sábado, 28 de dezembro de 2013

Um Natal diferente

Poderia o Natal ser diferente?
Poderiam as famílias juntar-se à volta do presépio
Sem trocarem um só presente?
E que tal se a cegueira estonteante do louco avio de presentes
Fosse esquecida dando apenas lugar a um abraço bem apertado,
Grátis e acessível a toda a gente!?...
Daqueles que fizessem com que no dia seguinte fosse ainda possível sentir o calor da véspera
E que todos pudessem lembrar-se dele ainda...
Sinal de que todos o teriam recebido
Todos, sem exceção…
Sinal de que todos tê-lo-iam oferecido, também…

Que bom seria, que aquele menino pudesse perceber o que realmente é o Natal
E que, para isso, alguém lho tivesse explicado um dia...
Decerto continuaria a crescer, mas cresceria mais gente
E a gratidão, essa, passaria a ter  na sua boca um outro significado
Porque seria diferente…
E se, a cada tristeza ou dor sentida nas orações
Daquele velho só, sentado, ali, naquele banco,
Pudesse suas lágrimas o presépio secar,
Levando o menino nas palhinhas a sorrir a toda a gente?...
Que bom seria ver todos contentes…
Que bom seria ver todos como iguais e não diferentes 
E quão alegre seria o dia Natal!...

… /…

Até para o ano!...

E pronto, foi-se o Natal!...
As casas ainda cheiram a fritos, há papéis de embrulhos dobrados e restos de fitas com laços amachucados, em cima das cadeiras.
A árvore de Natal ainda pisca em jeito de despedida. Em seu redor, um ou outro presente à espera de quem o irá recolher mais tarde, porque a azáfama dos dias antecedentes não possibilitou a entrega.
Na rua, as pessoas passeiam-se com as roupas que estrearam no dia vinte e cinco.
Como é fácil e até divertido perceber as botas novas, usadas sobre as calças, ou o blusão para a neve, vestido num dia como o de hoje, em que o sol espreita timidamente…
Alguns encontram-se de férias, outros vivem já a rotina diária dos seus empregos. Todos desfrutam das iguarias em cima das mesas, que ainda estão postas, ao fim do dia, na sala de jantar.
Os miúdos, no chão, brincam, já sem muito entusiasmo, com os brinquedos que receberam há dois dias e contam o dinheiro que amontoaram no envelope, dando-lhe destino para os próximos dias. É que ficam sempre coisas por receber (!?...)
A televisão, ligada, transmite constantemente anúncios alusivos à época dos saldos que aí vêm. Afinal, o Natal já lá vai e importa trocar rapidamente a roupagem…
Troca-se a amizade por uma farpela nova, muito em conta, a solidariedade por um fim-de-semana de Ano Novo, com réveillon incluído e o amor por um qualquer gadget, que entretanto reduziu o seu preço em quarenta por cento, logo no dia a seguir ao Natal.
Toca a pensar nas dietas, nos programas e tratamentos para emagrecimento e nas sessões nos spas.
Em breve, a árvore de plástico recolhe à caixa de cartão e as figuras do presépio serão embrulhadas e guardadas na velha caixa de sapatos.
Apagam-se, assim, as luzes da árvore e o coração continuará às escuras, por mais um ano.
O Natal já lá vai…
Até para o ano, Menino Jesus!

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sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Adiamento

Abro os braços e fico à espera
Nem eu sei porque é que o faço
Se por sonho ou por quimera
Se por medo ou por fracasso

Olho à volta e não te vejo
Impossível o abraço
Dava tudo p’lo teu beijo
Adiado pelo cansaço

... /...

Ferida

São já tantos os dias passados
Que se contados um a um
Parece não terem fim…

Foram longos, foram frios
Nasceram pela manhã
Deitaram-se comigo à noite
No silêncio das horas têm habitado em mim…

E enquanto uns foram, outros vieram
Com eles o tempo para sentir
Aquele abraço, aquele sorriso, este aperto no peito
Com tristeza e ruído de fundo
Que me rouba de vez em quando um sorriso
O mesmo que ontem, à noite, no meu leito
Adormeceu abraçado a mim…

O tempo chicoteia-nos
Marca-nos a vida com memórias cadenciadas
Reabre-nos feridas que julgávamos saradas
Insistindo em manter-nos assim

E assim, caminhamos de um qualquer jeito
A sobrevivência só por si é um enorme feito
Na tentativa da cura dos dias sem fim…

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quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Em órbita

E se eu desaparecesse agora
Tal qual a Lua após o seu quarto minguante
Será que te lembravas de mim?
Terão dois anos bastado para teres gravado a Lua?
Certamente que não, claro que é pouco
O tempo certo no entanto para sermos amigos 
Para todo o sempre...
Eu porque sou…
Tu porque não sabes…
Mas és!...
Quando me estendes os teus braços
Não imaginas a responsabilidade que sinto
É Deus que te põe nas minhas mãos
E a lua sorri...
Na certeza de que o universo nos protege…
Porque ele é composto por todas as forças estrelares e energias
Que mantêm o seu equilíbrio
Porque o universo está cheio de almas que te amam…
Podes por isso descansar meu amor
Desde que nasceste que o meu universo é o teu
E nele levito feito satélite
Girando em teu redor
Na infinita esperança de te despertar a curiosidade
A vontade de me reconheceres
Como o homem que um dia abraçou o sol!...

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quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Galope

Pintaste um prado no meu coração
E nele galopas a uma velocidade louca
Andas para trás e para diante ao longo do meu corpo
Desenhando trajetos sem partida nem chegada
Às vezes parece que fizeste sempre parte de mim
Tal a precisão do espaço que preenches
Como pude eu viver tanto tempo sem ti?...
Como me apaixonei assim que te vi?...
Como, assim?..

Corres em mim sem barreiras
Sem tempo ou meta à vista
Importa que nunca desistas e aprendas o que é o amor
Que olhes à tua volta e encontres os teus amigos na tua corrida
Incentivando-te sempre que o cansaço te prender os movimentos
E eu correrei contigo lado a lado
Estarei sempre lá para te aplaudir
E para te gritar aos ouvidos também
Se necessário…

As minhas mãos apontar-te-ão sempre o caminho
As mesmas mãos que te levavam ao colo
E que um dia estarão cansadas
Serão no entanto elas testemunhos da tua existência
Porque nelas pousaram as tuas
Nelas dormiste o teu sono de bebé
Nelas correram cavalos que te faziam sorrir…
E que te embalaram também
Num galope louco que te fez crescer…

O prado que pintaste em mim
Obrigou o meu coração a reinventar-se
Os dias tornaram-se mais longos, mais cheios e mais coloridos
A vida mais bonita, mais leve de se levar e mais plena também
E o meu coração bombeia mais sangue
E o meu sangue és tu, a correr em mim...

Laura, ouve o avô!...
Quando te vejo, abraço ou beijo, o mundo é perfeito
E não necessito de mais nada...
Apenas queria por uma vez ter a certeza que serás feliz
Depois podia fechar os olhos e galopar ao trote dos teus dedos
Embalado pelo teu sorriso…

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terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Irra, que chatice!

Desde miúdo que me enervam certos ruídos.
Por exemplo, este sujeito que se sentou na mesa atrás da minha é uma máquina de fazer barulhos. Senão oiçam…
Primeiro, o exagero com que mexeu a sua meia de leite.
Quatro vezes pegou na colher, quatro vezes a girou, intervalando cada uma delas com uma trinca na sanduíche mista, que pediu ao balcão.
O ruído produzido pelo processo de mastigação é terrível, para mim, e o que este senhor emite, insiste em fazer-se ouvir.
Conquanto não o estou a ver, imagino que dê grandes dentadas no pão, sentindo dificuldade em o mastigar convenientemente, tal o volume que este ocupa na sua boca. Mas ele resolve a situação dando goles, sorvidos e bem barulhentos para ajudar a deglutição, ao mesmo tempo que mastiga ruidosamente e volta a mexer a meia de leite.
Assim, o ruído da colher a girar na chávena, numa louca e vertiginosa rotação acelerada, várias vezes repetida, mais o das trincadelas desesperadas, capazes de desarticular a Articulação Temporomandibular, vulgo “cair dos queixos”, acompanhadas de enervantes goles, tornando a mastigação mais húmida e suculenta, desta feita com um ruído mais pastoso, culminando toda esta sinfonia na batida da chávena, de cada vez que a pousa no pires com marcada violência, fazendo ecoar, não só o barulho da loiça, como a vibração do tilintar da colher, dita o ritmo a que se desenvolverá o meu dia.
Hoje estou irritado…
Que saudades do silêncio de casa!...

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domingo, 15 de dezembro de 2013

Não fui a tempo...

Todos os dias venho, de manhã, à pastelaria.
Todos os dias, bebo o meu café e escrevo, enquanto espero que o jornal da casa esteja disponível.
É difícil! O Sr Mário e o Sr. Francisco, conhecido pelo Ti Chico, sentados lado a lado, na mesa ao meu lado, devoram o jornal todo, como se não houvesse amanhã e o presente ficasse assim, todo ele ali escrito.
A leitura é feita da primeira à última palavra, apontando cada uma delas com o dedo.
Ainda não consegui perceber se gostam mais de futebol, se de canoagem, tal o interesse demonstrado pelas chamadas modalidades secundárias (!?...)
Quase todos os dias desisto e vou para casa sem ter lido o jornal, optando por regressar mais tarde, de preferência à hora do almoço, altura em que eles estarão nas suas casas, à mesa, a almoçar. É mais seguro.
Hoje não vai ser assim, até porque vou almoçar a casa de uma amiga que faz anos, a Margarida. Vai ser um almoço e peras. E peras, não… e poesia! É que cada um dos convidados está obrigado a ler uma poesia. Não sei qual deva ler, agora que me meti com a prosa!?...
Hoje vai ser tudo diferente. O Ti Chico e o Sr. Mário não estão cá!
Acabei de beber o café e… ali está ele, o jornal!...
Deixa-me cá levantar e esgueirar-me para o agarrar, antes que…
- Não, faz favor, o senhor chegou primeiro. Não se incomode, faço questão… eu estou ali a escrever. Passo por cá logo – não fui a tempo.
Dizia eu que hoje vai ser tudo diferente. Não me enganei.
Hoje não vou ler o jornal de hoje porque não posso voltar à hora do almoço. Fica para amanhã.
E assim, amanhã, tenho mais para ler, ainda que se vão acumulando as notícias passadas.
Não deixa de ser um exercício interessante. Nos dias que correm sabermos que o passado existiu!
Afinal, os dias repetem-se e se, a cada dia que passa, eu conseguir ler as notícias do dia anterior, é sinal que houve amanhã para mim.
Ah… e hoje não levo pão do dia para casa porque vou para o almoço de aniversário da minha amiga Margarida, em Lisboa e só regresso à noite.
Se me apetecer um pão com queijo, como habitualmente acontece quando faço serão a pintar, como pão de ontem.
Amanhã, logo se vê…

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sábado, 14 de dezembro de 2013

Ménage à trois

Estou metido em trabalhos.
Uma espécie de traição, daquelas que se cometem sem sabermos como nem porquê.
Acontecem e já está, assim, sem sabermos o que é que nos espera (!?...)
Preferia que não estivesse a acontecer, pois deixa-me tenso, dividido e preocupado.
Parece sina…
Agora que tudo ia tão bem e que pensava ter encontrado estabilidade, logo o diabo adormecido em mim, apareceu, agitando-me o sono tranquilo.
E eu acordo e em vez de me virar para o lado certo e abraçar aquela com quem sou feliz há já algum tempo, fico deitado, adormecido, a construir sonhos.
O meu pensamento foge e vai com aquela que me vem atazanando nos últimos tempos.

Como se o amor tenha acontecido
Sem que dele eu me apercebesse
Talvez apenas estivesse escondido
Só, à espera de quem o merecesse

Quão fraco sou, que confusão vai aqui dentro…
Entrego-me de vez às minhas tentações e gosto…
E gozo…
Abraço as duas e deixo-me vencer pela sedução a que me sujeitam, neste ménage à trois
E deixo-me ir porque me sinto desejado
e porque as desejo também
Quando acordo, não sei onde estou, qual delas devo seguir com o olhar
Provocam-me e eu fico baralhado
Sem perceber qual das duas toquei com maior vontade e sabedoria
Ou estarei eu a ser guiado apenas pelo desejo!?...
Saio de dia à rua com uma e sinto-me despido
Deambulo à noite com a outra e fico completamente nu
Qual amante apanhado em flagrante
Desesperado…

E não é que é boa esta agitação!?
Ao fim de tanto tempo quem diria!?
Pouco importa se é pecado ou não
Pois tanto amo a Prosa como a Poesia…

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sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

O Professor Ulisses

Ia a caminho dos dezasseis quando comecei a trabalhar no atelier do Professor Ulisses.
Ulisses Duarte, um homem verdadeiramente rico, embora sem fortuna.
Professor de Matemática, era também licenciado em Belas Artes. A poesia, contudo, foi sempre a sua bandeira e foi ela que ditou o seu percurso de resistente antifascista.
O Professor Ulisses defendia valores que bastas vezes o obrigavam a largar a capital, sendo obrigado a viver noutras paragens, uma vez que só assim podia continuar a ser livre.
Entre os diversos locais por onde passou, na esperança de que a PIDE não o encontrasse, Estremoz é aquele de que mais me lembro, talvez porque o meu avô Rafael, pai da minha mãe, filho de sevilhanos, tenha ali nascido e desta forma tenha eu registado, para sempre, esta sua paragem. Ou, talvez apenas, porque me contava diversos episódios ali decorridos.
A sua vida foi bastante preenchida, rica em histórias e condutas, assentes em valores com alicerces, escavados com muito trabalho, sentido de justiça, camaradagem, respeito e sonhos, muitos sonhos.
Mais tarde, vivendo já com a sua mulher, a Dna. Luisinha, a publicidade foi o seu ganha-pão, mas, mesmo assim, a criatividade e a disciplina permitiram-lhe criar uma estrutura ímpar, na altura.
Quando o Professor Ulisses me convidou para com ele trabalhar, pintávamos painéis e lonas publicitárias para estádios como os da Luz, Rio Ave, Bessa, Faro, Restelo, além de publicidade para o Autódromo do Estoril e inúmeros eventos, tais como o Estoril Open, congressos e conferências na FIL. A carteira de clientes era vasta. Para além das agências de publicidade com nomes conhecidos como o da Young & Rubicam, entre outras, havia outros clientes de peso, o Grupo Nabisco, Vidago, Pedras e Caramulo, Banco Pinto & Sotto Mayor, Shell, diversas marcas de automóvel e tantos, tantos outros, que já não recordo.
Desde cedo que o Professor Ulisses mostrou ser meu amigo.
Isso era evidente na forma como sempre criticou o meu trabalho, no sentido de responsabilidade que me incutia em tudo o que eu fazia, nas vezes em que se ausentava do atelier, deixando indicações dirigidas a cada um de nós, elementos da equipa, mas sempre com uma palavra especial em relação a mim.
Tal situação resultava do facto de ser eu o único que ali estava com instintiva vocação para o desenho e pintura.
Talvez o Professor Ulisses tenha visto em mim alguém que poderia dedicar-se e prosseguir o seu negócio, uma vez que, como personagem que foi sempre à frente do seu tempo, percebeu que o futuro traria esquecimento relativamente ao trabalho preciso e manual, para dar lugar à mecanização e informatização dos processos envolvidos, na realização dos trabalhos publicitários que executávamos. Sentia, o Professor Ulisses, que o seu tempo se esgotava e diversas vezes, confessava-me que queria parar e voltar a escrever, até ao fim dos seus dias.
Também, para mim, o cenário desenhado para o futuro do negócio, não era o que me fascinava e, por isso, achei que assim não seria feliz, por isso não prossegui, optando por outro rumo profissional. Hoje, tenho pena, mas não me arrependo.
O Professor Ulisses ensinou-me muito e, da nossa convivência ao longo de mais de seis anos, retirei mais do que o sonho de um negócio para o futuro.
Aprendi bastante a cada diálogo, a cada lição de vida. Muitas vezes não concordei com o que me dizia e algumas delas zangámo-nos a sério, mas a amizade e a admiração que sentíamos um pelo outro era o passaporte que trazíamos no bolso.
Hoje, quando escrevo, como é o caso, neste café, penso, por vezes, que o seu espírito me ajuda a embalar a escrita.
Olho a chávena da bica e recordo-o de cigarro na mão, as pontas do indicador e do dedo médio amarelas e trémulas, a levarem o filtro à boca. De cada vez que dava uma passa, com o fumo que libertava, saía sempre uma qualquer divagação, uma história, uma piada, por vezes uma poesia…
O Professor Ulisses tinha muitas histórias para contar. Histórias essas que ouvi atento e que cresceram comigo, ajudando-me a crescer, também.
Hoje, recordo-me daquela que se passou comigo e que confirma e reforça a ideia do rigor e responsabilidade que me exigia, na tentativa de que me tornasse um homem e um profissional melhor, dando-me, ao mesmo tempo, sinais de compreensão, apreço e incentivo, fazendo-me sentir que a criatividade, a liberdade de expressão e a alegria que colocamos nas coisas, quando as fazemos com vontade, não vêm nos cadernos, nem sequer podem ficar simplesmente sujeitas a avaliações quadradas, que ditam o real valor de cada um.
Há na verdade coisas que são nossas, nossas devem crescer e connosco devem morrer.
Naquele dia, o professor Ulisses teve de se ausentar do atelier para ir a uma reunião com um cliente.
Estávamos cheios de trabalho e havia que iniciar um novo trabalho para a Volvo, por sinal um bom cliente.
Enquanto as meninas davam fundos, com tinta branca, nas lonas, eu fiquei encarregado de desenhar as letras e o logotipo, na cartolina duplex, a fim de se recortarem os moldes para o desenho final.
                - Com as devidas construções geométricas! Quero essas letras desenhadas a régua e compasso, arcos abatidos, em ogiva, ovais, etc, etc… - disse-me, dando-me uns carolos na cabeça, em jeito de motivação.
Sentado ao estirador, disse-lhe para ir descansado, que quando viesse já estaria tudo pronto e entreguei-me à tarefa.
Era seu amigo e sabia que o seu medo se resumia a que eu, como habitualmente, acreditasse no meu jeito natural, golpe de vista e noção das proporções, esquecendo as suas recomendações de forma displicente e propositada, optando por fazer todo o trabalho a olho.
A geometria foi sempre, para mim, uma seca.
Mas bom, o importante era fazer o trabalho, depressa e bem.
A manhã decorreu normalmente e quando o Professor Ulisses regressou, todas as letras estavam desenhadas. O trabalho ficou asseado, mas as linhas de construção e os traços do compasso não existiam!...
O Professor Ulisses examinou o trabalho de fio a pavio, seguindo cada traço com o seu dedo amarelado do tabaco, nervoso, mas ao mesmo tempo contente pelo resultado final. Fez medições, mais medições e via-se que estava todo contente.
Não gostava que assim fosse, mas sentia-se orgulhoso de eu ter conseguido fazer tudo recorrendo ao meu jeito natural…
Fez-me ver que eu tinha de me esforçar e aprender, de uma vez por todas, cada uma das construções geométricas, mas no final, passou-me a mão à volta das costas e com os olhos brilhantes, que transpareciam satisfação e orgulho, disse-me aquela palavra que tantas vezes me dizia, sinal de cumplicidade e que ainda hoje consigo ouvir cá dentro:
                - Sacana!... – enquanto me puxava para si.
Depois, convidou-me a beber um café, no Rio de Prata, local das nossa tertúlias e, por entre passas e goles no seu café, contou-me:
                - Certa vez, numa das minhas estadias forçadas no Alentejo, em que sobrevivia como caixeiro-viajante, fui parar a Estremoz. Como precisava de ganhar algum dinheiro extra, arranjei um lugar como professor de Matemática, dando aulas à noite. Entre os meus alunos, havia alguns militares ali arranchados. Um deles passava as aulas a dormir… – dizia ele, interrompendo cada frase para tragar o café e queimar o seu cigarro… - Passou-se numa aula de trigonometria, depois de ter explicado como se acha o centro de uma circunferência, fazendo o exercício no quadro, após desenhar cada um dos passos necessários para tal, virei-me e vi o rapaz a dormir, uma vez mais… Sacana!... pensei… Desenhei uma circunferência ao lado, fiz barulho, proferindo o seu nome, o que surtiu o efeito desejado. O rapaz acordou estremunhado, olhou à sua volta e viu que todos o observavam, entre gargalhadas. – continuou – Tranquilamente, solicitei-lhe que viesse ao quadro e que achasse o centro daquela circunferência. O rapaz levantou-se, ajeitou a farda, levantou o braço direito, apontou o indicador na direção do quadro, fechou o olho esquerdo, avançou pelo corredor entre carteiras e, chegado ao quadro, encostou o dedo no interior da circunferência. É aqui, Senhor Professor, disse o rapaz!…
Eu escutava-o atento e esperava o desejado final.
                - Peguei no compasso – continuou o Professor Ulisses – conferi o ponto indicado e estava certíssimo!...
Logo de seguida, o inesperado:
                - O rapaz era o melhor atirador do regimento – gargalhou o Professor Ulisses.
E, por fim, a mensagem:
                - Pouco tempo depois, a tropa acabou para ele e nunca foi grande aluno…
Recebi a lição. O Professor Ulisses era assim.
Tenho saudades dele e recentemente comprei um livro seu.
Quero acreditar que ele é uma das minhas muitas inspirações e energias que me acompanham em cada coisa que faço.
Naquele dia, o Professor Ulisses ensinou-me que é importante sentirmo-nos bem connosco próprios.
Que a nossa intuição pode guiar-nos, mostrando-nos o caminho da felicidade, mas que o mundo que nos rodeia está cheio de imprevistos e que se estivermos bem preparados para as tempestades que possam surgir, mais facilmente chegaremos a porto seguro.
Dessa forma, seremos um marinheiro que soube guiar a sua embarcação e não um náufrago que conseguiu sobreviver.

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quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Muda aos cinco, acaba aos dez!

Curioso que, embora com um enorme relógio à nossa disposição no alto da igreja, as regras ditavam que os apaixonantes dérbis, diariamente realizados cá em baixo, no adro da igreja, mudassem aos cinco e acabassem aos dez!
É que naquele tempo, o tempo significava pouco para nós.
Tanto fazia que durassem pouco mais do que alguns minutos, como se prolongassem por toda a manhã, ou parte da tarde.
Normalmente, pela manhã, os dérbis eram mais espontâneos.
Um a um, aos poucos, íamos chegando ao adro da igreja, com os cabelos ainda molhados do banho matinal, alguns de nós com uma carcaça na mão.
O Carlos Alberto gostava de pão com manteiga e açúcar. Lembro-me que por essa altura descobri que pão com banana era, também, muito bom!
Porque o tempo não nos preocupava, ali ficávamos a conversar um pouco, em roda, ou sentados no murete do adro, cada um tentando fazer-se ouvir, falando mais alto do que os outros. A discussão, normalmente, tinha a ver com os jogos e com as prestações individuais do dia anterior.
Nem todos apareciam de manhãzinha cedo. Uns porque tinham de ajudar os pais, outros porque tinham escola de manhã, outros, ainda, porque dormiam até mais tarde.
Por isso, à tarde, os dérbis eram mais refinados. Normalmente eram programados de véspera e chegávamos mesmo a registar os resultados e respetivos marcadores dos golos.
O Carlos Leitão era o homem das estatísticas, uma espécie de Luís de Freitas Lobo de então.
À hora do jogo, ficava o adro, por vezes, repleto de gente a observar os miúdos a jogarem.
O pai do Carlos Jorge, sempre a fumar, era presença assídua, também ele responsável pela realização dos jogos, já que grande parte das vezes, a bola era do Carlos Jorge.
O adro da igreja era todo em pedra de calçada portuguesa, fatal destino para quem fosse rasteirado ou estivesse à baliza.
Coitado do Fenanoca, tantas vezes que ia à baliza do Sporting, quando o Carlos Jorge passava temporadas com a mãe, em Algés e coitado do Zé Manel, conhecido por Zé Maria. Recordo os joelhos sempre ensanguentados e as sandálias rebentadas, com a sola a torcer-se nas biqueiras, à frente, o que lhe dava ainda maior dificuldade ao andar, uma vez que tropeçava nelas, quando se enrolavam debaixo dos pés.
A melhor baliza, com medidas bem definidas, era a porta da igreja, resistente, por certo, tantos foram os golos que encaixou. Era a baliza mais desejada, dado que o chão, digamos a pequena área, era em pedra lisa, como que um pequeno tapete à entrada da igreja.
Era tão lisa que nós aproveitávamo-la para fazermos as derrapagens com as nossas bicicletas. Desta forma, as pedras estavam sempre polidas e eram o encanto dos guarda-redes.
No lado oposto, medíamos os passos a partir dos degraus do cruzeiro e colocávamos uma pedra solta, que delimitava o poste esquerdo.
Quando uma bola era chutada a meia altura, travavam-se quentes e vivas discussões sobre se tinha, ou não, sido golo. Questão de golpe de vista ou simples interesse de cada uma das equipas. Se o resultado era folgado para uma delas, não era importante, aceitava-se o golo do adversário e seguia o jogo, mas quando a luta estava renhida e o resultado taco a taco, dava azo a confusão. Nesses casos, valia, normalmente, o poder de persuasão dos capitães das equipas e era vulgar vermos o Tutas e o Carlos Leitão a discutirem.
Havia também uma questão de respeito e alguns eram merecedores de maior crédito do que outros.
Mas tudo se desenrolava dentro de regras previamente definidas.
Por exemplo, assim que terminávamos de comer a carcaça ou a peça de fruta, pela manhã, acordava-se no início do jogo, independentemente da hora.
A decisão passava, quase sempre, por um Sporting-Benfica ou Benfica-Sporting, dado que a ordem era irrelevante, uma vez que o recinto era o mesmo.
Do lado dos leões, o capitão era o Carlos Leitão, figura emblemática do grupo, maior do que todos nós e jogador de respeito no “relvado”.
Ainda hoje recordo uma canelada que me deu num momento de desespero, numa disputa de bola em que ficou no meio de três lampiões, entre os quais eu. Durante algum tempo, fiquei profundamente magoado com tal atitude. Não se tinha tratado de uma contingência do jogo, mas sim duma reação intempestiva sua. Logo a mim, que me considerava o seu melhor amigo. Ultrapassámos o assunto e continuámos a ir todos os dias juntos, na camioneta, para o liceu.
Os leões tinham o Carlos Jorge na baliza, o Toninho Barbeiro, o Fenanoca, o Estopa, o Carlos Alberto, o Fernando, irmão do Raúl, o Narciso, o Chigadiço e outros que já não recordo bem se eram do Sporting ou do Benfica…
Outros havia que jogavam de um lado ou doutro, consoante a necessidade de se completar esta ou aquela equipa.
Do lado do Benfica, o maior de todos os tempos, na minha opinião. O jogador que me fazia sonhar. Aquele que pegava na bola, fintava todos os adversários e marcava golos de todas as maneiras possíveis na baliza do Carlos Jorge, que muitas vezes ficava irritado, pegava na bola e ia embora, o maior de todos, o Tutas.
O Tutas era o capitão e com ele na equipa todos jogavam. Não esqueço que, não sendo dotado para o futebol, fiz sempre parte das equipas do Benfica, no adro da igreja.
Para além de mim, o Tó Manel, o Palinho Ratinho, o João Carlos, inicialmente, depois passou-se para os verdes, o Ferro Velho, Ferrelho p’rós amigos, o Quim, o Rui Paulo, o Russo e outros que eventualmente não me lembro.
No tempo em que o tempo não importava para nada, o resultado era o mais importante.
Quando não se realizavam os Sporting-Benfica, jogávamos com equipas mistas.
Nesses casos, o segredo era a escolha dos elementos, na tentativa de se criarem equipas equilibradas. Mas a paixão com que se encarava o jogo era diferente. Os mecanismos não eram os mesmos…
O adro da igreja transformava-se num Estádio da Luz ou num Estádio de Alvalade sempre que jogavam Benfica e Sporting, só interrompido, não pelo árbitro, mas algumas vezes pelo Padre Manuel, persona non grata, que chamava frequentemente a GNR para correr atrás de nós miúdos, que dávamos a vida por aqueles momentos saudáveis de alegria e de pura camaradagem.
Cartão vermelho para ele, ao fim destes anos todos e a certeza que aquele adro será para sempre recordado por todos aqueles que ali viveram então, pela festa dos golos marcados de encontro à porta da igreja e não pelas suas homilias.
O mesmo tempo que nada valia para nós, encarregar-se-á disso, enquanto o relógio da igreja continuará lá no alto, sem nunca ter sido importante para o resultado dos dérbis!

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terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Café com som e cheirinho

Há sons inconfundíveis. São como música para os nossos ouvidos e viajam connosco durante toda a nossa vida, nos nossos corações.
São tão reais, tão marcantes, que conseguimos imaginá-los ao final de anos e anos, sem se haverem repetido desde então.
Mais, em momentos ou ambientes perfeitamente distintos, vêm-nos à memória como se tivéssemos acabado de os escutar.

Aconteceu no domingo passado.
Passeava pelo Chiado com uma amiga e dei connosco no interior da loja Nespresso, ao virar da esquina da Rua do Carmo, com a Rua Garret, mesmo em frente à FNAC, ou melhor, defronte do velho Grandela e dos Armazéns do Chiado, no tempo em que cheirava bem, em que cheirava a Lisboa.
A entrada estava povoada de espanhóis e após algumas cerimónias normais de cedência de passagem, lá soltei um sorriso, dizendo:
   - Obrigado – e entrámos...
Olhei à volta e não gostei do que vi.
Esta coisa de ter tempo para pensar, recordar e refletir sobre uma quantidade de coisas que antes me passavam ao lado, tal era o carrossel desenfreado dos dias, hábitos consumistas e modas instigadas, criam-me o receio de estar a transformar-me, aos poucos, numa pessoa cada vez mais rezingona, inconsistentemente crítica e desagradável, por vezes.
Afinal, estava com a minha amiga e o momento era para nos sentirmos bem e usufruirmos do momento, num espaço requintado, ainda mais porque, no final, oferecer-nos-iam a degustação de um novo flavour, ou simplesmente um cafezinho a gosto.
Percebi, enquanto esperávamos pelo atendimento, que só tem direito a essa deferência quem efetuar uma compra. Fiquei, no entanto, no desconhecimento, se tal acontece mediante um valor mínimo de aquisição, tal a simpatia forçada e a dinâmica artificial colocadas em todo o processo, demonstradas nas palavras proferidas aquando da entrega da fatura:
   - Queira acompanhar-me, então…
Enquanto aguardávamos a nossa vez, ditada por um ecrã que debitava números de ordem e
respetivos balcões de atendimento, onde um elemento fardado nos esperava, olhei à minha volta.
Na entrada, ao cimo dos dois ou três degraus que mais não servem do que para complicar a entrada e saída da loja, está um recepcionista que dá as boas vindas e nos entrega a senha, pedindo para aguardarmos a nossa vez, arrumando-nos à sua esquerda, se possível um pouco mais atrás, a fim de facilitar o acesso ao balcão.
O espaço é bem decorado, podendo observar-se os ícones e registos da marca que dão a grife ao local. Todos os funcionários estão fardados e o repositor de stock calça luvas pretas, elásticas, para que o contacto com as embalagens das cápsulas seja o mais asséptico possível, valorizando assim o produto, como se de lingotes de ouro se tratasse. Coisas de marketing!...
O painel dos 22 Grands Crus, onde os distintos perfis aromáticos estão expostos, fica nas costas dos atendedores, que exibem as suas poses eretas e profissionais.
As desejadas cápsulas, bem arrumadas nas prateleiras, exibem-se majestosas aos olhos do consumidor, que saliva só de olhar.
Confesso que fico perdido e até impaciente ao olhar tanta variedade, preferindo concentrar-me apenas nas cores. Transportam-me para as minhas tintas e imagino aguarelas, guaches, acrílicos e óleos… Por momentos parece que estou na Casa Ferreira, ali perto, por sinal.
Tantos aromas e suas características confundem-me, chegando mesmo a perder a sincera vontade de beber café e ansiar desesperadamente pelo momento de zarpar dali para fora, poder entrar na Brasileira e pedir, de forma simples:
     - Dois cafés, por favor!... – assim, sem me preocupar com a intensidade, se é Expresso, Lungo ou Pure Origine… um café ou bica, como quiserem, como eu gosto e pronto!
Já para não falar do ruído em redor.
O típico ruído de pastelaria ou café, locais populares de culto, onde se bebe a bica sem canela, leite, baunilha ou colher de doce de frutos vermelhos no seu interior. Onde o som rápido e nervoso da colher, de encontro à chávena de loiça, nos embala até ao doce morrer da mesma, deitando-se sobre o pires.
E por falar em sons e café… que bom é lembrar a colher de sopa, que de forma lenta e cadenciada, raspava no fundo da cafeteira de alumínio e batia nas suas paredes, manuseada pelas mãos doces da minha mãe e da minha avó, ao fim da tarde, na cozinha, provocando um som rouco, abafado pelo café em pó que se colocava na boca da cafeteira e teimava em demorar a dissolver-se na água que fervia. Este café tinha um flavour que nem os 22 Grands Crus, nem qualquer outro que esteja ainda por inventar, conseguirão apurar.
O flavour do amor e da harmonia que envolvia uma simples reunião à volta da mesa, onde o som das conversas e das gargalhadas envolvidas pelo aroma a café me permitem, até hoje, reter o timbre das vozes…
Este café é que era bom. O seu flavour e som, únicos…
Tão cedo não volto àquela loja. Não me inspirou…
E agora, vou beber uma bica.

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segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Redução

Reduzidos a quê?
Como é possível?
Passarmos um pelo outro e não nos reconhecermos
Já nem sequer aquela sensação
De que não nos merecemos
Ou de que jamais nos esqueceremos…
E à máxima de que o tempo coloca tudo nos devidos lugares
Não damos qualquer razão
Porque os lugares conquistam-se
E o esquecimento não…

Reduzidos a quê?
Redondo comportamento
Que atraiçoa o que fomos
Mergulhando em mares profundos e cálidos de sentimento ou então
Boiando em piscinas plásticas de águas geladas
Sempre à tona para não nos esquecermos que continuamos vivos
Enquanto que ao nosso redor …nem uma só testemunha
De um passado morto
Nadando para nos salvar
Levando-nos a bom porto…

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quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

A magia do sete a seis de dezembro

Dizem que a vida se cumpre a cada ciclo de sete anos e que o que não muda, então, durará para a vida inteira.
É inevitável que, sempre que ouvimos tal afirmação, ou quando dela nos lembramos, de imediato fazemos contas e arriscamos intensas retrospetivas, na tentativa de reconhecermos a dita premonição nos diversos factos e episódios da nossa vida, decorridos até à data.
Com efeito, somos todos muito iguais e desejamos, por isso, acreditar em algo sobrenatural que nos guia, dando-nos um propósito de vida. Os mais resignados, porém, esperam que, a cada sete anos, aconteça algo de extraordinário nas suas vidas, na expectativa de que qualquer coisa mude, fingindo esquecerem-se que, para tal, deveriam ter agido ou reagido de alguma forma, num qualquer momento. É óbvio que, não o fazendo, arriscam-se a ver a vida passar-lhes à frente dos olhos, sem sequer um vislumbre de mudança.
Os sete anos que amanhã se cumprem falam de coisas diferentes e únicas.
A minha vida mudou há sete anos! A minha vida não mudou da noite para o dia, mas sim da luz para as trevas, as quais tive de enfrentar, a partir de então.
Ao longo dos últimos sete anos, muitas coisas boas aconteceram também, mas apenas quando um dia se cumprirem sete anos sobre cada uma delas, poderei afirmá-lo, com a certeza de não me ter enganado.
Nestes sete anos aprendi a caminhar sozinho, sem bússola ou mapa. Entristeci por diversas vezes, vacilei outras tantas, assustei-me em muitas ocasiões, ao mesmo tempo que aprendi a acreditar em mim, nas minhas intuições, fazendo jus ao legado que recebi e valorizei aqueles que me são queridos. Estreitei laços, desatei alguns, reforcei afetos, perdi alguns, também e o tempo dirá se e o quanto valeu a pena.
Há sete anos vivi o dia mais triste da minha vida e nesse dia julguei ter chegado o meu fim.
Sete anos passados, consegui dar a volta. Há vida para além de então, reconheço. Mas foi difícil, com intensos momentos de catarse que duram até hoje, embora mais tranquilos, mais ténues e doces, também.
Na verdade, cumpre-se amanhã um ciclo de sete anos e cumprido que será, posso afirmar que me sinto, de novo, a ganhar velocidade de cruzeiro.
A máxima confirma-se, depois da tempestade vem a bonança, embora jamais se saiba por quanto tempo (!?...)
No entanto, se é verdade que, por um lado, ao fim de sete anos, observo que a  vida está a mudar e teima em me mostrar um novo rumo, tendência para a qual eu não fui alheio e lutei a cada dia que me levantava, Deus sabe com que vontade, por outro lado, há coisas que não se alteraram e que, com a mais forte das convicções atiro, podem vir mais sete anos e mais sete e muitos mais múltiplos de sete, é-me perfeitamente igual, pois para isso não mexi nem mexerei uma palha. Quero que continue a ser sempre assim…
Como tenho saudades tuas, minha mamã!...

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quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Geometria aplicada

E agora?...
Foram-se as ideias…
Era esse o meu medo!...
Logo agora que está a chegar o Natal
Noutra época diria como é bom sentir-me assim…
Mas logo agora!?...
Sim, porque também é bom ter a noção do vazio que ocupamos em nós
Com tantas ideias, no entanto vai-se a ver e são nada…
E agora?...
Foram-se as ideias…
Era esse o meu medo!...
Logo agora que precisava tanto delas
Noutra época diria deixa lá, sente o vazio, outras ideias virão… tantas outras
Mas, logo agora!?...
Sim, porque também é bom perceber que elas não têm hora marcada…
Que podem ser tantas e não valerem para nada…
E agora
Foram-se as ideias…
Não, não tenho medo
Preciso de o sentir…
O vazio, calcular as suas medidas
Qual o seu perímetro, qual a área que ocupa, qual é o seu volume?...
Sim, porque o cérebro que o transporta tem forma
É é ele um cubo, ou é uma esfera, é um paralelepípedo?
E agora?
Foi-se a memória…
Estou com medo!
Agora que está a chegar o Natal, preciso dela
E a alma… e o peito!? Qual é o seu peso!? De que massa é feito?
E o Pai Natal, o que é que vai dizer?
Logo agora que está a chegar o Natal
Era esse o meu medo!...
Foram-se as ideias…
E agora?

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