sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Caleidoscópio

Basta esperarmos cinco minutos
Assim, com os olhos bem fechados
E seremos felizes para sempre.
Caminharemos junto a um riacho
E saberemos o nome de todas as estrelas
Contaremos os ramos das árvores
E atiraremos pedras a perder de vista…

Ao abrirmos os olhos
Toda a miséria ter-se-á dissipado
E o riso dos meninos será da cor dos céus
As nuvens darão os bons dias às aves
E a chuva fará germinar na terra
Sementes de esperança
De um novo mundo por inventar…

Dois minutos e meio já lá vão
E dentro de outros dois e meio
Seremos felizes para sempre
Oiçamos, pois, Chopin, assim, sentados
Enquanto tocamos com as pontas dos dedos
Nos braços das cadeiras
Marcando compassos que nos entristecem…

Aqui, sentados no nosso terraço
Resta-nos já tão pouco tempo
Observamos a majestosidade do movimento das nuvens
Obrigando os nossos olhos a segui-las
Ao som de Chopin, com elas, arrastam-se todas as imagens
De um mundo belo e confuso, redondo e achatado
Caleidoscópio em tons de azul chamado Terra…

Esta Terra composta de água e terra
A terra que emana angústias, sonhos, alegrias, medos
E todas as injustiças advindas do terror dos homens
Que se evaporam nas nuvens em tons cinzentos
Devolvendo-nos sinais em forma de água pura
Condensação simples por entre rebombares barulhentos
Anunciadores de nova vida…

Sobra-nos agora meio minuto
Para sermos felizes para sempre
Estamos ainda a tempo de tudo
Dispamo-nos destas roupas
E abracemos as árvores
Mergulhemos de olhos fechados no riacho
Sustendo a respiração até voltarmos à superfície…

Ao abrirmos braços e olhos, respiraremos o céu
Nele não faltará nenhuma estrela
E rindo, voaremos com as aves
Ao mesmo tempo que brincaremos com os meninos
Que germinam na nova terra
As nuvens embaladas por Chopin, desaparecerão
E com elas todos os nossos piores pesadelos…

Esgotado o tempo, apanhamos a corrente de ar quente
Felizes por ainda podermos ser felizes para sempre
Há vida nova na Terra!
Chopin rasga os seus noturnos
Amanhece e o céu é cada vez mais azul
Abraçados, ouvimos as quatro estações de Vivaldi
Cinco minutos que foram por demais…

… /…

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