sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Despertar

Às vezes não sinto os dedos de tanto escrever
Invento caligrafias como se a cada nova palavra descobrisse alguém que nunca li
A alma do poeta hoje acordou cedo e já sentida
Reflexo do sonho complexo da madrugada
Noites e noites de sonos vazios e sonhos ausentes
Despertares de angústia às mãos daqueles que manipulam a vida
E dela fazem ridículos espetáculos de pantomimas
A noite inspira o melhor e o pior de cada um…
Quando o sonho me visita, no escuro do meu quarto
Esboço expressões que nem eu conheço
Cada uma delas refletindo uma personagem desconhecida que atuará no dia seguinte
Sem guião e por isso sem saber qual o papel que lhe cabe…
A vida e os seus improvisos…
Por isso tento passar para a folha de papel
Os sinais que a madrugada deixou em mim, o que me confunde por vezes
Já que os sonhos não têm tempo
Às vezes não sinto os dedos de tanto escrever
Invento histórias que juraria ter vivido
E sonhos acabados de ter sonhado
Confundo a vida com os sonhos e com os sonos e fico esgotado
As caligrafias não têm a beleza de antes…
Mecanizaram-se e as palavras banalizaram-se e esconderam-se
Em dicionários amorfos que já ninguém folheia
Porque deixaram de ter significado(s)…
O tempo dos sonhos já lá vai…
Ficou o sono…
De vez em quando, o sonho dá sinal, pela madrugada
Aí, o poeta acorda, pega nas mãos, na caneta e na alma
E escreve, escreve, escreve tanto… até lhe doer nos dedos
A dor que lhe vai na alma, depois…
Depois, adormece e volta a tombar no sono vazio que o guiará até à morte

… /…

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