domingo, 30 de março de 2014

Lua cheia

Defronte deste mar imenso 
Espero uma resposta tua no doce rebentar das ondas
Que não chega e é só espuma a se espraiar na areia molhada
Secando de imediato, levando uma mancha húmida à frente dos meus olhos
Antes mesmo que eu seja capaz de a fixar...
Mas sinto-a,  assim mesmo, húmida e esquiva
E o som das águas batidas pelo vento fresco de final de tarde
Com o sol feito cortina que vai baixando e fechando mais um dia
Perde-se no silêncio com o sol mergulhando na linha de água, lá no horizonte…

Fica assim a resposta adiada
Como adiados ficam os dias que ambos sonhámos
Mais a alegria que nos abençoa
Quando os nossos olhos dizem sim
E os nossos lábios concordam sem qualquer hesitação...
As ondas recuam agora levadas pela maré calma
Guiada pela lua que ao longe se mostra pela primeira vez
Nos próximos tempos passará ela obrigatoriamente por todas as suas fases
Voltando depois aqui, cheia, alva, inspirando de novo os amantes…

... /...   

sábado, 29 de março de 2014

Melodia

Às vezes nem sei se existes
Ou se fui eu que te inventei
Gostava de te ter aqui comigo
Mas a noite não te traz
E eu nem sequer sei quem tu és

Sentado, toco agora este piano
Ao fazê-lo recordo-te e invento-te
E os meus dedos por sobre as teclas
Marcam tempos e ensaiam a medo
A melodia que és tu

Não sei se te toco de ouvido
Ou se um dia te escrevi
Sei que te oiço cá dentro
E se te escrevi é porque quero ler-te
Através dos anos, para sempre…

... /...

Quadras para abril

De abril trago a imagem
De um país antes sem cor
Dando início à viagem
Olhos postos no amor

Trago o grito feito gente
Com alegria e nas ruas
Gritos vivos, sangue quente
Cantando verdades nuas

Trago dele toda a vontade
De alguns que a troco de nada
Nos deram a liberdade
Há muito de nós coartada

Trago o sonho feito vida
Como um rio que por mim corre
Que apesar de iludida
Cá no fundo nunca morre

Só por isso é que abril
Não será por mim esquecido
Virão anos mais de mil
P'ra sempre será querido

E aqueles que o inventaram
Que tão grande bem nos deram
Mais não seja já ganharam
O respeito dos que esperam

Que jamais seja esquecido
Viva neles a sorrir
Mais que um sonho não vivido
Que abril se faça cumprir!

... /...


quinta-feira, 27 de março de 2014

Vício

Quando o sonho bate à porta do medo
Não pede nem licença para entrar
Porque sabe que mais tarde ou mais cedo
Esse medo vai ter de confrontar

Nesse encontro que é bom só de sonhar
Do destino ninguém pode fugir 
Mundo novo, outras coisas a surgir
Só por isso impossível recusar

Que a vida não se importa de mostrar
A quem do medo faz seu desafio
Vontade de crescer e reforçar

A força necessária p’ra sofrer
A dor e o calor do arrepio
Resultante do vício que é viver

... /...


Porque é sempre abril

Há palavras que não saem de moda
Por mais que o tempo insista em recusar
O seu significado que incomoda
Quem jamais tem poder p'rás silenciar

Há palavras tão quentes que nos fazem
Sentir apaixonados de verdade
Que apesar de não serem fogo ardem
Vivem connosco e são a liberdade

Há palavras que o tempo não apaga
Que nos fazem sentir vivos e sãos
Como uma força interna que nos rasga
O peito e que nos cerra as nossas mãos

Há palavras que não são p'ra esquecer
Se assim for tombaremos num ardil
Melhor fora pudéssemos morrer
A lutar pela força que é Abril!

... /...

terça-feira, 25 de março de 2014

Prazer louco

Sob o corpo que desenha
Entre tiques, um espasmo desconexo
Sofre e vibra o coração de um louco
Que mesmo não desfrutando do côncavo e do convexo
Sente que a vida lhe foi aziaga
Tirando-lhe a autonomia e o prazer do sexo
Contudo mostra-nos que na verdade tudo é tão pouco
A contrastar com o seu dom e seu reflexo
Com movimentos eléctricos e a tremer
Que confundem a lucidez de qualquer um
Levando a achar por isso que o coitado do louco
Pouca coisa terá a dizer em concreto
Eis que quando fala diz pouco mas pum
Acerta na mouche, é conciso e direto…

… /… 

domingo, 23 de março de 2014

Merda de escrita

Gosto de pessoas…
Gosto de coisas…
E gosto de escrever…
Gosto de escrever sobre pessoas e sobre coisas
E são as pessoas e as coisas que me fazem ter ideias
Para sobre elas escrever…
Pego na caneta e escrevo sobre o que me vem à ideia
Sobre elas, as pessoas e as coisas
Mas às vezes não…  
Não me vem nada à ideia…
E a mão fica só, assim, abandonada sobre o papel
Entregue à caneta e ao vazio do papel
Nada de ideias…
E então… bloqueio…
Zango-me…
Risco… e risco
Depois… rasgo, rasgo… e rasgo…
Faço um esforço para me lembrar das pessoas
E das coisas, das quais eu gosto…
E sobre as quais eu quero escrever
Mas não me lembro de nada nem de ninguém
Não me vem nada à ideia…
Mas eu sei que gosto de escrever…
De escrever sobre pessoas e sobre coisas das quais eu gosto…
Faço por me lembrar
E às vezes parece que me recordo só de quem não gosto
Mais das coisas de que também não gosto…
E então… enervo-me…
Enjoo…
Vomito… e vomito
Depois… grito, grito… e grito
E não me apetece escrever sobre elas
E ainda bem que assim é, senão
Mesmo não gostando delas
Dessas pessoas e dessas coisas
Escreveria na mesma sobre elas e seria uma bela merda
E eu não quero escrever nem merda, nem sobre merda
Embora nessas ocasiões me venha à ideia…
Essa gente e essas coisas…
Ainda que eu tenha a certeza que o conseguia fazer tão bem…
Porque são tantas as ideias
Mas eu não quero…
Do que eu gosto verdadeiramente
É de escrever sobre pessoas e sobre coisas
Das quais eu gosto
E eu não quero que pessoas ou coisas de merda
Povoem a merda da minha escrita!

... /...

Magia

Havia magia em tudo o que fazíamos naquele tempo.
Havia um momento, havia um sentimento. Tudo em redor completava e engrandecia a execução da tarefa.
Por exemplo, lembro-me da hora de fazer os trabalhos de casa, encomendados pela escola, esse momento era acompanhado por todo um ritual…
Sentado à mesa da casa de jantar, que naquele tempo os meninos não tinham secretária no quarto, com a pasta de cabedal com pega resistente, fecho metálico de mola, ao centro, e duas presilhas, uma de cada lado, ao lado da cadeira, pousada no chão, soerguia-a e começava por retirar os livros e os cadernos do seu interior, que colocava em cima da mesa.
A cada objecto que retirava de dentro da pasta, ficava a pairar no ar um odor a cabedal, misturado com o cheiro a papel e tintas, do caderno e dos livros, a borracha e ainda a madeira, do estojo, cuja tampa me servia de régua.
A tampa era em balsa envernizada e nela gravava o meu nome e a classe em que andava, com os bicos da pequena tesoura de trabalhos manuais, ou mesmo com o bico de uma esferográfica, vermelha certamente, que a azul era proibida, uma vez que éramos obrigados a utilizar caneta de tinta permanente. No centro da tampa do estojo, um pequeno autocolante com uma figura infantil.
Pousado que era o estojo na mesa, à frente do caderno, começava por aparar o lápis, o que juntava um novo odor à ao ambiente, o das aparas, mais o do pó da mina de carvão do lápis. Então, se a borracha era daquelas com cheirinho a morango!...
Não quero mentir, mas tenho ideia que às vezes me enganava propositadamente para ter a oportunidade de apagar e assim desfrutar daquela sensação de odor a morango no ar, no papel e nos dedos!
Havia um ritual. Primeiro as tarefas fáceis, ou melhor, as que não exigiam apurado raciocínio, embora requeressem frescura, destreza e concentração.
Falo, neste caso, das cópias, que eram avaliadas pela limpeza da folha, sem marcas de erros ou ressalvas, pela beleza, equilíbrio e balanço da caligrafia, reforçado no final pela transcrição do abecedário, primeiro em letras minúsculas e depois em letras maiúsculas, rematados com um desenho num intervalo de seis linhas, delineadas a esferográfica, na pauta do caderno, com a tampa do estojo a fazer de régua.
Seguia-se o exercício de caligrafia. Uma frase que deveria ser escrita repetidas vezes. Recordo ainda hoje uma delas, pela altura do Natal, “Os sinos tocam! Chegou o Natal!”. No final, mais um desenho.
Só por fim, as contas e as tabuadas, altura em que já farto dos trabalhos executados até então, mostrava sinais de cansaço, arrastando, por vezes, a tarefa até perto da hora do jantar.
Recordo a minha mãe na cozinha a ajudar-me, a incentivar-me, enquanto apurava o tempero do jantar e me dava uma colher a experimentar.
Era aí que entrava a magia dos aromas, ajudando a que aqueles momentos fossem desejados a cada final de tarde.
Momentos que ainda hoje se mantêm vivos dentro de mim e que me ajudaram a não só fixar, mas a entender a tabuada e, por isso, ainda hoje, quando a soletro, sinto aromas que me abrem o apetite…
São os cheiros dos temperos misturados com o da borracha desfeita, sempre que apagava uma conta errada, ou corrigia uma tabuada mal calculada.
Concluídos os trabalhos, era tempo de arrumar tudo.
Livros fechados para dentro da pasta, cadernos também. Caneta, lápis, borracha e afia, dentro do estojo, fechado com a tampa, que deslizava na calha cavada na madeira. As canetas de filtro, espalhadas, eram arrumadas dentro da bolsa de plástico transparente. A rematar o estalinho da mola, que era o seu fecho.
Agora sim, o dever estava concluído!
Podíamos então jantar tranquilos e depois havia ainda tempo para brincar um bocadinho, antes de ir dormir.
No dia seguinte, na escola, a professora corrigia os trabalhos.
Hoje, passados tantos anos, ainda me recordo de tudo e acredito que, na escola, quando a professora abria o meu caderno, também ela sentia os aromas que ajudavam ao resultado final das tarefas.
Como que por magia!...

... /...

quarta-feira, 19 de março de 2014

Falsa identidade

Nem sei como hei-de começar…
Mas sei que há coisas muito feias que fazemos em vida e que são verdadeiros maus exemplos para todos.
Coisas que nos envergonham e das quais nos arrependemos. 
Ainda bem que podemos experimentar esse sentimento, o do arrependimento. Não resolve nada, mas deixa-nos em paz connosco, aparentemente.
Mas, às vezes, fazêmo-las, sem que para isso tenhamos contribuído voluntariamente, apenas não conseguimos recusá-las, não há como resistir-lhes, tal a doçura do momento e a noção séria que temos de estar a contribuir para a felicidade de outros.
Foi o que se passou comigo, há uns anos atrás, em Cuba.
A coisa feia? Chama-se usurpação de identidade!... Mas que valeu a pena, ai isso valeu…
Todos sabemos que o futebol é um fenómeno social à escala planetária e até mesmo um país com características tão próprias como o é Cuba, disso, não foge à regra.
Os seus meninos jogam-no na rua, muitos deles equipados a rigor, fruto da oferta dos turistas que por ali passam. Muitos destes, guardam o endereço de uma qualquer família de Havana, Santa Clara ou Varadero, registado no final de mais um jantar caseiro, ao qual chamam “paladar”. Fica assim prometido, em troca da simpatia com que foram recebidos, o envio de uma camisola com o nome do craque favorito estampado nas costas.
Naquele ano ido, um dos futebolistas mais mediáticos de então era, nem mais nem menos, o nosso Figo, orgulho nacional, numa época em que Cristiano Ronaldo ainda dava os seus primeiros passos no Sporting Clube de Portugal.
E era para nós, portugueses, uma honra, por todo o lado que passávamos, de Portugal à China, da Austrália à Rússia, da Índia às Caraíbas, podermos ouvir falar de Figo ou de Rui Costa e vermos as suas camisolas, do Real Madrid e do AC Milan, com os seus nomes tatuados, bem visíveis, nas costas de petizes e graúdos.
Em Cuba, por exemplo, o fenómeno Figo era mais popular, fruto da influência hispânica, certamente.
Ora então, quis a ironia que, à época, eu usasse um corte de cabelo idêntico ao que o Figo usava. Não que tivéssemos copiado um pelo outro, lógico, mas não deixava de ser engraçado ir na rua e ouvir variados comentários sobre a semelhança das melenas.
O insólito estava, no entanto, para acontecer.
Adepto madridista confesso, sendo tal paixão anterior à ida do Figo para Madrid, colecionei sempre artigos referentes ao grandioso Real Madrid.
No meu guarda-roupa de viagens ou férias, transportei sempre algumas camisolas de clubes dos quais gosto, para além das do clube do meu coração, o Glorioso Benfica! Assim sendo, não fugi à regra e, para Cuba, levei duas camisolas, a do Benfica e a do Real Madrid.  
Naquela tarde, estava programado irmos até ao centro da cidade visitar a Catedral de San Cristobal e o Mercado de San José, conhecido pelas suas coloridas telas e artesanato variado.
Era o penúltimo dia da estadia e toda a gente pretendia adquirir bonitas telas e outros objetos, por entre centenas de trabalhos coloridos, bastante reveladores da cultura cubana.
À porta do hotel, o autocarro esperava os elementos do grupo a fim de partir em direção ao destino, aproveitando estes o traçado do percurso para se deleitarem com o trajeto ao longo do Malecón, idílico passeio marítimo, ao longo de Havana, virado para o Golfo do México.
Recordarei para sempre as imagens das gentes habaneras, umas sentadas, outras encostadas ao murete de pedra, olhando o horizonte, envoltas num sonho verdadeiramente sonhado, só comparável ao sonho dos amantes apaixonados, beijando-se à luz do sol de final de tarde, já condenado ao ocaso, complacente com o seu destino.
Quando me aproximei do autocarro, trazendo no corpo a camiseta do Real Madrid, que vestira pela manhã, falaram-me do reboliço que tinha acontecido há pouco, imediatamente controlado pelos seguranças do hotel.
Um grupo de garotos tinha estado junto do autocarro, à espera de ver o Figo e assim conseguir um autógrafo do craque! Tinham-lhes dito que ele estava ali hospedado.
Não queria acreditar no que me contavam!? Como era possível!? Brincavam comigo, com certeza.
Nunca tal me tinha acontecido!... Comentarem-me que sim, que fazia lembrar o Figo, ainda mais vestido assim, com a camiseta do Real Madrid, vá que não vá, agora, daí até se aglomerarem à porta do hotel, convencidos de que era ele em carne e osso, que se preparava para entrar no autocarro, era quase surrealista!?
Imaginar a situação, fez-me pensar naqueles miúdos, ávidos por viverem uma emoção tão forte, perpetuando-se nas suas vidas… O Figo, ali, ao pé deles! A oportunidade de guardarem para sempre um autógrafo seu como garantia de um dia terem estado tão perto do mundo real que existe para além do Oceano Atlântico e do Mar das Caraíbas.
E que situação, ao fim e ao cabo, tão simples e fácil de acreditar. Afinal, tratava-se de um grupo de portugueses em Cuba, logo, lógico, Portugal é tão pequenino que, nada mais natural que Figo pudesse fazer parte desse pequeno grupo de cinquenta pessoas!?
Entrei no autocarro e fiz o passeio ao longo do Malecón com um sorriso nos lábios, como que beijado por uma aragem na alma, compatível com a brisa marítima que se fazia sentir no exterior do autocarro.
Decididamente Cuba é para mim a terra dos sonhos e, hoje em dia, sempre que recordo tal episódio, sinto que fiz parte de um capítulo inesquecível e quiçá deveras importante na vida daquele grupo de rapazes…
Por mim, jamais esquecerei que, como por magia, fui o Figo para aquela gente!...
As notícias passam de boca em boca e bem depressa.
Vim a saber, mais tarde, que, pela manhã, tinha sido visto no hotel, provavelmente por um trabalhador do mesmo, com a camisola do Real Madrid. Crédulo ou não, simplesmente por brincadeira, quem sabe, o boato espalhou-se e daí ao ajuntamento à porta, por parte dos miúdos, foi um instante…
Aquele Malecón é o paradigma dos sonhos.
Quantos sonhos ali morrem, afogados na imensidão do mar que beija a velha Havana! Quantos deles ali ganham asas, voando para além do que os olhos avistam? Quantos deles acompanharam aquele autocarro, que viajava entre o hotel e a Praça da Catedral, provocados por um tal passageiro chamado João Rafael em forma de Figo!?
O insólito, no entanto, ainda estava para acontecer…
Chegado ao destino, o autocarro, por entre manobras, estacionou junto ao passeio e, no seu interior, todos nos levantámos, preparando-nos  para sairmos, entre encontrões e tentativas de pegar os casacos e as câmaras fotográficas, depositadas nas prateleiras, por sobre os bancos.
Já compostos e na posse perfeita de tais objetos, foi-se formando a habitual fila indiana, num só sentido, enquanto o condutor não tomou a decisão de abrir a porta traseira, facilitando a saída de todos mas gerando, uma vez mais a confusão, com a mudança de direção por parte de alguns. Aí, uns foram para trás, outros insistiram na saída pela porta da frente. Foi o meu caso.
E eis que aconteceu o imprevisto!...
O meu amigo José Moreira, que já tinha saído, voltou atrás, subiu os dois degraus do autocarro, olhou-me nos olhos, com um sorriso do tamanho do Malecón e disse, em jeito de resposta a alguém no exterior do autocarro:
- O Figo está ali!...
Todo o grupo se apecebeu, de imediato, do que se passava… O passeio estava repleto de miúdos a perguntarem pelo Figo, com papéis e canetas nas mãos.
É que, no hotel, como medida para os demoverem, tinham-lhes dito que o autocarro ia para o Mercado de San Jose.
É verdade!... Para aqueles miúdos, o sonho não tinha terminado no momento em que os seguranças do hotel os tinham obrigado a debandarem.
Uma vez mais, eles foram a correr atrás do sonho. Cruzaram a cidade de uma ponta à outra, possivelmente ao longo do Malecón, para conseguirem um autógrafo de um falso Figo, que para eles era tão verdadeiro, o original!...
Depois disto, o José Moreira falou-me:
- Joãozinho, estás tramado, vais ter de dar autógrafos!...
Naquele momento percebi que o sonho, ainda que sonho, por vezes, move muito mais do que a realidade dura e cruel que o tempo marca. Percebi que, naquele momento, ainda que pudesse, pela proximidade física, criar alguma desconfiança nas suas cabeças, era, na mesma, importante para eles o meu teatro e mesmo que me colocassem uma qualquer bola nos pés, a fim de comprovarem a minha habilidade, ou a fim de me descobrirem a careca, estou certo que, nesse momento, seria iluminado pelo anjo dos sonhos e arrancaria uma jogada elegante, digna do verdadeiro Figo!
Aquele momento foi sublime e ternurento...
E ali fiquei, algum tempo, a distribuir autógrafos, apertos de mão e muitos sorrisos, com a miudagem à minha volta.
A minha única preocupação era não decepcionar aqueles miúdos.
E lá foram eles, felizes sem saberem que guardavam um autógrafo sentido e verdadeiro de um falso Figo.

... /...



Arquitetura

Um dia tive uma casa
E a minha casa era o meu mundo
E como eram belos, o meu mundo
E a minha casa
Nela cresci protegido do medo
Nela aprendi o método e o respeito
Nela recebi amor e tomei-lhe o jeito…

E foi assim que cresci
Tive mãe e tive pai
Hoje a casa já lá vai
Mas continuo a ter-te, pai
Da casa guardo tudo
A recordação, a imitação, a verticalidade
A força, os valores, a alegria e a saudade…

Ruiu a construção
Foi-se a casa mas o terreno existe
No meio dos escombros um pilar persiste
Sinal de que outrora
Houve vida alicerçada e que hoje
Sobre as ruínas de um passado recente
Ao seu redor há nova vida e nova gente…

É por isso que te recordo
E guardo sólido sentimento
Sabendo que embora não te vendo
És parede mestra do meu projeto
Pilar da minha casa e do meu mundo
Arquiteto da minha construção, meu papá
E que só por isso viverás p’ra sempre por cá…

.../...

segunda-feira, 17 de março de 2014

Nunca

Minha alma entregou-se hoje ao abandono
Triste por não ter mais pelo que lutar
Cansada de esperar chegou-lhe o sono
Despediu-se do dia e foi chorar

Já deitada no leito triste e só
Contorceu-se de dor ao ver sofrer
Seu dono que a seu lado dava dó
Com tão fortes soluços e a tremer

Enganada porém por tal razão
Depois ao vê-lo assim fragilizado
Prometeu reverter a situação

Jurou não mais o querer abandonar
E que juntos os dois de braço dado
Não parariam nunca de lutar

... /...

sexta-feira, 14 de março de 2014

Projeção, sem sombra de dúvida

Estranhamente, há dias bonitos que me fazem sentir muito triste.
Como se a alma tivesse fugido e, com ela, levado a beleza das coisas.
Não restando nada, nem o dom com que alguns de nós fomos bafejados, permitindo-nos ver e sentir a beleza das coisas, mesmo a das mais simples, o que nos deixa alegres, como quando acabados de resolver com sucesso um sistema de equações, repleto de imensas variáveis.
Por exemplo, aqui, no muro mesmo à minha frente, projeta-se a sombra da casa onde me encontro.
Ainda que eu continue aqui fechado, aquela sombra irá transformar-se, tomando inúmeras e diferentes formas, acabando por desaparecer.
Amanhã, estará de volta, se o sol brilhar outra vez.
Poderá não ser à mesma hora… à mesma hora não será, porque a rota do planeta também se altera… O dia continuará a ter sol, mas a sombra, essa, tomará outros contornos.
Nem sequer poderemos afirmar que será a mesma sombra, porque a cada inclinação do sol, a graduação da projeção da sua luz, obrigá-lo-á forçosamente a desenhar novas silhuetas e elas influenciarão a beleza do instante.
Assim é com a minha alma, ora alegre, ora triste e isso preocupa-me.
Aqui e ali, surpreendida por uma brisa, um aroma, uma cor, um sorriso ou mesmo, por um choro.
Esta alma que me acompanha e que às vezes me deixa só.
Esta alma que sendo minha, não o é, recusando viver tão só, dentro de mim, buscando vida e emoção em toda a parte, regressando a mim de vez em quando, por vezes alterada.
Aí está, mesmo agora, bastou este bocadinho entre a minha primeira observação relativamente à sombra da casa onde me encontro fechado, projetada sobre a parede do muro defronte e o momento em que me perdi no enfiamento do aparo da caneta com que escrevo e pronto, ela já não é a mesma.
O sol ilumina, agora, a parte que estava sombria ainda há pouco e essa sombra, que o era ainda agora, é tão brilhante, ao ponto de me encandear a visão, projetando-me na face, a luz proveniente da cal branca que cobre a parede, luz feita reflexo.
Os meus olhos doem-me. A minha alma não, porque não está aqui. O meu corpo sim, no mesmo local, permanece fechado, dentro desta casa sombria.
Lá fora, o dia está lindo.
Daqui, consigo aperceber-me do calor que faz pelo bater das asas daquela borboleta, que não abandona o sol, colada que está à parede. A borboleta não tem alma, mas bate as asas… e voa para longe, como a minha alma.
A orla trémula e quente no horizonte, deformando a linha do alcatrão, está de acordo com a pouca vontade que tenho de ver o que está para além dela. Tudo é vago e fosco
É esse o domínio para a minha alma livre, feliz e repleta de imaginação.
Talvez um destes dias possa eu ser assim e acompanhe de perto a minha alma.
Quem sabe, um destes dias, mesmo que esteja um dia feio, rompa eu o meu casulo e as minhas asas se confundam, então, com as daquela borboleta, que, por sinal, já debandou da parede.
Quem sabe, um destes dias, a minha alma transporte o meu corpo e eu não volte a sentir-me triste…
Que sabe, um destes dias, o sol brilhe e a linha do horizonte seja tão nítida, que faça com que a imaginação da minha alma se misture com a minha alegria e juntas, de mão dada com o meu corpo, atravessem a barreira imposta pelo limite do alcatrão quente e negro.
Nesse dia, deixarei de estar fechado nesta casa e só restará um reflexo de mim, projetado na parede em frente, sem qualquer sombra.
O sol terá a sua inclinação específica, a terra também e eu observá-los-ei, do universo… Ao sol, à terra e ao reflexo…
Quanto à dificuldade de me sentir triste num dia tão bonito, o problema nunca terá existido.
Ficará assim a equação resolvida. Sem sombra de dúvida…

... /...

quinta-feira, 13 de março de 2014

Desconforto

Dependendo do acaso e até da circunstância
É suposto partirmos todos esticados
Não sei se é por arrumo ou se é por elegância
Com a barriga p’ra cima lá vamos deitados

Acontece-me a mim que não vou confortável
Porque em tal posição não consigo ficar
Pois que o raio do refluxo é p'ra mim desagradável
Muito capaz de a morte fazer despertar

No meu caso então que me ponham de lado
Se possível virado para o meu direito
Ainda assim fico todo dorido e empenado
Porque o raio da coluna está torta e sem jeito

Está visto que o que safa o corpo são as pernas
Que o resto da carcaça está velho e a sofrer
Se não for do refluxo o meu mal está nas hérnias
E assim sendo o melhor é nem sequer morrer

... /...

segunda-feira, 10 de março de 2014

Regressão

Pegava na pasta da escola
E fazia-me de novo à vida
Ah se fazia…
A cada passo que desse
Ao distanciar-me de casa
O meu corpo encolheria um centímetro em altura
E as minhas mãos ficariam cada vez mais perto do chão

Quanto mais longe fosse ficando de casa
Mais pequenas seriam as minhas pegadas
Que denunciariam o meu recuo no tempo
Até me sentir de novo menino
Com as botas ortopédicas a aleijarem-me o traseiro
De tanto correr em busca do passado
No qual fui garoto

O vento a bater-me na cara
Abriria feridas e secar-me-ia as cicatrizes
Provocadas por todas as lembranças
Que morreriam a cada centímetro do meu encolhimento
E que desapareceriam na poeira do caminho…
Enquanto eu cada vez mais baixo
Arrastaria a pasta no chão e seria mais menino

Dentro da pasta o lanche que não tinha
Porque não seria um lanche o que levaria
Porque um lanche não se transporta na pasta
Para os lanches há lancheiras
E eu não levaria nenhuma comigo
Levaria apenas a pasta
Com os livros da escola para aprender tudo de novo

Quantas letras tem o abecedário?
Não sei!...
Um B seguido de um A faz?
Não sei!...
Quantos são 3 X 9?
Não quero saber!...
Porque as perguntas hoje seriam outras…

Porque corres tu?
Continuo a não saber!...
Que livros são esses em branco?
Alguém responda que isso gostava eu de saber…
São para ser escritos de novo!
Com palavras por inventar se ainda houver imaginação
E se a memória não nos atraiçoar

Mais à frente olharia para trás
E já não veria a minha casa
Porque seria pequenino outra vez, rente ao chão
Os pés dançariam dentro das enormes botas ortopédicas
Mas as marcas no chão seriam menores
E eu já nem da pasta necessitaria
Nem sequer para a arrastar pelo chão tocado agora pelas mãos

E de repente já nem o chão existiria
Nem ao longe nem perto da minha casa
E eu faria desenhos por não saber escrever
E não iria à escola aprender nada
Porque bastaria a imaginação para ditar a ignorância
De não conseguir ler um livro vazio...
De letras, lanches e respostas a tantas perguntas...

... /...

domingo, 9 de março de 2014

Palavras em luta

As palavras têm força
Quando alguém as sabe usar
E por isso há quem torça
A orelha ao se calar

Perde assim toda a razão
E a grande oportunidade
De à vez da força da mão
Fazer jus à liberdade

Que as palavras se sentidas
Têm força até mais não
Já caladas, oprimidas
Fazem mal ao coração

As palavras acertadas
Movem mundos pois então
Fazem-se ouvir se gritadas
Provocam revolução

E até os que não falam
Ouvem-nas com atenção
Porque nelas se retratam
Se ditas com emoção

As palavras têm força
Se faladas com justiça
Haja sempre quem as oiça
Disso não tenha preguiça

Que as palavras quando ouvidas
Ganham asas e magia
Fazem mais se entendidas
Transformam a noite em dia

De boca em boca a saltar
As palavras dão-nos vida
São como que uma saída
P’rá vontade de lutar!

... /...



sábado, 8 de março de 2014

Voar

De leve vinha voando
Sem ter asas nem ter vento
A medo vinha planando
Num perfeito desalento

Não fora esse o seu medo
Aterrava de mansinho
Como quem guarda segredo
Falaria assim baixinho

P’ra voar só é preciso
Ser mais leve do que o ar
Como força ter o riso
Porque o mais é só planar

… /…

Ingrato, o tempo que relativiza

Estive ontem sentado à frente da televisão a ver a Gala RTP de entrega dos prémios Lumen, coisa que não fazia há muito tempo, a não ser quando joga o meu Benfica, ou Portugal e para seguir as notícias que, normalmente, me deixam deprimido e triste.
Ontem à noite foi diferente.
Sentei-me no sofá, após ter jantado com a minha filha e com a minha neta e por ali fiquei a rever caras de quem gosto, umas mais, outras menos e outras de quem não gosto nada.
Pude ouvir e comparar a riqueza de alguns discursos de agradecimento e de homenagem apimentados com algumas alfinetadas cirúrgicas, a palavras vazias, de circunstância, desprovidas de memória e de qualquer humildade.
Gostei de ver a Ana Bola, a Rueff, a Maria Vieira, o Herman, o Monchique e o Manuel Marques a subirem ao palco, em reconhecimento do seu trabalho em prol do serviço público, porque fazer rir um povo triste nos dias de hoje, é disso que se trata, mas senti a falta, por exemplo, do Fernando Mendes, que há onze anos é companhia divertida de milhões de portugueses que se reveem no seu humor, trabalho elogiado até no estrangeiro.
Fiquei satisfeito por ver ainda reconhecida como melhor série de ficção de sempre “Conta-me como foi” que, pelo seu argumento, não deveria apagar-se nunca da nossa memória colectiva, por sinal, às vezes muito curta.
Confirmei, uma vez mais, como se fosse necessário, a excelência do profissionalismo do Júlio Isidro, merecedor de um prémio também, pela sua intocável carreira, reforçada pela constante descoberta e divulgação de talentos.
Um verdadeiro senhor televisão!
Porque gosto de ver reconhecido o trabalho dos outros, ou melhor ainda, dos que o merecem, adorei as três homenagens da noite, a homenagem a Eunice Muñoz, figura indelével do teatro e da televisão em Portugal, a homenagem a Herman José, que nos ensinou a observarmos o que nos rodeia e nos mostrou tantas formas diferentes e interessantes de rir e, finalmente a terceira, a uma figura menos mediática, cujo nome nos entrou, contudo, diariamente em casa, durante cinquenta anos, praticamente sem rosto. Refiro-me a Luís Andrade, pai da Serenella, do Hugo e do Ricardo.
Estávamos em 1977.
Tinha terminado o segundo ano do ciclo preparatório e estudava no Colégio Manuel Bernardes, no Paço do Lumiar.
As aulas começaram, como todos os anos, em Outubro, motivo de agitação para todos, resultante de mais um início de ano escolar, sinónimo de curiosidade relativamente a novos professores e, sobretudo, ao que dizia respeito a novos colegas.
Mais a mais, o Colégio Manuel Bernardes há pouco tempo que tinha passado a regime misto, com as raparigas, a cada ano, a serem em maior número, para alegria dos rapazes.
Na altura, com doze anos, não fugia à regra e rapidamente me entusiasmei com uma colega de turma.
A par, reforcei amizades com colegas que vinham já do ano anterior e naturalmente fiz novos amigos. Foram os casos do Ricardo e do Hugo Andrade.
Recordo os dois como se fosse hoje.
No início, muito sossegados no recreio, mas de sorriso fácil e cordialidade extrema, enquanto colegas. Foi empatia imediata.
Lembro-me que o Ricardo tinha o cabelo mais claro e fazia um movimento com a cabeça, ao mesmo tempo que piscava os olhos. Um pequeno tique que lhe dava uma certa graça.
Embora gémeos, o Hugo era mais tranquilo e gostávamos de falar os dois. A sua voz era mais rouca, recordo.
Ah, a gargalhada do Ricardo era inconfundível e cativava os colegas.
O ano foi avançando e a nossa amizade também, reforçada pelos inúmeros jogos de futebol ao fundo do recreio, junto ao pavilhão dos Trabalhos Oficinais e na Quinta do Paço, à hora do almoço.
E nisso os manos eram dois virtuosos. Que orgulho sentia neles, os meus amigos, ao vê-los jogar!
O Ricardo conseguia ser mais entusiasmante e eu deliciava-me a vê-los driblar.
De estaturas pequenas, movimentavam-se com uma velocidade incrível!
O Ricardo e o Hugo, se não estou em erro, jogaram num clube que existia para os lados da Alameda das Linhas de Torres, a seguir ao velho Estádio José de Alvalade, junto à Avenida Raínha Dona Amélia, onde moravam, se a memória não me atraiçoa... O clube de que falo era “Os Mouros”.
Recordo que certo dia fui ter com eles ao seu bairro, dia em que conheci de relance a irmã Serenella, mais velha do que nós e muito bonita, assim como a mãe.
Nunca mais a vi, a não ser anos mais tarde, na televisão.
Transportei para ela a amizade que detinha pelos irmãos. Poderei dizer, pois, que nutri sempre uma amizade virtual pela Serenella Andrade!
Nesse mesmo dia, tive também o prazer de conhecer aquela que foi para mim a melhor jogadora de futebol, a Kikas, que jogava futebol com eles, na rua.
Foram o Ricardo e o Hugo que ma apresentaram e eu fiquei maravilhado ao ver uma rapariga jogar futebol tão bem ou melhor que muitos rapazes. É que os tempos não eram ainda dessas coisas, no Portugal de então.
Quis o destino que no ano seguinte me cruzasse com a Kikas no Colégio Moderno, colegas de turma durante dois anos. Jogámos lado a lado, nas equipas do oitavo e nono anos e ambos representámos a selecção do colégio.
De uma coisa não me esqueço, quando nos encontrámos no Colégio Moderno, foi a Kikas que se lembrou de mim, alguém que ela só tinha visto uma vez, por uns minutos, naquele dia, lá no bairro.
Deixámos de ter contacto em 1980 e reencontrei-a mais tarde, há cerca de oito anos, na Aldeia do Meco. Reconheceu-me, falámos, mas o tempo ditou o afastamento. Nem números de telefones trocámos. O tempo tem destas coisas…
Do Ricardo e do Hugo, ficou a amizade sincera do ano intenso em que convivemos, estudando e, sobretudo brincando muito, como daquela vez, num aniversário meu, em que o Hugo e o Ricardo passaram o dia em minha casa e corremos o dia todo no jardim e na nossa quinta também.
Desse dia, guardo as fotografias, cuidadosamente conservadas num dos álbuns de família.
Através dos anos fui acompanhando e lendo sobre a carreira do pai, da irmã e fiquei contente por saber que também eles tinham entrado no mundo da televisão.
Ao longo do tempo, diversas vezes me recordei do entusiasmo que senti, uma vez em que o Hugo me falou da possibilidade de se vir a realizar um concurso de “A Visita da Cornélia” para miúdos e que podia ser uma boa ideia eu concorrer para jurado…
Ficámos pelo sonho e ainda hoje sorrio quando me recordo disso.
De volta ao dia de ontem, gostei de rever o Hugo na plateia e percebi o quão emocionado estava com a justa homenagem prestada ao pai.
A imagem do seu silêncio e tranquilidade foi, para mim, uma das mais fortes e conseguidas da noite.
Apeteceu-me dar-lhe um abraço e perguntar por ele, pelo irmão e podermos recordar o tempo que atrás retratei, mas o tempo é ingrato…
O mesmo tempo que relativiza a importância das coisas.
Há sensivelmente três anos, procurei o Hugo e o Ricardo no facebook, na tentativa de reavivarmos as memórias boas do passado. Encontrei o Hugo e enviei-lhe um abraço, extensivo ao irmão. Identifiquei-me e aguardei resposta à minha mensagem.
Chegou ao fim de algumas semanas e que contente fiquei.
O Hugo foi simpático. Agradeceu o meu contacto e lamentou-se do facto da sua memória não ser a melhor e por vezes sentir que ela o atraiçoa. O Hugo não se lembrava de mim!...
Não faz mal, Hugo, não precisamos lembrar-nos de tudo, mas sim apenas do que é importante…
Ontem, no teu silêncio e no teu olhar, estavam patentes todas as recordações que guardas do teu pai e que te acompanharão ao longo da vida. Gostei de ver e emocionei-me.
Por sua vez, espectáculos como os de ontem são importantes para não nos esquecermos de que em determinadas épocas das nossas vidas, existiram momentos importantes, espectáculos que nos divertiram, programas de televisão que nos marcaram, mas que o mais importante de tudo isso são as pessoas envolvidas, desde aqueles que dão a cara e entram pelas nossas casas adentro até àqueles que, por detrás das câmaras fazem as coisas acontecer e que por isso devem ser lembrados também, pese o ditado “longe da vista, longe do coração”…
Depois o tempo relativiza tudo e infelizmente, daqui a muitos anos é possível que poucos se lembrem de quem foi quem…
 Assim é, na nossa vida também… E que bom é quando a memória não nos atraiçoa.

... /...