quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Piratas fantasmas

Sou mesa de quatro pés
Revirada dentro da minha casa
Quando a noite cai
Desato num galope, em desatino
Ganho vida e não durmo…
Esta mesa onde eu como,
Onde escrevo e sinto que os dias passam,
Entre um pequeno-almoço e uma ceia que sabe a sono,
Onde, cansado, poiso os braços, encosto a cabeça
E costumava dormir tranquilo…
Hoje a minha casa foi povoada
Por fantasmas sem rosto, com mãos de látex
Olho para o teto e vejo o chão,
Virado que estou do avesso,
Eu feito mesa,
De pés colados ao teto…
A minha casa é um tanque de emoções esquisitas
Onde os objetos perderam o pé
Parecendo boiar juntamente com as imagens
De recordações tranquilas e doces…
Pouco a pouco, a água subitamente revolta,
Feita tempestade, intempérie que me confunde,
Indica que o meu refúgio é a minha casa
E que logo, logo, a bonança vai voltar…
Mesa, cama, roupa, loiças e teto
São os faróis referência
Que me guiam e ajudam a prosseguir a rota
Cujo destino é a minha casa,
Relicário inexpugnável,
Hoje, porto inseguro
Tomado por piratas fantasmas que desconheço…

... / ...

Nenhum comentário: