quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Mistérios em Portalegre

Que bom que é poder viver
E ter histórias p’ra contar
Coisas novas p’ra saber
Bons amigos p’ra abraçar!

O dia ontem teve de tudo
Riso, angústia e também ansiedade
Daquilo que faz girar o mundo
Teve mesa e bebeu-se bom vinho
Muita saudade e muito carinho
Passeio à chuva, tanta beleza
Entre afectos e amor de verdade
Um plátano, meu Deus, que grandeza
Vários brindes, ondas à amizade!


Esta coisa da idade
Vai dando cabo do corpo
Só por causa da amizade
Não fui dado como morto (!?...)

Começaram o dia bem cedo
Foram muitas as dores que tiveram
Sem protesto e em completo segredo
Com passada tão frágil e manca
Fazendo pressão forte na anca
Já de noite, na volta, empenados
Uma tal milagrosa paragem
A fim de dois trocarem os lados
Ditou o enigma desta viagem!


Desde sempre ouvi dizer
Que o cão é o melhor amigo
Do homem, que quando em perigo
Logo diz: Vai tu, mulher (!?...)

Entre tintos, patês e amigos
Lá passaram radiantes o dia
Riscos inúmeros, tantos os perigos
Não tivesse passado um tal ciclista
Facilitando a fuga ao artista
Certamente que ainda estariam
À espera, ali no carro, trancados
Com medo de três cães que viriam
A revelar-se serem mimados!


Como é bela a amizade
Desta gente ai, ai, ai!...
Há lá maior verdade
Que a alegria daquele pai (!?...)

E entre buzinas, cães e assobios
Conseguiram o menino acordar
Entretanto chegaram os tios
Com ar grave e de cara fechada
Queixando-se da viagem marada
Marcada pelo enjoo do petiz
Que decidiu deitar carga ao mar
Mas que de imediato, logo lhes diz
- Ei “bué da fome”, quero almoçar!


Sinto-me embaciado
Não imagino porquê
Mesmo trocando de lado
Do meu lado não se vê (!?...)

Importa aqui também relatar
O porquê da razão deste enredo
A Marília estava a festejar
O seu aniversário e feliz
Em Portalegre a todos nos quis
Dia de romaria, pois foi
Partida do Montijo, bem cedo
Só que o adotado não viu um boi
Seu vidro embaciado, que medo!


Diz que mais vale um na mão

Do que ter dois a voar
Bolo de anos é que não
Melhor ter dois p'ra provar

Estava já toda a gente sentada

À espera dos seus pratos escolhidos
Quando a onda gigante, malvada
Começou de maneira dolente
Envolvendo depois toda a gente
Mas guardado p'ró fim estava o bolo
Quantidade a dobrar, ah pois, pois!
E eu que desta vez não fui tolo
Atirei-me a ambos os dois!


E por vezes a distância
Acentua o esquecimento
Relativo como o tempo
Alguém esquece a sua infância (!?...)

Depois da comezaina estiveram
Em casa da Marília e do Zé
Onde outra vez bom vinho beberam
Indo todos ao sótão parar
Gente houve a querer por lá pernoitar
Só o adotado disse que não
Puxando toda a malta p’ra rua
Abandonando assim o sótão
Era já noite, a ver-se p’la lua!


Amizades de criança
Santo e senha, pois então
Quanto mais o tempo avança
Bem mais importantes são!

Anafados, no carro, na volta
Pudera, atafulhados em roupa
Lembrou-se o adotado que solta
Aquilo que ninguém já esperava
Timidamente lá os convidava
A fim de prolongarem o dia
Mesmo que a fome fosse tão pouca
Após servida tanta iguaria
A comerem em sua casa uma sopa!


O mistério a desvendar
Ensombrou todo este dia
O vidro a se embaciar
Só de um lado acontecia (!?...)

E se não fora a escola segunda
Talvez tivessem todos ficado
Porque a vontade era profunda
De desvendar o enigma fatal
Assim, talvez p’ra lá do Natal
Possa saber-se o tal resultado
Que passa por se ter a razão
Pela qual só embacia o lado
Em que viaja o adotado João!?...


E não é que o embaciado
Em enigma se tornou
Atacando só o lado
Em que o adotado viajou (!?...)

Já de volta a caminho
Lá atrás tudo a falar
Eis senão, num bocadinho
Torna o vidro a embaciar (!?...)

Fica assim pois já lançado
Novo encontro p’ra saber
O porquê de só se ter
Um vidrinho embaciado (!?...)

Há p’ra mim uma razão
Chamo-lhe eu de amizade
Não é mais do qu’ a humidade
Suor do meu coração !


... /...




















Um comentário:

a_ciganita disse...

Está super lindo João. E fez-me rir, de novo. Os relatos - prosa e verso - falam de factos iguais. Também estavas lá? lol