutição, ao mesmo tempo que mastiga ruidosamente e volta a mexer a meia de leite.
Assim, o ruído da colher a girar na chávena, numa louca e vertiginosa rotação acelerada, várias vezes repetida, mais o das trincadelas desesperadas, capazes de desarticular a Articulação Temporomandibular, vulgo “cair dos queixos”, acompanhadas de enervantes goles, tornando a mastigação mais húmida e suculenta, desta feita com um ruído mais pastoso, culminando toda esta sinfonia na batida da chávena, de cada vez que a pousa no pires com marcada violência, fazendo ecoar, não só o barulho da loiça, como a vibração do tilintar da colher, dita o ritmo a que se desenvolverá o meu dia.
Hoje estou irritado…
Que saudades do silêncio de casa!...

… /… 


Um comentário:

Unknown disse...

Na "minha" pastelaria ouvem-se gritos desesperados dos grãos de café a serem, desalmadamente, mastigados pela trituradora; os talheres embatem nos pires, nas chávenas e copos largados (sem paraquedas) no recipiente da máquina de lavar; a televisão vomita imagens do tempo do cinema mudo, por não conseguir sobrepor o som à manifestação de comentários que flutuam, misturados, no ar; os empregados atropelam-se em códigos, lançados em voz alta para um quadrado: "SAI UM PÃO COM MANTEIGA... OLHA A TORRADA..." - do outro lado está um fantasma protestante. Deixei de me sentar à mesa: tenho medo que um pedaço de almofada de vitela me entre num olho, quando a mastigação de alguns se faz ao mesmo tempo que gritam ao telemóvel. Invariavelmente, ninguém ouve o que é dito pelos mágicos (irritantes) aparelhos de comunicação e, por isso: "FALA MAIS ALTO, PÁ!... NÃO TE ESTOU A A OUVIR!... O QUÊ???...", como se quem não ouvisse fosse o outro. Das mesas esquecidas saem dardos ameaçadores: Ó SENHOR MANUEL, ATÃO HOMEM? A MINHA MEIA? TENHO DE IR TRABALHAR... VOU-ME EMBORA NÃO TARDA. Etc, ETC, etc. Sou uma sortuda, porque o teu problema não se faz sentir na minha pastelaria.