terça-feira, 24 de setembro de 2013

Ordem

Venho de longe
Caminho há já algum tempo
Não que as coisas tenham corrido mal
Não que as coisas não estejam todas ligadas
Ou que o primeiro dia da minha vida nada tenha a ver
Com o décimo sétimo milésimo sexcentésimo septuagésimo
Que é o dia de hoje
Talvez as palmadas que levei ao nascer
Sejam as mesmas que hoje mereço
E o choro que então chorei talvez hoje me fizesse bem  
Por todo o mal que tenho feito
E por tudo aquilo que não fiz
Ou por algo que tenha acontecido e do qual não me apercebi
Precisava rever todos os calendários e vasculhar os dias um a um
Decerto uns tão iguais, outros tão diferentes e únicos
Para encontrar a verdadeira razão de não ter sido
Aquilo que gostaria de ter tido a coragem de ser
Mas o tempo esgota-se e não se repete
Os dias sim, copiam-se entre si…
A ordem a isso obriga…
Copiam-se no nascer do sol, copiam-se no meio dia, copiam-se no ocaso
E, de vez em quando, como que querendo colocar um pouco de glamour
Ao ocaso, chamamos… pôr do sol!?...
E ficamos a olhar a estrela maior, até ela desaparecer na linha do horizonte
A mesma linha que nos degola tantas vezes ao final dos dias iguais
Mas que nos encanta a cada novo final do dia
O tempo passa…
E nem as pancadas da vida nos fazem recuar
Na verdade, somos cada vez mais egoístas porque queremos mais e mais tempo
Arrependimentos, qual quê!?
Soubéssemos nós que éramos eternos e nem do passado nos lembraríamos
Como me chamo? Não sei!
Quem sou eu? Não me lembro!
De quem eu nasci? Foi há tanto tempo!...
Chorar, já nem sei… Chorei quando nasci…
O que fiz com os dias?... Já me esqueci.
Não sendo assim, retomamos os dias…
Os dias que se copiam
Mais a ordem que se respeita
O sol que à noite se deita e dorme noite fora…
A hipocrisia que desperta com a aurora
E que, rindo-se, diz…
Tão bom estar-se vivo!

… /…

Um comentário:

a_ciganita disse...

E é no desenrolar desses dias - tão iguais, tão diferentes e tão nossos - que tropeçamos nos dias dos outros, nos misturamos em vida e morte e dormência e alegria e tristezas e verdades e mentiras... e, pela manhã, lá vem a hipocrisia que, sem saber que o é, vem com vestes de bons dias e olhares de novas esperanças.