quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Naufrágio

Falar ao teu ouvido          
Tem qualquer coisa de magia…
Solta-se a língua que ensaia danças húmidas dentro da tua orelha
Enquanto o coração esgota a corda até pasmar…
Nessa tua orelha perco-me às voltas
Ao mesmo tempo que as minhas mãos viajam por ti
Descobrindo rotas de seda na tua pele
Provocando ondas de desejo que se espraiam
Na enseada improvisada que é o teu ventre…
Nessa praia quero descansar
Feliz por ter sobrevivido ao naufrágio provocado pela agitação do teu corpo salgado…
Quero encostar os meus lábios e beber das algas o iodo que me ajudará a resistir
À fúria desse teu mar interior
Tranquilizando a minha boca de inferno
Ardente como nunca…
Deitada de encontro a mim passar-me-ás então todos os códigos de navegação
Registados em manuais, mapas e cartas de navegação ainda por inventar…
Dar-me-ás a conhecer portos de abrigo
Onde eu, feito marinheiro sem navio, jurarei um dia ancorar
Contrariando toda a arte de marear
Inventando novas rotas, marés e criativas formas de atracar…
Juntos cruzaremos as profundezas dos mares e oceanos gelados
Águas calientes povoadas de tubarões ávidos por nos provarem o sangue
Cardumes de peixes esfomeados que nos perseguirão
À espera de serem convidados para a festa final
E assim se saciarem com o lastro da nossa loucura de amor
De volta ao teu ouvido é tempo de me escutares…
De esqueceres por momentos o medo que sempre tiveste do mar
E que insistes em não perder…
Vá lá, enche o teu peito de ar e mergulha
Abre os braços e rasga as ondas…
Deixa que a água entre em ti e a química da mistura dos elementos aconteça…
Quando isso acontecer é sinal que a minha língua há muito largou a dança na tua orelha…
Sem teres dado por isso estarei já todo dentro de ti
Afinal teremos sido feitos um para o outro e as tempestades dos mares do desejo
Foram sempre a nossa praia…

… /… 

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