quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Obra de arte

Meu corpo parte à aventura
Sem bússola ou GPS
Doido por uma loucura
O imprevisto acontece

Sem mapa ou qualquer guião
Parte louco à descoberta
Seu destino é parte incerta
Marcado pelo coração

Suas marcas não se queixam
Por vergonha, são secretas
Abrem feridas que me deixam
Cicatrizes tão perfeitas

Meu corpo, modéstia à parte
É tela rasgada a sangue
Num tom vermelho exangue
Verdadeira obra de arte

Humilde à minha maneira
Expô-la assim eu não queria
Mas por muito que eu não queira
É meu peito galeria

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Cama de Alcatrão

A noite é feita de segredos e de cansaço
Quando se deita, só, já noite avançada
Aconchega a poesia num longo e apertado abraço
Eis então que o poeta se despe da rima,
E já deitado no chão, de barriga para cima
Ajeita o passeio, feito almofada a seu lado
Cobrindo-se de estrelas, qual colcha iluminada
Está pronto a inventar um poema descansado

Noite fora, já madrugada, e o poeta não descansa
Em sua cama esburacada, bordada sobre pedra
Tem ideias de enxurrada mas a obra não avança 
É então que o poeta cansado de sofrer
Esgotado, grita alto, inventa rimas por escrever
Pela manhã, seu poema frustração
É obra adiada, pesadelo que medra
Noutra noite sem lençol, em cama de alcatrão

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terça-feira, 25 de novembro de 2014

O Jota... Tlec...

"As paixões da adolescência são belas e reveladoras de tantas coisas que jamais sonháramos fazer um dia... Ou, como cedo revelamos um pouco daquilo que seremos toda a vida, românticos, parvos e com a mania que escrevemos qualquer coisa de jeito.
Em 1980, depois de uma tarde, os dois, à volta de uma máquina de escrever..."

Tlec, Tlec…
Carregava ela,
Feita máquina,
Na tecla
Tlec…
E de cada vez que ela carregava
Na tecla,
Tlec,
Eu queria ser ela,
Não a máquina,
Mas a tecla
Tlec…
Sempre que ela carregava
Na tecla
Tlec,
Eu imaginava
O meu nome,
Nas teclas
Tlec, tlec,tlec,tlec…
E que o meu nome
ela ia escrever…
Completo,
Na folha de papel
Da máquina,
Tlec, tlec, tlec, tlec,
Tlec,tlec,tlec,tlec,tlec,tlec...
Ela procurava um jota,
Por acaso…
E de cada vez que ela procurava
A tecla
Do jota,
Na máquina,
Tlec…
Eu gritava cá dentro,
Alto e bom som,
Em silêncio,
É agora!...
Estou aí!
Isso, aí!
Na tecla,
Tlec…
E assim se passou a tarde
Ela tlec, tlec,
Na tecla,
E eu olhando,
A ela,
À máquina
E à tecla,
Tlec…
Quando parti,
Ali fiquei,
Na tecla
Do jota,
Tlec…
Será que ela a carregou?
Tlec…
Talvez não,
A julgar pelo desfecho…
Mas, quem sabe,
Um jota tenha ficado
A fazer tlec
No coraçãozinho dela?
Tlec…

Tlec, tlec, tlec,tlec
Tlec, tlec, tlec, tlec, tlec,tlec...

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sábado, 22 de novembro de 2014

Reverso

Nas horas em que o fracasso
Se casa com o desespero
Meu amor o que é que eu faço
Nem eu sei pelo que espero

E por mais que eu o não queira
Sinto uma grande tristeza
Quando a dúvida e a incerteza
Se instalam sobremaneira

Meus desejos são secretos
Caprichosos e até ledos
Bem mais fortes que os objetos
Que travam esses teus medos

Fica assim em harmonia
Todo esse nosso universo
Pois que toda esta agonia
Sempre tem o seu reverso

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sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Chuva vertical

Chove no parque…
Sobre a relva, à chuva, nove pássaros
Chove…
Chove na vertical…
A esplanada está vazia
São nove, as mesas amarelas vazias
Fugiram todos para dentro
Posso aperceber-me disso, através dos vidros escuros
Ouvem-se ruídos vindos de lá
Ruídos de vozes misturados com barulhos de louça…
Ao fundo, muito ao longe, parece ser o ruído de uma televisão
Cá fora é bem melhor
Está frio, é certo…
E chove…
Chove na vertical, mas não me importo…
Puxo o fecho éclair do blusão sobre a camisola de lã
E aconchego a gola, tapando a boca
Das mãos, só vejo os dedos que seguram a caneta
Pois as mangas, puxei-as para que as mãos não arrefeçam
Está frio…
Sinto-me bem com os meus óculos novos
Consigo até ler a marca da caneta que seguro entre os dedos
Antes, já mal conseguia ver os dedos
Muito menos o que escrevia…
É uma “ Uni-ball eye”
Até as letras mais pequenas são agora visíveis
Waterproof / Fade-proof
É tudo o que eu preciso…
Um “eye”, que é como quem diz, um olho, para olhar o que me rodeia
E uma caneta à prova de água, para poder descrever como vejo e sinto as coisas
À chuva, sem o medo de que a chuva ou o tempo as façam debotar
Ou, ingloriamente, desvanecer…
Aqui estou, protegido por este alpendre
Mais ou menos um metro e trinta de proteção
Não há vento e a chuva cai na vertical…
Entretanto, as aves multiplicaram-se
São agora à volta de dezassete,
Entre gaivotas, pombos e outros pássaros mais pequenos
(Lembro-me da anedota; pássaros, passarinhos, passarões, aves de gaiola e cucos)
Petiscam nos charcos salpicados pela chuva que cai na vertical
E ignoram-na…
Também eu… 
As árvores majestosas, hoje, não fazem sombra
O parque está vazio e consigo ouvir o som da chuva a cair
Não só aqui, mas lá ao fundo, depois da relva, sobre a pedra do chão
Ou sobre a lona dos chapéus da outra esplanada
Dou comigo a marcar os compassos dos pingos que caem do alpendre
Sobre o tampo das mesas amarelas
Elas próprias com gotas estampadas que eternizam as realmente tombadas
O espectro amarelo provocado pelas mesas amarelas
Olhado através das lentes progressivas dos meus óculos
Confere uma tonalidade mais luminosa à relva
Castrada que foi a luz do sol, pelas nuvens cinzentas
Logo hoje, que faz frio…
Logo hoje que chove na vertical…
Ouve-se o som dos motores de um avião que, ao levantar, ecoa por todo o parque
Numa toada que me entra pelo ouvido direito e sai pelo esquerdo,
Como se alguém movesse o botão “balance” da direita para a esquerda,
Projetando-se a oeste
Vai com certeza cruzar o Atlântico…
À volta das minhas botas encharcadas
Passeia um pombo com as asas fechadas.
Ainda não o vi voar…
Um parque inteiro à minha frente, vazio,
Condiz com a esplanada onde me sento
Um pombo com asas para voar e que não quer
Condiz com o meu sentir e com o meu olhar
O espaço vazio à minha frente,
A vontade de estar sozinho, ao frio, sem medo da chuva
Que cai na vertical
A vontade de voar, mas…
O tempo que passa e estas asas que se mantêm fechadas…

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quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Tudo passa

Passa o cão aqui na rua
Passa mesmo aqui à frente
Passa o carro, a bicicleta
Passa o padre e tanta gente

Passa o tempo e como passa…
Ainda há pouco era de dia
Já quase se vê a lua
Passa o velho e o seu jumento
Passa a vida em linha reta
Passa tudo nesta rua…

Passa o medo, já sem medo
Passa a dúvida, em viagem
Passa o sol, não é segredo
Passa o vento, fresca aragem

Passa o tempo e como passa
Sopra manso
Às vezes forte
Passa a chuva, o céu cinzento
Passa a dor, esvai-se o negro
Passa tudo, até a morte…

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quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Se assim fosse...

Adorava viver muito além desta vida
Sinal que havia ainda tanto p’ra viver
Que essa vida, além desta, se merecida
Compensaria bem todo este meu sofrer

E assim, suportaria eu a minha dor
Seria o tempo pouco p’ra tanto sofrer
Pois todo o sofrimento com base no amor
Faz-nos olhar a dor com vontade de a ter

Olhar e não a querer, verdade, é aberrante
O género de vazio que eu não quero sentir
Já que amar sem sofrer é pior do que mentir

É como viver triste sem nunca chorar
Que bom sentir a dor e ter de a enfrentar
Sofrendo nem que seja apenas por um instante

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Bonita

Olha, que bonito que é
Assim, a olharmo-nos de pé
Olhos nos olhos
Que toda a atenção é pouca
Depois, corpo com corpo
Finalmente, boca com boca…

Olha, que bonito que é
Frente a frente, abraçados em pé
Cabelos entrelaçados
Pensamentos iguais
Deixa-te estar
Olha, aperta-me mais…

Olha, o que é?
Já está!
Dei-te um beijo
Até que não custou nada
Pronto, aconteceu
És a minha namorada…

Olha, que bonita que és!...

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sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Poesia para os meus olhos

Impossível desviar o olhar…
Desse peito que tão brando floresce
Na nudez de teus ombros e que desce
Deslizando por essa pele alva feito escorrega de desejo
Provoca ele acalentos em meu olhar literário
Imaginando como seria dar-te um beijo
É tua imagem poesia para os meus olhos

E todos te olham…

Impossível desviar o olhar…
Dessa pele alva que esconde tão nobre coração
Que ainda jovem e a mim predestinado é tão
Cheio de desígnios mil por cumprir
Já não és criança mas o tempo, a ti, ao contrário
Refinou-te a graça, a elegância e ensinou-te a sorrir
É tua imagem poesia para os meus olhos…

E sim, todos te olham…

Impossível desviar o olhar…
Dessa tua luz, ora santa, ora devassa
Sem que saibas que sim, ilumina quem passa
Holofotes de palco, pose de atriz na ribalta
E na beleza do instante, teu sorriso vago e solidário
Dá ao mundo o toque de serenidade que lhe falta
É tua imagem poesia para os meus olhos…

Inevitavelmente, todos te olham…

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terça-feira, 4 de novembro de 2014

Sozinho em casa

Sozinho em casa é tão triste
Falta vida em meu redor
Quando a solidão existe
Mesmo a morte é bem melhor

Mas não me posso queixar
De sentir tal solidão                             
Porque a hora de deitar
É uma boa sensação

Noite boa e prazenteira
Faz-me sorrir a sonhar
Tal qual uma brincadeira
Que tem fim ao acordar

Os meus sonhos povoados
De alegria e de emoção
P’la manhã são assolados
Por imensa solidão

Sozinho durante o dia
Pela noite acompanhado
Mil fantasmas quem diria
Dormem na cama a meu lado

E assim é este viver
Dividido e à tardinha
Alegro-me ao perceber
Que a noite já se adivinha

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Desejo de Natal

O Natal está à porta, mas desta vez não me sinto entusiasmado…
A alegria e a ansiedade de outrora, não são as mesmas.
A sociedade em que vivemos e a própria vida encarregaram-se de, a cada ano, arrasar o espírito de Natal. A quadra não é mais do que uma época importantíssima no calendário comercial, a melhor das oportunidades para o capital vencer sobre todas as coisas.
Também os afetos e os sentimentos são negociados.
Em grande parte dos casos, as famílias, entretidas que andam durante o ano, de candeias às avessas, resolvem unir-se e serem felizes, por estes dias.
Assim, a melhor forma de reforçarem os seus laços é oferecendo-se presentes, na tentativa de causarem boa impressão no destinatário, como se isso purgasse as fracas ou mesmo nulas prestações afetivas, ao longo de mais um ano de ausência partilhada.
E assim, dessa forma, todos são felizes por uns dias.
Come-se bem, tira-se as barrigas de misérias e passa-se os próximos trinta dias a praguejar contra o “exagero” que foi tanta comida!... - Para o ano vai ser diferente!... - repete-se constantemente.
À volta das mesas, alguns aproveitam para fazer as pazes e juras de mudança, são frequentes. Dali em diante, tudo será diferente, para melhor, é claro.
Muita gente, uma semana depois, por volta do Ano-Novo, já esqueceu o comprometimento e a história repete-se.
Nada que não se resolva no próximo ano com uma prenda choruda e um novo banquete, se possível, bem regado.
Ainda à volta da mesa, com as barrigas já compostas e os fígados atestados, soltam-se palavras e atitudes despropositadas, recalques que vêm à tona, aproveitando o facto de se estar juntos uma só vez durante o ano. São os fantasmas que se revelam, as mágoas postas à prova, estimulados pelos aromas e temperos da ceia em família.
O Natal também é isso…
As crianças assistem a tudo e afastam-se para o recanto das salas e dos seus quartos, entretidas que estão com os presentes, que farão as suas delícias, por uns dias.
Tudo muito volátil, tudo muito descartável.
O Natal que nos é imposto passa a correr!...
Na verdade, aquela semana não representa sequer dois por cento dos trezentos e sessenta e cinco dias que compõem o ano.
Pura ilusão, pois! O que passa a correr é todo o resto do ano, a própria vida também.
Por tudo isto, este Natal não me sinto nada entusiasmado.
Quero, pois, ficar no meu canto, de acordo com o que tem sido a minha vida nos últimos tempos.
Abraçarei os que amo e aos mais novos tentarei fazer-lhes sentir o que é para mim o Natal.
Se me sentar com eles à mesa, será para rirmos e trocarmos olhares cúmplices, de quem se gosta para além do Natal e investe nessa partilha, o verdadeiro e único capital incalculável.
Quero vibrar com as luzinhas e com os cheiros do cedro e azevinho utilizados no centro de mesa. Quero saborear as filhós de abóbora que me transportam para os meus Natais de outrora ou, então, simplesmente sentar-me e ficar a olhar para a minha neta a brincar.
Dispenso os presentes e um beijo seu e da sua mãe bastam-me, assim como a ideia de que há gente que, nem que seja por um momento, pensa e gosta de mim.
Desta forma, feliz e tranquila, quero que seja o meu Natal. Só assim ele faz sentido.
Quero chegar ao final da quadra festiva e não perceber que ela já lá vai.
Deste modo, o novo ano passará calmamente e o Natal não ensombrará a minha vida… 

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segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Caloiros, Pastranhos e Doutores...

Voltei a não resistir...
Depois do texto sobre o Guedes e o seu gang, pensava eu que não podia ser pior... 
Mas hoje, fui novamente surpreendido, no mesmo local, ali, na Quinta das Conchas.
O estilo foi o mesmo. Digamos que se manteve a forma, mas… e o conteúdo!?...
No mínimo assustador.
O texto desenrola-se com frases soltas, dispersas, que fui apanhando e registando ao longo da conversa profunda, sentida, rica, didática, desenvolvida por um grupo de quatro jovens estudantes.
Outra vez, elas em maioria. Uma vez mais, só ouvi o nome dele, mas também não é importante.
Tratavam-se de estudantes universitários e o tema andava à volta das praxes.
Pelo que percebi, duas das raparigas eram caloiras, os outros dois, ele e ela, exerciam já um papel dominador, quer na conversa, quer na hierarquia, ou lá o que quer que seja, da fantochada praxista:

- Há bué da cenas que tão erradas meu!...
- Mas pronto, não, não e não.
-Eu oiço ali conversas, que até nem eu percebo porque é que os putos tão a levar na cabeça!?...
- Tamos já a meio do campeonato e ainda não se fez nada como antigamente…
- Tens uma Colgate (alcunha) a quem não podes exigir mais… Só de pensar que eles vão ser futuros Doutores!...
- A cena é que é assim, a gente tá a levar isto da melhor forma.
- Ai caralho, hoje já é quarta… é que isto não é nada!
- Vocês não têm a noção da voz… do poder que nós exercemos.
- Se for eu a falar, o puto ouve. Tenho a Vitória (colega) que pode falar com ele…
- Agora percebo porque é que o puto me olha mal!
- Mas sim, o açoriano dá p’a falar com ele.
- Foda-se, esse caralho!?...
- Esse gajo!? Foda-se… Só de olhar!
- Só não quero que o Miguel tente endrominar…
- Ele não tem voz, não consegue chegar.
- As pessoas sentem quando o Miguel fala… sentem que é uma cena pensada…
- Quando eu falo, tou-me a cagar, falo o que quero!
- Sejamos honestos, Sérgio, isto já vem de trás.
- É isso que eu ia dizer, meu. Estes seis meses que eu não estive cá, o que é que aconteceu, meu?
- Entre nós, foda-se, que relação temos, foda-se?...
- No nosso tempo, tinhas uma Maggie que sabia falar, foda-se…
- E vias isto dos Doutores, foda-se havia respeito.
- O que é que queres, caralho!? Passámos as passas do Algarve. Mas tínhamos pessoas a honrar!
- Foi uma comissão tão boa.
- Nós éramos praxados como éramos. Eu sabia que ia p’a lá sofrer com’ó caralho, mas ia…
- Esta última, não sei como correu (!?...) Mas a penúltima, foda-se…
- Agora temos o contraponto, ou os putos entram nos eixos.
- Agora a gente pode agarrá-los!
- Não gosto de veteranos ausentes. Nós somos veteranos presentes.
- Há pessoas que não têm cabeça. Que acreditam em nós e levam uma vida académica, ou então ouvem pessoas que lhes dizem o que querem.
- Mas é só se os putos sentirem mais.
- Nós tentamos puxar por eles.
- Como é que ele faz um batismo de capa, sabendo que é honra, união?...
- Punham dois veteranos e tirávamos uma foto juntos.
- Quando o curso não vai com as nossas decisões, há ali uma ganda falha.
- A partir de segunda-feira temos RPI.
- Expliquem-me lá aquela cena: “Jessica, desculpa lá mas não quero falar mais contigo!”…
- Não é jantar, é aquela noite.
- A única pessoa que está aqui, que sabe que um olhar meu já traz alguma coisa que vem de trás…
- O que eu quero dizer é que, por exemplo, a Luísa já conhece alguns olhares meus…
- Há ali bué da merda que eu não gostei, mas havia ali cenas que eu disse, espera, tens alguém contigo.
- Ele sabia que eu ia destrajar.
- Eu quando tou, tipo olhos abertos, ele sai.
- Eu, p’ra mim, eu sinto bués…
- Eu, se pudesse escolher, não tinha tido Erasmus.
- Agora, eu acho que vocês confiam em nós mais ou menos.
- Vocês têm dúvidas na cabeça, muita merda também, mas vocês confiem em nós. Venham falar comigo.
- O que é que eu disse ao telefone? Achas que eu posso confiar e eu, tipo, o que é que esta gaja quer?
- Sou bué paciente… Bué, bué paciente…Demoro bué a encher.
- Este gajo vai ter de ouvir dos dois lados. Ouviu a gaja, agora vai ouvir o Miguel!
- Eu acho que aquele gajo é obsessivo. Ele endromina esta merda toda.
- Eu estou perdido. Eu quero que vocês me digam críticas construtivas da minha pessoa.
- Mas é só isso, meu, não sei…
- Tu tás ali, mas não tás.
- Temos de esquecer os Doutores e concentrarmo-nos nos Pastranhos.
- Acho que quando dermos o bum, pegamos nos putos e perguntamos-lhes as coisas. E cuidado, não falem à frente dos Pastranhos!

A meio da conversa destes futuros doutores, já a senhora, na mesa ao meu lado, se tinha levantado, deixando a esplanada com um sorriso nos lábios, que me pareceu de desespero.
Eu fui ficando, até não aguentar mais!...