- Então, até p’rá semana, aqui, à mesma hora!...
E era assim que funcionava, no tempo em que não existiam telemóveis, nesse
tempo em que o mais parecido e mais moderno que havia eram os walkie-talkies.
Todos os domingos, encontrávamo-nos por volta das 15h00, à porta do
velhinho Monumental, no Saldanha e ali esperávamos uns pelos outros. Só depois,
juntos, seguíamos o nosso destino que, na maior parte das vezes, passava pelas
matinées do Porão da Nau, na primeira rua à direita, quem desce a avenida
Fontes Pereira de Melo. Contudo, o destino podia ser o mais variado, muitas
vezes festas particulares, ou mesmo festas organizadas nos liceus.
Durante aqueles minutos de espera, conversávamos, ríamos, fumávamos um ou mais cigarros, cravávamos lume a quem passava.
O grupo era simpático, havendo sempre tempo para um abraço ou um
beijinho e se acontecesse magia nesse instante, era bastante provável que a
tarde fosse bem passada, na ansiosa espera das duas a três séries de slows com
que o disco-jóquei nos brindava.
Quando alguém se atrasava, das duas três, deixávamos recado na
bilheteira do cinema, agradecendo que, no caso de alguém perguntar por um grupo
assim, assim, pudesse informar a pessoa que sim senhor, estiveram à sua espera
e seguiram para tal parte.
Ou então, segunda hipótese, esperávamos todos, o maior tempo possível
e finalmente decidíamos, em conjunto, ir embora. Aqui, vinha ao de cima, a
crueldade, embora sem maldade, que inspirou o dito popular, quem está, está,
quem não está, estivesse… E lá íamos nós, armados em fortes, embora intranquilos com a decisão tomada. Claro que isto só acontecia quando a pessoa em
questão não fazia parte do núcleo duro do grupo.
Por último, a situação mais corrente. Passava por um de nós ficar à
espera, enquanto o grupo ia andando, à frente, em direcção ao destino. Logo nos
encontraríamos todos, mais tarde.
Por ali ficava então, a ler os cartazes de cartão, colocados nas pequenas vitrinas, no exterior do cinema, que mostravam cenas dos filmes em exibição no Monumental e no Satélite, assim como dos que entrariam em cartaz a seguir, ou brevemente.
Quando finalmente aparecia o elemento em falta, lá seguiam juntos ao
encontro dos outros.
Recordo que
a cada fim-de-semana, havia sempre um ou outro amigo, ou amiga de alguém que a nós se juntava e, assim, aumentávamos a nossa corrente de conhecimentos e
amizades.
Naquele
tempo não se pediam amizades, como hoje. Convivia-se, criavam-se laços e
éramos todos muito felizes…
Certo dia,
estava eu, o meu irmão, o Artur, o Fernando, o Paulo, o Miguel, a Lila, a Bé, a
Isabel, a Teresa, a Paula, a Mafalda e outros que não recordo, entre os quais
uma rapariga gira, à espera que uns e outros fossem chegando. Enquanto isso, a
conversa foi-se desenrolando. Nas nossas conversas reinava sempre um sentimento
de solidariedade para bem do grupo.
A formação
dos casais fazia-se previamente, para efeitos de facilitar a entrada na
discoteca, garantindo, à partida, o direito ao mesmo par, na hora dos slows.
Feita a
arrumação dos pares, consegui, não ingenuamente, ficar muito bem acompanhado,
com a amiga de alguém, a tal rapariga gira e assim fiquei convencido de que a
tarde prometia…
Conversa p’ra
aqui, conversa p’ra ali, todos os jogos de sedução a funcionarem de acordo com
a inspiração dos catorze anos e à pergunta colocada pela minha amiga Lila ao
meu par:
- Diz lá se
ele não é giro?
A outra
respondeu:
- Giro!?...
Não sei… Nem é giro, nem é feio, é esquisito – por momentos pensei que lá se ia
a tarde (!?...)
Aquele “esquisito”
caíu tão mal. Porquê esquisito!? Seria do bigode, que por aquela idade já exibia?
Ou seria do cabelo encaracolado que não satisfazia o sentido estético da rapariga!?... Nem sequer ainda tínhamos falado, logo não poderia tê-la decepcionado com o meu discurso ou qualquer atitude tomada!? Bom, na
verdade, podia não me achar bonito, mas, então não teria sido essa a sua
resposta (!?...) Ausência de química no primeiro contacto!?... Ah, isso seria o pior de tudo e comprometeria o resto da tarde,,,
Fiquei
completamente desapontado e inseguro durante algum tempo
Ao longo da
tarde, pudémos conversar e aquele “esquisito”, afinal, queria dizer diferente,
segundo a sua explicação. Disse-me também que quando me olhou pela primeira
vez, o meu olhar a tinha incomodado.
Dançámos os
slows por três vezes e, quando o dia terminou, despedimo-nos com um beijo,
seguido de um até p’rá semana e na semana seguinte, começámos a namorar.
Ainda hoje, ao final de quase trinta e cinco anos, dou comigo, por vezes, a recordar esse episódio e sorrio.
Ainda hoje, ao final de quase trinta e cinco anos, dou comigo, por vezes, a recordar esse episódio e sorrio.
Pelos vistos
gostou da diferença, pois namorámos algum tempo…
… /…
2 comentários:
Tão bonitos que era esses convívios com amigos. Quantas histórias a desfolharem no tempo, a marcar sorrisos cheios de ingenuidade.
Tão bonitos que eram esses convívios com amigos. Quantas histórias a desfolharem no tempo, a marcar sorrisos cheios de ingenuidade.
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