Venho de
longe
Caminho há
já algum tempo
Não que as
coisas tenham corrido mal
Não que as
coisas não estejam todas ligadas
Ou que o
primeiro dia da minha vida nada tenha a ver
Com o décimo
sétimo milésimo sexcentésimo septuagésimo
Que é o dia
de hoje
Talvez as
palmadas que levei ao nascer
Sejam as
mesmas que hoje mereço
E o choro
que então chorei talvez hoje me fizesse bem
Por todo o
mal que tenho feito
E por tudo
aquilo que não fiz
Ou por algo
que tenha acontecido e do qual não me apercebi
Precisava
rever todos os calendários e vasculhar os dias um a um
Decerto uns
tão iguais, outros tão diferentes e únicos
Para
encontrar a verdadeira razão de não ter sido
Aquilo que
gostaria de ter tido a coragem de ser
Mas o tempo
esgota-se e não se repete
Os dias sim,
copiam-se entre si…
A ordem a
isso obriga…
Copiam-se no
nascer do sol, copiam-se no meio dia, copiam-se no ocaso
E, de vez em
quando, como que querendo colocar um pouco de glamour
Ao ocaso,
chamamos… pôr do sol!?...
E ficamos a
olhar a estrela maior, até ela desaparecer na linha do horizonte
A mesma linha
que nos degola tantas vezes ao final dos dias iguais
Mas que nos
encanta a cada novo final do dia
O tempo
passa…
E nem as
pancadas da vida nos fazem recuar
Na verdade, somos cada vez mais
egoístas porque queremos mais e mais tempo
Arrependimentos,
qual quê!?
Soubéssemos
nós que éramos eternos e nem do passado nos lembraríamos
Como me
chamo? Não sei!
Quem sou eu?
Não me lembro!
De quem eu
nasci? Foi há tanto tempo!...
Chorar, já
nem sei… Chorei quando nasci…
O que fiz com os dias?... Já me esqueci.
Não sendo assim, retomamos os dias…
Os dias que se copiam
Mais a ordem que se respeita
O sol que à noite se deita e dorme noite fora…
A hipocrisia que desperta com a aurora
E que, rindo-se, diz…
Tão bom estar-se vivo!
… /…