domingo, 13 de abril de 2014

Morte adiada

Não fora aquele dia
E talvez tivesse partido mais cedo
Como eu, outros a mim iguais …

Não fora aquele dia
E talvez não tivessem mais sorrido        
Como a minha, tantas outras mães…

Nossa mãe rezava à noite connosco
E juntos, pedíamos pelos nossos soldados em África
Pelos vivos e pelos que partiam…

Eram tantos os que não voltavam
E tantas as mães que por eles rezavam
Tantas as lágrimas que por eles caíam…

Durante a oração a nossa mãe olhava-nos
E triste imaginava-nos estendidos no campo de batalha
No final, juntos, fazíamos o sinal da cruz…

Quem sabe, um dia...
E a nossa mãe sonhava
Sonhava com um futuro bom, pedia ao Bom Jesus…

Que ainda pequeninos, há tão pouco acabados de nascer
Tinham já a morte ali à espera, os seus meninos…
Um barco num cais os levaria p’ra não mais os ver…

E um nó no peito que jamais se desataria
Um nó tão imperfeito
Não fora aquele dia…

… /…

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