O calendário pelo qual me rejo alterou-se desde que fiquei
desempregado, corria dezembro de 2011.
Presentemente, o ano inicia-se em meados de setembro e não em janeiro,
como dita o calendário gregoriano.
Por isso, para mim, ontem foi o primeiro dia do novo ano.
Às zero horas de ontem deu-se, portanto, a passagem de ano. E tudo
aconteceu sem festejos, champanhe, passas e muito menos contagens decrescentes.
Passou-se, apenas…
Normalmente, aproveito as primeiras duas semanas de setembro para
fazer o balanço do ano que chega ao fim.
Costumo fazê-lo tranquilamente em casa, ou então a caminho da praia,
enquanto os dias de sol insistem em existir, embora com a chuva e o vento a
pregarem, já, algumas partidas. Assim tem sido desde 2012, ano que me mostrou
uma nova forma de olhar e aproveitar a vida.
Pensando bem, “olhar e aproveitar a vida” não é a expressão mais
correta, uma vez que não contém em si toda a dimensão do ato. É uma expressão
banal e extremamente redutora. Substituo-a, pois, por “contemplar e viver a
vida”.
É verdade, desde o primeiro dia de janeiro de 2012 que contemplo e
vivo a vida como nunca o fizera dantes.
Verdade, também, que toda a minha existência mudou, sim, desde
dezembro de 2006, mês triste da partida da minha mãe.
Desde então, foi como se tivesse nascido outra vez. E que parto
doloroso foi, o meu, de novo.
Como que voltar a nascer mas num mundo inóspito, triste, olhando à
volta e vendo apenas terra queimada, vazio, olhando o futuro sem enxergar nada.
Ainda que, tendo a família, o suporte dos amigos e a rotina do trabalho que nos
entretém ao longo dos anos.
E assim reaprendi a viver ao longo dos anos gregorianos seguintes. Uma
procura intensa da felicidade, com alguns momentos felizes e outros de profunda
tristeza.
Nesse tempo sim, eu olhava e aproveitava o que a vida me ia pondo de
novo à disposição, ao mesmo tempo, tendo a perfeita noção de que avançava numa
perspectiva autista e egoísta de viver.
Hoje, são quase três anos de aprendizagem em crescendo.
Tudo teve início, como já referido, no final de 2011, altura em que me
retiraram a hipótese de continuar a trabalhar no projeto que tinha abraçado em
2007 e que também ele ajudou a ocupar os meus dias e a crescer de novo. Foi,
contudo, uma situação inesperada e violenta para quem sempre trabalhou, desde
jovem, sem nunca fugir à exigência e à responsabilidade.
Dessa forma, mais expectante do que preocupado, entrei em 2012,
segundo o calendário gregoriano.
Reposicionei-me, fiz uma análise da situação e concluí que eram em
maior número os pontos fortes e as oportunidades, do que os pontos fracos e as
ameaças. Assim quis que fosse e assim tem sido!
Claro que, se reduzida a análise à questão monetária, a conclusão
seria a inversa, óbvio.
Mas não, felizmente…
Nestes quase três anos pude estar bem perto da minha família.
Acompanhei a doença do meu pai e dei-lhe todo o apoio que julguei necessário.
Horas de conversa, finais de tarde a vermos televisão, para depois comentarmos
os programas dos mais diversos canais, almoços de fim-de semana, idas a
consultas e visitas ao hospital, entre tantos outros momentos de entrega e
partilha mútua.
Mas, tantas vezes o cântaro vai à fonte que alguma vez lá fica. Assim
aconteceu a 4 de julho de 2013 depois de dois internamentos hospitalares. O seu
coração desistiu de lutar.
O meu pai resistiu sete anos ao desaparecimento da minha mãe.
Costumava dizer que o sete era o seu número preferido, o da sorte. Quero
acreditar que poder encontrá-la ao fim de sete anos foi qualquer coisa de extraordinário
para si.
A vida é sábia e depois de me ter preparado para viver assim, sozinho,
sem os meus pais, deu-me a alegria de ter uma neta, razão forte pela qual bate
hoje o meu coração.
E a minha filha? E as duas juntas, de manhã na cama a brincarem? E os
seus risos?
Muitas vezes recordo um amigo meu, já no final da vida, que me dizia:
- João, basta-me, quando acordo, olhar para os pezinhos do meu neto e
vê-los mexer. Se assim for, não é preciso mais nada, tudo está bem!...
Assim acontece e estes quase dois anos deram-me tanto que não quero
voltar atrás e a minha filha e a minha neta são os meus maiores tesouros.
Contemplo, contemplo e contemplo!... Vivo, vivo e vivo!...
Pelo meio, tenho pintado, desenhado, escrito, tocado e cantado. Vida
de cigarra, dirão alguns. Os mesmos que criticam a vida de formiga de outros.
Durante estes três anos gostei e desgostei-me, amei e desamei,
perdi-me e reencontrei-me e sobretudo vivi. E é isso que quero continuar a
fazer.
O balanço do ano que agora terminou está feito. Foi sem dúvida um ano
especial.
Venha o próximo ano e tudo o que ele traz consigo, surpreenda-me ou
não.
Do ano anterior guardo a família, os amigos que me acompanham desde sempre, aqueles que reencontrei e com os quais voltei a estreitar laços, todos os momentos que com eles passei e a vontade de reencontrar outros tantos.
Do ano que passou, persiste a vontade de ver todos os meus sonhos
concretizarem-se. Se assim não acontecer, então que os sonhos se mantenham para o ano
seguinte.
Desta forma, vou transportando comigo o verdadeiro capital da minha vida.
Transporto, também, a alegria e o optimismo com que costumo olhar
em frente e a crença de que a vida tem mais para me dar do que para me tirar.
Se ela assim o fizer, levará consigo um saco cheio de emoções, com muito para
vasculhar, ao espalhá-las sobre uma mesa.
No fim de tudo isto, à pergunta de qual o ano em que estamos, não sei o
que responder!?...
Ontem foi o primeiro dia de mais um ano por inventar…
Seja o que Deus quiser.
A todos, desejo um bom ano!
… /…
Um comentário:
Que todos os teus anos se iniciem em Setembro, com gostos e desgostos que nao se podem evitar e com muitos sonhos para realizar ou simplesmente sonhar.Setembro sempre com Sonho.
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