quinta-feira, 8 de agosto de 2013

O despertador

Estranho objecto, o despertador.
Acorda-nos e marca a hora.
Depois, adormece, ou melhor, ao toque do nosso dedo, deixa-se ficar, a ver o tempo passar... Como se nós dominássemos o tempo ou simplesmente esperasse o que está para acontecer...


Esgueiro a mão para fora dos lençóis e, às apalpadelas, procuro o maldito botão que me devolverá o silêncio das últimas quatro horas.
Questiono-me, ainda meio ensonado, porque marquei eu as 10h00 como ponto de partida para mais um dia sem tempo (!?...)
O mesmo tempo que me trouxe até aqui, exactamente porque não quis prestar-lhe atenção, na repetição dos dias que me perseguem.
Aqui, o tempo pode esperar, atrasar-se, ou simplesmente não existir...
Não faz ,assim, sentido o despertador, muito menos o marcar da hora para o acordar.
Mas então, porque registei eu as 10h00 como momento do despertar?
Ah, já sei, foi por nada...
Podia ter sido às 8h00... ou às 11h00 (!?...)
E se eu morrer daqui a bocadinho? Pelo menos, estarei acordado!...
É isso, agora percebo... Todos os dias, o despertador acorda-me para a morte, mais ou menos lenta, consoante a corda que o relógio tem. No dia em que o não fizer, acordarei já morto.
Ah, e se logo ao deitar, estiver ainda vivo, vou marcar o despertador, para amanhã, ainda mais cedo...
Assim, acordado, terei mais tempo para esperar a morte, aquela que me fará dormir para sempre.

Ah, e quando assim for, o despertador pode tocar, que a minha mão não se moverá... 

... /... 

Um comentário:

Anônimo disse...

Deitar fora o despertador!
Para que serve, temporizar um despertar?
Despertar e' para a Vida.
Por mais que toque , se nao e' para a Vida, nao e' acordar.
E acordar,acorda-se sozinho. Sem hora mas com sentido. Sem hora mas com sentimento.Na hora certa.
Deitar fora esse despertador.