quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Mete-me nojo

Mete-me nojo quando ligo a televisão e deparo com a histeria levada ao extremo, apresentada nos programas das manhãs, apenas interrompida pelos intermináveis blocos de publicidade, que confundem as cabeças ainda perturbadas pelo vazio dos conteúdos televisivos.
Decido fazer um zapping rápido, na tentativa de encontrar um tema que me desperte a atenção.
Paro na TVI, que apresenta uma reportagem sobre um dos assuntos mais mediáticos da presente atualidade nacional, a morte estúpida dos seis estudantes, na praia do Meco.
Que nojo me mete a corja que governa o meu país.
Que nojo me mete quem comanda os braços analfabetizantes e fascistoides que atrofiam o meu país.
Metem-me nojo as vozes, falsamente doridas, que imprimem emoções aos programas de televisão, dividindo as mesmas, entre o choro sentido, provocado, e a gargalhada brejeira, gozadora e achincalhatória.
Metem-me nojo todos aqueles que, em determinada ocasião e beneficiando da feliz conjuntura profissional com que foram brindadas as suas vidas, puderam intervir e legislar, no sentido de nos terem proporcionado um modelo de sociedade melhor, mais justo e mais solidário e não o fizeram.
Metem-me nojo os que, ao longo dos anos de parasitismo político, puderam instigar programas de elasticidade intelectual, esquecendo, por uma vez, a febre do retorno imediato e adrenalinóide que as modas carregam, transformada na obsessão de sucesso cego, que se deseja mostrar ao mundo. Para não falar do poder que a fama e o dinheiro representam nos modelos de sociedades ditas modernas, cada vez mais perigosas e vazias.
Mete-me nojo o tempo perdido na procura dos vocábulos politicamente corretos, meticulosamente estudados, para serem proferidos em frente das câmaras, balanceados entre o efeito do discurso impactante e a consciência do vazio do conteúdo do mesmo, deixando todos num silêncio redutor, convencidos que muito mais haveria para dizer, não fosse a urgência de se avançar para mais um bloco de publicidade.
Mete-me nojo o amontoado de processos sujos e injustiças que se vão acumulando nas barras dos tribunais. O dinheiro e tempo gastos nas edições das parangonas diárias, como se, apenas por isso, fosse obrigatório reconhecer-se e valorizar-se todos aqueles que intervêm na abordagem das situações e que, à partida, já sabem que quanto mais mexem na porcaria, mais ela cheira mal.
Mete-me nojo que ninguém se preocupe com as dúvidas, mágoas e angústias, que se vão acumulando no supremo tribunal da nossa existência, a nossa consciência.
Enquanto crianças, falam-nos de um mundo belo, afastam-nos da realidade dura e empurram-nos para a ficção.
Falam-nos do sucesso como se da Pedra Filosofal se tratasse, não só permitindo-nos obter o elixir da longa vida, como a felicidade também, sem, para isso, ser necessário dar algo em troca.
Atiram-nos com a obrigatoriedade de cumprirmos com os deveres de cidadão, impostos por gente que aprova leis injustas e obsoletas, se possível sem as questionarmos, ou tão-somente nos questionarmos a quem elas servem, como se essa fosse a única forma e a mais garantida para nos sentirmos ressarcidos e com isso podermos ser felizes.
Ensinam-nos a ser líderes. Dizem-nos que o importante é vencer, vencer, vencer e não nos avisam que a derrota também existe. Quantos mais olhos em cima de nós, melhor, porque para os derrotados, não faltarão dedos acusadores, inquisidores, os mesmos dedos que fazem parte da mão, cuja tarefa mais nobre que pode exercer é a de ajudar a reerguer. Por vezes resumem o nosso papel à máxima que diz que a vida é curta e que o mais importante é safarmo-nos enquanto nela cá andarmos…
Esquecem-se afinal de nos educar, ou fazem por se esquecer de nos ajudarem a transformarmo-nos em pessoas melhores, verdadeiros seres humanos.
Embrulham, muito bem embrulhados, os valores essenciais, como o são, a liberdade, a solidariedade, a justiça e o respeito pelo próximo, colocando-os numa vitrina, onde são expostos de uma forma inacessível, mas à vista de todos, utilizando-os, sempre que necessários, em rituais manipuladores, que vão dos discursos redondos de conjuntura, às lágrimas secas, amorfas, mas em quantidade razoável, sempre que de verdadeiras tragédias se trata.
Assim está a acontecer com a tragédia do Meco.
Que as praxes são estúpidas, todos nós sabemos. Que os meninos e as meninas que se entretêm com elas são estúpidos, também já se sabe, o que importa é que se previna enquanto é tempo. Que estes meninos não se tornem em gente perigosa que, mais dia, menos dia, encabeçará o board de uma empresa ou governo deste país.
E nesta cultura estupidificante, ninguém se preocupa verdadeiramente com a angústia profundamente marcada nas expressões dos rostos daquelas mães, cujas vidas, tais como as dos seus filhos, foram interrompidas por uma onda grandiosa e assassina que, além da força da água, transportava a força da injustiça em que vivemos neste nosso país, também ele praxado pelos seus iguais. Oh, país este em que a educação, a cultura e a justiça são constantemente adiadas.
Aquelas mães carregam neste momento a maior das dores que alguém pode transportar. E irão carregá-la sozinhas durante o resto das suas vidas porque, em breve, os tribunais colocarão este processo no monte dos processos ad aeternum, junto do processo de Camarate, do processo da Casa Pia, do processo do BPN, do processo de Entre-os-Rios, do processo do desaparecimento do Rui Pedro, já lá vão tantos anos e tantos outros que não tiveram sequer direito a tempo de antena, porque, vá-se lá saber porquê, não justificavam o share das audiências.
Mesmo a televisão, em breve, deixará de falar no assunto, interrompida que será por um necessário bloco de publicidade que viabilizará uma qualquer Casa dos Segredos.
Afinal, há tantas outras coisas que indignam verdadeiramente os portugueses…

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terça-feira, 28 de janeiro de 2014

O Sr. Gouveia

Nos anos que trago de atividade profissional na indústria farmacêutica, muitos foram as histórias e os momentos vividos com colegas e amigos de todos os lugares de Portugal.
Para sempre, no coração, ficou a passagem que fiz pela Madeira, durante três anos, aonde me deslocava três a quatro vezes ao ano, por períodos de duas semanas.
O tempo ali passado era reconfortante.
Ficava hospedado no Hotel Madeira, bem no centro do Funchal, o que permitia deslocar-me a pé pela cidade, sem preocupações de maior, provocadas pela dificuldade de estacionamento ou custos de parqueamento. Além do mais, a mais-valia de poder praticar exercício físico entusiasmava-me, tal o número de caminhadas, para trás e para diante, ao longo do dia.
O ar quente e húmido, por vezes sufocante e provocador de constante transpiração que nos cobria o corpo, como se de uma película se tratasse, ajudava, no entanto, à manutenção do peso e boa forma. Senti-lo na pele, redimia-me relativamente aos excessos cometidos na véspera, derivados da riqueza e tempêros gastronómicos da ilha.
As refeições, ao final do dia, mais do que simples jantares entre colegas de trabalho, eram autênticas tertúlias de amigos, entre os quais, por vezes, se criavam verdadeiros laços, quase familiares. Assim aconteceu com os meus amigos Celso Ferreira, de Coimbra, tal como com a Cláudia Barata, assim foi com o João Costa, com o Filipe Saião, com o Celso Ferraz, entre outros, que me deixaram na memória a nostalgia que gosto de sentir de cada vez que me lembro ou falo deles.
A Madeira será sempre para mim sinónimo de bem-estar, terra onde fiz, também, amizades . Para todas elas o meu abraço sentido! Para ti, Sofia, para todo o pessoal do Hotel Madeira; Helmano e Manel, as vossas ponchas são as melhores do mundo e para si, Sr. Gouveia, um abraço especial, a quem dedico a crónica de hoje.
Nas inúmeras andanças pela ilha, deslocava-me no táxi do Sr. Gouveia, habitualmente com o Celso Ferreira, dividindo entre os dois a despesa do mesmo, no final da semana.
O Sr. Gouveia, madeirense de gema, há quase trinta anos que trabalhava praticamente em exclusividade com a informação médica, trocando assim a azáfama diária do pega e larga passageiros no Funchal e arredores, por agradáveis passeios por toda a ilha, levando-nos a nós, delegados de informação médica, aos locais certos, às horas certas, onde estariam os médicos para nos receberem.
O Sr. Gouveia era assim como que uma espécie de colega residente, orientando o nosso trabalho, uma vez que as nossas viagens à Madeira aconteciam de tempo a tempo e nos intervalos, era necessário controlar as marcações agendadas, uma vez que a realidade do terreno alterava-se constantemente. Novos consultórios, novos horários de atendimento, obrigatoriedade de marcações, novos médicos, uns que deixavam a ilha, outros que, simplesmente, atingiam a idade da reforma… O Sr. Gouveia sabia tudo e geria as agendas de todos os que viajavam no seu táxi.
Ora, no meio de tantas horas passadas juntos, dentro do táxi e à mesa do restaurante, prática diária que fazia parte do planeamento diário, com roteiros previamente definidos, existem muitas histórias para contar. São histórias que não quero nunca esquecer, porque são verdadeiros testemunhos da minha existência, prova de que a amizade e as relações estabelecidas entre as pessoas geram riqueza que trazemos para sempre connosco e que, também elas, fazem parte do legado que deixamos à nossa volta, à disposição de quem se interesse por elas. Este património faz-me sentir mais rico e, por isso, vou registando-o em papel, para que não se perca, não vá dar-se o caso de um dia destes já não ser capaz de o relatar, ou sequer lembrar.
Nas duas semanas passadas na ilha, uma era dedicada ao trabalho desenvolvido no Funchal e a outra ocupada com o trabalho realizado no resto da ilha. Normalmente, eu e o Celso iniciávamos a estadia no Funchal e, na segunda semana, andávamos pela ilha. Desta forma, caso a primeira semana tivesse corrido menos bem, devido à ausência de alguns clientes e isso era frequente, havia sempre a possibilidade de tentarmos apanhar essas pessoas em falta, ao fim do dia, aquando do regresso ao Funchal, após a volta pela ilha.
De segunda a sexta-feira, o Sr. Gouveia apanhava-nos, manhã cedo, no Hotel Madeira, onde eu e o Celso Ferreira estávamos hospedados. Cada dia era dedicado a uma volta, chamávamos assim; a volta de Santana, a volta de Porto Moniz, a volta de Câmara de Lobos, conhecida pela meia volta, a volta da Calheta e a do Machico.
Esta última, se corresse bem, permitia amoçarmos descansados, num restaurante perto do aeroporto, entre Sta. Cruz e o Machico, uma vez que só mais para a tarde tínhamos novos compromissos.
Aqueles almoços eram muito agradáveis.
A prática habitual indicava que o almoço do Sr. Gouveia era suportado pelos dois delegados. No final da refeição, a despesa do Sr. Gouveia era diluída pelas duas facturas e paga por cada um dos laboratórios. Assim era.
Verdade e curioso que o Sr. Gouveia fazia questão de nunca pedir nada:
- O que os senhores comerem é o que eu como – dizia constantemente.
Naquele dia, com efeito, a manhã de trabalho decorreu tranquilamente e com tempo de nos sentarmos à mesa e desfrutarmos duma boa carne, um bom vinho, com vista para o aeroporto e para o mar.
Estava um dia de sol, quente e o olhar pousado no horizonte, levou-nos bem longe, fazendo-nos sentir o quão distante estávamos da família e apurando, assim, o sentimento da saudade ao final de mais uma semana, com a perspectiva de mais outra pela frente.
Poderá o leitor achar ridículo este sentir, que facilmente leva a pensar que a oportunidade de se trabalhar na Madeira, estar hospedado, comer bem e ainda por cima partilhar a amizade e o salutar convívio com amigos, por si só, é uma dádiva (!?...)
Importa referir que quando vivemos as nossas realidades não é como quando as observamos nos outros, à distância.
As rotinas instalam-se e aquelas pessoas que ali estão, felizes e sortudas, ao olhar de tantas outras, vivem as suas realidades; conflitos familiares, separações, filhos pequenos dos quais ficam privados da sua convivência diária, a ausência de um simples beijo de boa noite, familiares adoentados, entre dezenas de situações que ajudam a entristecer.
Naquele dia assim foi. A conversa foi deprimindo e deprimindo-nos também. Eu e o Celso acabámos por partilhar alguns sentimentos relativamente ao ambiente familiar de cada um.
Imbuídos no mesmo espírito e entusiasmados com a conversa sentida, não demos conta que o Sr. Gouveia, com a mão a segurar a cabeça, fazia contas à vida, como quem diz, tinha adormecido.
Foi o Celso que me chamou a atenção para o sucedido.
Sorrimos, deitámos um olhar ao copo vazio do Sr. Gouveia e concordámos, num piscar de olhos cúmplice que, mais do que a conversa, tinha sido ele o grande responsável pela sua sonolência pós-prandial.
Voltámos à conversa, que a dada altura se centrava na relação que cada um de nós tinha com os seus irmãos e a própria intensidade dessas ligações.
De vez em quando éramos interrompidos pelos motores dos aviões em aceleração na placa do aeroporto, mesmo ali ao lado.
De repente, um barulho muito forte fez estremecer a nossa mesa!?...
Olhámos para o lado e vimos o Sr. Gouveia, de olhos bem abertos, com o ar de quem acordou, ou estar a chegar das profundezas do inferno!...
Sim, tinha sido ele o responsável pelo enorme estrondo capaz de abafar a aspiração de um qualquer A330, na pista…
O Sr. Gouveia tinha acabado de dar um forte murro no tampo da mesa, o que levou o Celso a dar um salto e dizer alto:
- Eh lá, homem!...
E o Sr. Gouveia, com os olhos semicerrados, vociferou no seu português mais fechado, como nunca o tínhamos ouvido:
- Sê Joêo… ê cá agora quero aqui dezer uma côsa – fez uma pausa – lá em casa sermos cinque irmões… - abriu os dedos da mão esquerda e mostrou-nos bem de perto – CINQUE!! – disse mais alto – sermos mûinto amêgos, mas nã nos falemos!...
Dito isto, voltou ao seu descanso pós-prandial.
Assim mesmo, como refere o ditado, “chegou e disse, tirou o chapéu e foi-se”.
Eu e o Celso, ficámos sem palavras. Pedimos a conta, pagámos e voltámos ao trabalho.
Desta forma, fiquei com uma história para contar durante toda a minha vida.
Tenho saudades do Sr. Gouveia e daqui lhe envio um abraço.

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Incertezas

Diz-me quanto tempo ao certo
Esperaremos
Até um dia destes nos amarmos
Diz-me quanto tempo ao certo
Necessitamos
Para o nosso sonho acalentarmos
Diz-me quanto tempo ao certo
Acreditamos
Ser o necessário esperarmos                                   
Diz-me quanto tempo ao certo
Cremos
Deva ser a espera sem desesperarmos
Diz-me quanto tempo ao certo
Atrasaremos
Com o medo de nos precipitarmos
Diz-me quanto tempo ao certo
Adiamos
A ousadia de nos tocarmos
Diz-me quanto tempo ao certo
Aguentamos
Até um dia juntos caminharmos

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segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Um amor esquisito

- Então, até p’rá semana, aqui, à mesma hora!...
E era assim que funcionava, no tempo em que não existiam telemóveis, nesse tempo em que o mais parecido e mais moderno que havia eram os walkie-talkies.
Todos os domingos, encontrávamo-nos por volta das 15h00, à porta do velhinho Monumental, no Saldanha e ali esperávamos uns pelos outros. Só depois, juntos, seguíamos o nosso destino que, na maior parte das vezes, passava pelas matinées do Porão da Nau, na primeira rua à direita, quem desce a avenida Fontes Pereira de Melo. Contudo, o destino podia ser o mais variado, muitas vezes festas particulares, ou mesmo festas organizadas nos liceus.
Durante aqueles minutos de espera, conversávamos, ríamos, fumávamos um ou mais cigarros, cravávamos lume a quem passava.
O grupo era simpático, havendo sempre tempo para um abraço ou um beijinho e se acontecesse magia nesse instante, era bastante provável que a tarde fosse bem passada, na ansiosa espera das duas a três séries de slows com que o disco-jóquei nos brindava.
Quando alguém se atrasava, das duas três, deixávamos recado na bilheteira do cinema, agradecendo que, no caso de alguém perguntar por um grupo assim, assim, pudesse informar a pessoa que sim senhor, estiveram à sua espera e seguiram para tal parte.
Ou então, segunda hipótese, esperávamos todos, o maior tempo possível e finalmente decidíamos, em conjunto, ir embora. Aqui, vinha ao de cima, a crueldade, embora sem maldade, que inspirou o dito popular, quem está, está, quem não está, estivesse… E lá íamos nós, armados em fortes, embora intranquilos com a decisão tomada. Claro que isto só acontecia quando a pessoa em questão não fazia parte do núcleo duro do grupo.
Por último, a situação mais corrente. Passava por um de nós ficar à espera, enquanto o grupo ia andando, à frente, em direcção ao destino. Logo nos encontraríamos todos, mais tarde.
Por ali ficava então, a ler os cartazes de cartão, colocados nas pequenas vitrinas, no exterior do cinema, que mostravam cenas dos filmes em exibição no Monumental e no Satélite, assim como dos que entrariam em cartaz a seguir, ou brevemente.
Quando finalmente aparecia o elemento em falta, lá seguiam juntos ao encontro dos outros.
Recordo que a cada fim-de-semana, havia sempre um ou outro amigo, ou amiga de alguém que a nós se juntava e, assim, aumentávamos a nossa corrente de conhecimentos e amizades.
Naquele tempo não se pediam amizades, como hoje. Convivia-se, criavam-se laços e éramos todos muito felizes…
Certo dia, estava eu, o meu irmão, o Artur, o Fernando, o Paulo, o Miguel, a Lila, a Bé, a Isabel, a Teresa, a Paula, a Mafalda e outros que não recordo, entre os quais uma rapariga gira, à espera que uns e outros fossem chegando. Enquanto isso, a conversa foi-se desenrolando. Nas nossas conversas reinava sempre um sentimento de solidariedade para bem do grupo.
A formação dos casais fazia-se previamente, para efeitos de facilitar a entrada na discoteca, garantindo, à partida, o direito ao mesmo par, na hora dos slows.
Feita a arrumação dos pares, consegui, não ingenuamente, ficar muito bem acompanhado, com a amiga de alguém, a tal rapariga gira e assim fiquei convencido de que a tarde prometia…
Conversa p’ra aqui, conversa p’ra ali, todos os jogos de sedução a funcionarem de acordo com a inspiração dos catorze anos e à pergunta colocada pela minha amiga Lila ao meu par:
- Diz lá se ele não é giro?
A outra respondeu:
- Giro!?... Não sei… Nem é giro, nem é feio, é esquisito – por momentos pensei que lá se ia a tarde (!?...)
Aquele “esquisito” caíu tão mal. Porquê esquisito!? Seria do bigode, que por aquela idade já exibia? Ou seria do cabelo encaracolado que não satisfazia o sentido estético da rapariga!?... Nem sequer ainda tínhamos falado, logo não poderia tê-la decepcionado com o meu discurso ou qualquer atitude tomada!? Bom, na verdade, podia não me achar bonito, mas, então não teria sido essa a sua resposta (!?...) Ausência de química no primeiro contacto!?... Ah, isso seria o pior de tudo e comprometeria o resto da tarde,,,
Fiquei completamente desapontado e inseguro durante algum tempo
Ao longo da tarde, pudémos conversar e aquele “esquisito”, afinal, queria dizer diferente, segundo a sua explicação. Disse-me também que quando me olhou pela primeira vez, o meu olhar a tinha incomodado.
Dançámos os slows por três vezes e, quando o dia terminou, despedimo-nos com um beijo, seguido de um até p’rá semana e na semana seguinte, começámos a namorar.
Ainda hoje, ao final de quase trinta e cinco anos, dou comigo,  por vezes, a recordar esse episódio e sorrio.
Pelos vistos gostou da diferença, pois namorámos algum tempo…

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sábado, 25 de janeiro de 2014

Mentira

Não, os olhos não mentem
O arrepio que a pele experimenta
Ao passar-te a mão pelo cabelo
É como se acariciasse cada ano da tua vida
Que estiveste longe de mim
Sem nos termos no entanto perdido um do outro
Também eu fui feliz nesse tempo
Corri mundo construí e destruí sonhos
Mas vivi e soube o que é a partilha
Hoje vivo numa ilha
Rodeada de um mar que tem a cor dos teus olhos
O teu cabelo é a areia onde me espraio
E a tua pele se arrepiada
Ensina-me que nada, mesmo nada
Vale a mentira da distância
Na qual em algum momento navegámos na vida

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sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Bom dia

Abro a janela do meu sotão
Sinto o ar fresco a tocar-me a face
Dou-lhe os bons dias
Só depois o convido a entrar…
Então, como quem o desejo adia
Sopra-me, escapa-se e gira
Gira, gira e rodopia…
Num misto de recusa e rebeldia
De encontro às paredes e teto…

Por fim ao assunto vai direto…
Desce pelo esconso dos fundos
Aninha-se na minha cama
Tapado, para não se constipar
E como gente que se ama
Tranquilo, deixa-se assim estar
Depois de resolvido o assunto
Abraça-me, toma duche junto
Vai embora e deixa-me a sonhar…

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quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Mel

Poder escrever um livro no teu corpo
Seria para mim um bom castigo
Sentir-me-ia eu vivo embora morto
Revivendo um amor jamais cumprido

Com a pena a passear na tua pele
Rascunhando momentos que sonhámos
Dando-nos a esquecer o travo a fel
Deixado pelas guerras que travámos

E se a tinta entornada no teu peito
Tal qual pintura feita mar de luz
Talvez pudesse a vida renascer

Na tua boca transformada em leito
De novo e outra vez fazendo jus
Ao beijo que acabámos por perder

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quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Amor Retro

Vá lá, não tenhas medo…
Tira de cima toda a carga que transportas,
Liberta as mãos e vem abraçar o meu coração…
Sacode os medos e os receios
Como quem limpa os pratos no final da refeição
Depois, lava a alma a uma elevada temperatura
Ah… não te esqueças de deixar escorrer bem…
Assim seca melhor e depois de limpa fica a brilhar
Agora sobe…
Procura-me no teu sotão fechado
Não tenhas medo do pó
Abre a janela e sacode-o…
Traz-me para baixo e usa-me, reinventa-me
Dá-me uma qualquer utilidade
Quero ajudar-te…
Sobretudo acredita em mim
Há ainda tanto para vivermos
E as peças autênticas nunca passam de moda...

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terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Silêncio

Há pouco falei com o silêncio
E falando, quebrámos o ruído do vazio
Primeiro foi ele quem ouviu o que eu tinha para calar…
Pouca coisa…
Quase nada…
Depois, fui eu quem o escutou

Falou comigo, baixinho…

Ah… sempre que oiço o seu ruído
Que me fala suave ao ouvido
Fico completamente rendido

Impressionante a sua calma,
Quão sábio o seu calar…
Schiu, oiçam como é belo o seu murmurar!

Há pouco, já tarde, ouvi o silêncio
Aqui e ali interrompido pelo meu respirar
Foram tantos e tão profundos suspiros
Que dei comigo a pensar
Como pode um tão silencioso ruído
O silêncio perturbar!?...

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segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Naquele dia...

Obrigado Coronel Carreira, obrigado Capitão Sousa Machado, obrigado Sr. Fialho, obrigado Dna. Dália!
Naquele dia, faz hoje vinte e sete anos, não houve tropa para mim…
Motivo, dia de ser pai… O bebé, uma menina…
Como já programado, naquela quarta-feira, pelas 09h00, a mãe deu entrada no nº 81 da Rua Marques da Silva, à Almirante Reis.
Estava um dia encoberto, mas pouco importava, fechados que estávamos naquele quarto, num dos pisos superiores do edifício.
O sol haveria de nascer mais cedo, ou mais tarde.
Aliás, o Dr. Pedro Montargil, naquele dia, foi o responsável pelo nascer do sol, o que aconteceu já tarde, pelas 21h30.
Nunca um dia teve tantas horas.
Habituado que estava a fazer serviços nocturnos de sentinela, pensei que seria fácil a espera, mas não, aquele plantão parecia interminável.
Assim que deu entrada no quarto, a mãe foi logo colocada a soro, na tentativa de lhe provocarem o parto.
As horas sucederam-se e as revistas, compradas no quiosque da Almirante Reis, foram todas lidas, pela mãe, mais do que uma vez…
As futuras avós não arredaram pé e foram companheiras solidárias, a tempo inteiro.
O pai sabia ao que estava, mas naquele dia, sentiu-se mais homem, porque o que engrandece os homens são as emoções. Vivê-las é bem mais nobre do que contê-las…
Ao longo do dia, foram aparecendo todos, tios, prima, amigos, à espera do desenrolar dos acontecimentos e… as horas passavam sem que houvesse novidades.
O pai, cada vez mais nervoso e a mãe, no leito da espera, cada vez mais actualizada, fruto da leitura mediática.
Num dos momentos de descida à porta principal, para fumar um cigarro (naquela altura eu ainda fumava), dei conta da existência de duas lâmpadas, na sala da entrada do edifício, uma azul e outra cor-de-rosa… Foi-me explicado que aquele era o local onde os familiares e amigos esperavam as boas-novas. No caso de ser uma menina, acender-se-ia a lâmpada cor-de-rosa, no caso de ser menino, a azul.
Nada que enganar, ali estava a lâmpada cor-de-rosa, que veríamos acender, iluminando-nos os corações e dando as boas-vindas à nossa bebé. Só que não havia meio…
As visitas do Dr. Pedro Montargil ao quarto onde a mãe esperava, na sua calma aparente, sucediam-se e o cenário da realização de uma cesariana, foi ganhando corpo.
A hora a que deveria acontecer, foi decidida. Por volta das 21h00 dariam início à cesariana…
A tarde foi passando e a ansiedade aumentando.
Os amigos e alguns familiares não aguentaram a espera e optaram por ir jantar à Portugália.
Ficámos nós, o pai e as duas avós, ali, na sala de entrada, à espera que a mãe desse à luz, na sala de partos e que essa energia tomasse cor na lâmpada cor-de-rosa, por cima do balcão da recepção.
Nessa altura, eu não só fumava, como também roía as unhas…
A avó Augusta, sofria calada, alternando o olhar, ora pousado em mim, ora pousado na avó Teresa.
A avó Teresa, por sua vez, com as mãos entrelaçadas, rezava uma Avé Maria, daquelas cheias de emoção, como só ela sabia rezar e que me enchiam de força.
Eu não tirava os olhos da lâmpada cor-de-rosa que teimava em não acender.
Há momentos que não se esquecem e aquele perdurará na minha memória para todo o sempre.
Aqueles minutos de espera, começaram a mudar o resto da minha vida.
Naquele espaço de tempo,que mediou o início do trabalho de parto até ao nascer do sol, percebi o que seria um amor para toda a vida. Percebi também que ali, ao meu lado, estava a pessoa que tinha selado o mesmo contrato comigo, vinte e um anos atrás, a minha mãe.
Enquanto todos jantavam na Portugália, ali estávamos nós, bastante cúmplices e partilhando cada segundo.
A Dna. Augusta, a sofrer pela filha, a mãe da bebé. A alegria de poder ser avó pela primeira vez…
O tempo arrastava-se e ainda hoje, quando recordo, revejo imagens em câmara lenta…
Quando a luz se acendeu, quase que consegui ver o filamento da lâmpada a tornar-se encandescente, aos poucos. A cor-de-rosa iluminou-nos…
O pulo, seguido do abraço a três, foi sincero e revelador.
Naquele momento, éramos as pessoas mais felizes do mundo!
Riso e lágrimas e um nó enorme na garganta, recordo que foi assim.
De repente, a imagem, muda, surda, em câmara lenta, foi interrompida pelo grito da minha mãe, que nos trouxe à realidade e à rotação certa do filme:
- É uma menina! – o que já todos esperávamos…
Mais risos, choros, beijos e abraços.
E a minha mãe, outra vez:
- Olhem, agora é azul! É um menino! – como possível se as ecografias… (!?...)
Leves segundos e gritei eu:
- São dois! São gémeos!...
E abraçámo-nos mais, como quem abraça todas as crianças do mundo.
Afinal foi engano, foi só uma, mas que valeu por todas…
Faz hoje vinte e sete anos que nasceu o amor da minha vida. O meu amor…
Naquele dia não fui à tropa. O dia foi de paz e ainda antes de regressar a casa, por breves momentos, pude abraçar a mãe.
Nesse dia, recordo, passei a noite estendido ao lado da minha mãe, a conversarmos, tal era a excitação e alegria de ambos…
Bem-vinda Catarina!...

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sábado, 18 de janeiro de 2014

Feng shui

Entram p’la porta saem p’la janela
Assim é desde que mudei a cama
Deitado nos lençóis sinto a flanela
Passerelle de tanta gente que me ama

Sonho com quem não vejo há muito tempo
Que sentir-me amado um dia me fez
E se acordado só por um momento
Fecho os olhos, lá vou eu outra vez

Nela desfilam amores e desamores
Uns e outros me fazem sentir bem
Aqui nestes lençóis cheios de cores

Revejo a minha vida em cada imagem
Recordo-os a todos mais de cem
E gosto de fazer esta viagem…

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sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Libertação

Este foi o primeiro poema que escrevi. 
Foi em 1978, com a idade de 13 anos...
Foi-me pedida uma redação "Tema livre" e saiu isto.

Tlim, tlão…
O sino soou
Pelo ar, várias folhas carregadas de lágrimas
Uma morte…
Na pequena casa mortuária
Escondida por entre os fetos
Um corpo dorme descansado
Envolvido pelo lençol
Quem é o viajante?
Um homem…
Sim, apenas um homem…
Um homem que nasceu…
Um homem que cresceu…
Um homem que lutou pela pátria…
Um homem que sofreu…
Um homem que morreu…
A família coitada chora
Chora de dor e de pena
Um dos seus queridos abandonou-a
Foi viajar…
Viver uma vida nova
Viver numa vida mais pura…
Para quê lágrimas?
Talvez ele esteja feliz…
Feliz pela sua viagem…
Feliz pela sua sorte…
Feliz pela sua libertação

Tlim, tlão…

… /…

Calendário

Quando dermos conta
Um destes dias terão já passado anos
E o amanhã que era hoje
O hoje que era ontem
e o ontem que era…
sei lá…
Já não farão parte do nosso calendário
Folha a folha terão desaparecido atrás de uma qualquer porta
E o que é que isso interessa
Se não te vais lembrar de mim?
E no entanto guardarei em mim momentos
e pedaços de ti…
Que nem tu acreditarás que foram teus
Mas também eu estarei confuso
Também eu não saberei porque os guardei
e a memória de ti onde foi que ela se perdeu?
Orienta-me por favor!...
Diz-me como era o sol quando brilhava…
Quando a tua sombra se projetava em mim e me iluminava
Diz-me qual era a cor do teu olhar quando me olhavas
E juntos nos embebedávamos
Um do outro e num açoite
Amávamo-nos toda a noite
Diz-me a verdade, não te doía
Eras tu quem pedia…
Não me lembro meu amor
Se era de noite ou se era de dia
Dizias-me que era poesia…
Que era poesia, só poesia…
Não sabia se era de noite ou se era de dia
Quando me beijavas e eu a tua língua lambia
Quando dermos conta
Um destes dias terão já passado anos
E vamos ter saudades um do outro
Já sem sequer nos lembrarmos de nós
Apenas só porque o calendário dos tempos nos provará
Que esses dias existiram…

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terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Embalo

Não sei bem se é a cabeça
Ou apenas esta mão
Que embalada pelo peito
Desta forma sem ter jeito
Debita poesia à pressa
Sentida pelo coração…        

É de forte intensidade
Todo este meu sentir
Mal acabo de acordar
Ainda o sol teima em brilhar
Cresce em mim esta vontade
Não há como resistir…

Com as palavras me entretenho
A escrever e a brincar
Mas às vezes também choro
Por isso a Deus eu imploro
Que em poema ou desenho
Siga eu a me embalar…

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segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Às vezes não sei...

Às vezes parece que o tempo não passa
E eu gosto que seja assim
Trago em mim a espera
Mais o desejo e a ânsia
De um tempo que não tem fim
E eu espero, espero…
Vou tê-la sim…

Se olho e vejo o sol
Razão forte para acreditar
Que o mau tempo já lá vai
Que a alegria renova
O desejo de amar
E eu que amo, amo…
Às vezes não sei parar de amar…

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sábado, 11 de janeiro de 2014

As palavras são como os Legos de outrora...

Quando eu era criança, vibrava em dias de festa, quer fossem de aniversário ou dia de Natal, sempre que me ofereciam peças avulsas de Lego.
Naquele tempo, o Lego tinha essa característica, as peças eram simples, padronizadas, levando a criançada a dar asas à imaginação, além de ser possível colecionar mais e mais peças, levando a que a imaginação não tivesse fim.
Hoje, o Lego é mais redutor e às crianças apenas lhes é sugerido sonhar com as construções que lhes são propostas, manipulando-as, criando-lhes na mente as imagens desejadas que abrem caminho para um universo consumista, formatado, castrador, acima de tudo.
Que saudades que eu tenho dos meus Legos!...
Lembras-te Quim, quando ia ter a tua casa e aí passávamos o dia a construir sonhos com os Legos que montávamos e desmontávamos? Lembras-te das profissões que inventávamos? Das vezes em que fomos bombeiros, quando brincávamos com as ambulâncias e os autotanques que criávamos, a olhar para os carros dos bombeiros estacionados perto do adro da igreja?
Lembras-te Ilda, dos anos seguidos, desde bem pequenos, em que treinávamos a nossa imaginação, naqueles dias em que, à tarde, depois de regressarmos da escola, ficávamos sentados à volta da mesa da salinha de estar dos meus avós, a inventar construções que não tinham fim, até a noite chegar? Nesse preciso momento, acendia-se o candeeiro, a luz, como dizíamos e a minha avó dizia:
- Boa noite nos dê Deus!
E nós lá continuávamos a brincar…
Lembras-te, Carlos Alberto, quando virávamos o saco do Legos, para brincarmos e a magia da brincadeira começava logo ao ouvirmos o barulho das peças, a espalharem-se pelo chão?
E tu, Nuno, meu irmão, que crescemos juntos e nos ajudámos um ao outro, sempre que aquela peça não encaixava bem, ou simplesmente quando era preciso desencaixá-la!? Que dizer dos nossos Legos marcados pelos dentes dum e doutro, prova de que eram tão nossos!?
Lembras-te das horas infinitas que passávamos a inventar novos objetos e brinquedos, ao mesmo tempo que desafiávamos o nosso próprio imaginário?
Foram também esses momentos que nos ajudaram a criar fascínio um pelo outro…
Peça a peça, as construções de Lego que fazíamos iam crescendo e nós crescíamos com elas…
Assim, guiámos carros, andámos de barco, voámos pela casa fora…
Em Sesimbra, passeámos pelas ruas, de mota, com os guiadores mais completos que alguma vez vi. Até pisca-piscas tinham!...
Como éramos felizes quando os conduzíamos e virávamos de direção, seguros, sob o olhar atento e feliz também, da nossa mãe…
Assim fossem as palavras…
Brincássemos nós com elas, montando-as e desmontando-as, sem nunca nos sentirmos inseguros após as termos proferido.
Servissem elas para construirmos sonhos e podermos viajar para bem longe de nós, sem nunca corrermos o risco de ficarmos presos a elas…
Que bom seria podermos embarcar em conversas loucas, conseguindo rir ou fazer rir, chorar ou fazer chorar, tocando quem devessem elas tocar.
As palavras são livres de tocar ou serem tocadas por quem quer que seja. Têm cor e têm intenções.
E são as palavras, que tal como os Legos, nos devem fazer felizes.
São elas que transportam as nossas marcas transformando-se, por isso, em testemunhos de nós.
As palavras são para serem ditas, ouvidas e devem estar à disposição da imaginação de cada um.
Cada qual deve utilizá-las, se possível, sem guião, ou discurso previamente encomendado…
Quem me dera pudessem hoje oferecer-me um saco cheio de palavras, ainda que iguais a tantas outras!...
Pudesse eu espalhá-las pelo chão, utilizando, de novo, cada uma delas, ajudando-me a fazerem crescer os meus poemas e as minhas redações, como se tivessem sido acabadas de inventar.
As palavras são para mim como os Legos de outrora…
Prefiro-as simples, ingénuas, primitivas, concedendo-me a oportunidade de lhes dar forma, de as acariciar, de as encaixar, seja qual for o seu fim…
Ou, dando-me elas, simplesmente a liberdade de as deixar assim, espalhadas pelo chão…
Amanhã, logo as arrumaria, ou então voltaria a brincar com elas. Amanhã, lá estariam elas prontas a fazerem-me feliz.
As palavras simples são como os Legos de outrora… Poucas, mas úteis e, tal como eles, deveriam permitir-nos crescer a brincar e a sonhar!…

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