sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Dia de aniversário

Acordas manhã bem cedo
Que o dia, hoje, é de festa
Levantas-te e dás um salto
Já prontinho olhas-te ao espelho
Estás porreiro e até mais alto
O tempo não mete medo
Que essa história de mais velho
Já tem barbas e não presta

Passaram já uns bons anos
Desde que de ti fugiste
Convencido que és feliz
Mais ainda que és eterno
Não morreste por um triz
Vais fintando os desenganos
Estás mais jovem, mais moderno
Preso a tudo o que mentiste

Sentes-te único e galã
Pensas que és um sedutor
De saúde  tudo bem
Médico só de vez em quando
Pois percalços quem não os tem
Hoje não, vou amanhã
Deste modo vais andando
Passam os anos, que horror

Mas então, foi tua a escolha
Muitos anos se passaram
Tanto tempo sem memória
Sem lembrança de alguém
É passado, velha história
Vives hoje noutra bolha
Nela envelheces também
Porque as horas não pararam

Vá, não chegues atrasado
Que hoje vais sair mais cedo
A família e os amigos
Estão todos à tua espera
Mais importante, os teus filhos
Cansados de ti cansado
Um abraço quem lhes dera
É seu desejo em segredo

O que levas desta vida
Se o mais é só desapego?
Nesta luta desigual
Inimigos não te faltam
Desculpa, não foi por mal
Dão palmadas e em seguida
Atraiçoam e maltratam
É na escola, é no emprego

Ajudaste quem pudeste
Deste tudo o que tinhas
Que demais é sempre pouco
Vendeste a alma ao diabo
Trabalhando como um louco
Ganhaste e também perdeste
Para agora, ao fim e ao cabo
Teres algumas coisinhas

Ah, mas hoje o dia é de festa
Haja pois muita alegria
Nem que seja p’ra mostrar
Que a vida te corre bem
Não há nada a lamentar
E melhor vida do que esta
Que se acuse quem a tem
Não existe, quem diria

E assim logo à noitinha
Bem bebido e enfartado
Triste, vestes teu pijama
Sem esqueceres o teu chichi
Já no quarto vais p’ra cama
Boa vida, tão certinha
A que Deus te deu a ti
Tem um sono descansado!

Já no escuro do silêncio
Há revolta e ruído
Que não te deixam dormir
Ali ficas acordado
Com tanto por construir
Só que o medo é tão intenso
Que teu sonho é castrado
Sem ao menos ter nascido

Assim é com tanta gente
Que tem medo de sonhar
Entretida com o tempo
Não entende que a vida
Como que um sopro de vento
Dá-nos um corpo doente
Com memória já esquecida
Faz nosso sonho mirrar

Olha que ainda tens tempo
Se o medo quiseres vencer
Vive a vida em teu redor
Porque amor à volta tens
Esquece o medo e o pavor
Solta a alma e o sentimento
Hoje é festa, parabéns!
Tens a vida p’ra viver!

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