domingo, 15 de novembro de 2015

Sopro

Nesta vida como em tudo
Há lugares que são distantes
E embora redondo o mundo
Nada é como foi dantes

Falo da felicidade
Da alegria que é viver
Quando o mundo na verdade
Está deveras a sofrer

Se seu choro é de tristeza
Hediondo é o seu destino
Dor e ódio sobre a mesa
Refeição daquele menino

Mar de esperança em seu redor
Num barquinho de papel
Vaga pintada a pincel
Vela a praia com amor

Troquem-se as voltas ao mundo
E depressa enquanto é tempo
Porque às vezes num segundo
Pode soprar novo vento

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terça-feira, 29 de setembro de 2015

Sombras

Cada vez mais 
Convencido da verdade falsa das coisas…

Ainda há pouco na rua
O sol projetava sombras escuras
Contornos preenchidos dum profundo negro
De gente ambígua na sua rotina…

As ruas estavam cheias
De pessoas parecendo pombos
Esvoaçando sem rumo ou direção
Chocando entre si
Num frenesim, feito jogo de crianças aos gritos
Carregando consecutivamente com os seus dedos
Botões que dão ordens a quem passa
Compondo a desordem, qual reflexo das suas vidas…

De repente há um carro que passa e não permite ouvir
O que se gostava de ter ouvido…
A perda do olhar lançado a algo que desapareceu
Por detrás do objeto em movimento
Projetando o desejo e a curiosidade
De se voltar a olhar o que não é permitido
Apenas porque um capricho de momento
Traçou linhas de perspetiva impossibilitando o vislumbre…

Por fim, o sol que projeta as sombras…
As sombras que se escondem por detrás dos corpos
Nos seus contornos preenchidos dum profundo negro
Caminhando rumo a nenhum lado…

Cada vez mais 
Convencido da verdade falsa das coisas
Tropeço nas sombras da rua…

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segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Coitadinhos

Não há lógica nos atos
Nem grandeza na atitude
Que a ingratidão amiúde
Tem os seus dias contados

Porque nunca nada é nosso
Nada é mais do que emprestado
Quando a simpatia é esforço
Esse papel é escusado

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Laura linda

Laura linda de mochila
Primeiro dia de escola
Vai contente e vai reguila
Louca p'ra chegar à aula

De mão dada com a mamã
Depois de tomar café
Vai na rua p'la manhã
Aos pulinhos p'lo seu pé

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quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Mutilátu

Viajo à velocidade da luz
Porém só lá vão dois minutos
Figuras balsâmicas perdidas no tempo
Ensaiam compassos com seus  braços enormes
Na espera de um abraço
Volto ao meu sono por outros tantos minutos
Braços mutilados os meus 
As mãos, trago-as decepadas, dentro dos bolsos

Na minha bolsa marsupial só te tenho a ti 

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Parto adiado

Abril puro como a água
Que bem querem inquinar
Vem p'rá rua festejar
Acabar com esta mágoa

Que teu povo de verdade
Não vai nunca te esquecer
Apesar da tua idade
Estás ainda p'ra nascer!

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segunda-feira, 23 de março de 2015

Virar da página

O virar da página
Quando já nada é esperado…

Livros são histórias
Contadas em muitas folhas
Intrigas que ficam para trás...

O virar da página
Momento tão desejado...
Um simples toque com o dedo, e... Zás!!...

A angústia do corte
O vazio do silêncio
O medo do torpor
Vestindo um luto de morte
Colorido pela dor...

Luta heroica e depois
Como travar a amargura?...
Viva o escritor sem medo da história!
Viva o leitor ávido de leitura!...
Viva tanto sofrimento dos dois!
Viva, viva, tanta loucura!...

O livro que caminha para o fim
Na ânsia insegura de que tudo foi escrito
Tem novo significado, sim
Na certeza de que nem tudo foi dito...
E no final, com o livro já fechado
A sensação de que algo foi apagado...

O  livro que não saiu da estante
A lombada firme aguardando o momento
Da mão que o pega e que perdida no tempo
Retoma o prefácio, tão perto, tão distante…

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quinta-feira, 5 de março de 2015

Meu nome é João Aristides Galaró, ou então, estranha forma de começar o dia

Hoje fui Aristides e Galo Galaró, ao mesmo tempo.
Porquê?... Ah, não sabem!?...
Antes de passar a explicar, sugiro que os mais pudicos e os mais impressionáveis, ou mesmo os mais depravados, da treta, é claro, fiquem por aqui.
O que aí vem pode ferir os ouvidos e as mentes de alguns leitores.
E pronto, a história do Aristides é a seguinte:
- Era uma vez uma quinta. Nessa quinta, havia um galo, de seu nome Aristides, já a entrar numa idade respeitável, é certo, mas segundo a opinião dos galináceos residentes, ainda muito competente.
Pelos vistos, não o suficiente para convencer o seu dono, que só pensava em lucro, em detrimento da satisfação geral, ou seja, da alegria no galinheiro.
O Aristides era um senhor e dava conta do seu recado, nunca deixando de colocar todo o seu savoir faire em tudo o que fazia.
A sua principal tarefa diária consistia em galar todas as galinhas poedeiras da capoeira, tarefa que desempenhava tranquilamente, para satisfação de cada uma das galinhas, já habituadas ao seu ritmo, charme e elegância, no ato.
Acontecia que, o dono, como muita gente que por aí há, começou a achar que o Aristides estava a ficar velho para o cumprimento da tarefa e, por isso, tratou de lhe arranjar um assistente, mais novo, a pensar já na sua reforma e imaginando o aroma e aparato do arroz de cabidela, no tacho.
Deste modo, por respeito, ou por sabe-se lá o quê, por peso na consciência, talvez, chamou o Aristides à parte e falou-lhe das suas intenções. Disse-lhe, em jeito de comprometimento:
- Aristides, conto com a tua compreensão e colaboração – ao que o Aristides, pessoa de honra marcada, acedeu e, desde logo, se prontificou a ajudar o seu novo colaborador.
Dois dias depois, o Galo Galaró, assim se chamava, foi-lhe apresentado.
Jovem, nervoso, cheio de tiques e de vontade, cedo percebeu que estava ali para lutar por um lugar ao sol e que emprego como aquele era tudo o que de melhor um galo podia aspirar.
O Aristides, perfeccionista e cavalheiro no desempenho da sua atividade, fez o que se chama um verdadeiro brefing, dando-lhe total conhecimento da sua tarefa diária e, como pessoa íntegra que era, não fugiu às suas responsabilidades de mentor, informando-o:
- Amanhã, pelas seis da madrugada, estarás aqui e eu acompanho-te na tua estreia. Dividimos a tarefa pelos dois e assim é tudo mais fácil.
Assim aconteceu. Na madrugada seguinte, quando ainda sonolento, a esfregar os olhos, chegou ao páteo da capoeira, o galo Galaró deu com todas as galinhas perfiladas, de rabo para o ar!... Ficou doido!
O Aristides, que mais parecia um capitão de companhia com o seu exército formado na parada, de asas cruzadas atrás das costas, caminhando de cá para lá, virou-se para o Galo Galaró e disse-lhe:
- É simples. A missão é galarmos as galinhas diariamente. Tu começas pela direita e eu pela esquerda, até nos encontrarmos no meio. Ah!... Existe um pormenor. Tudo tem de ser feito com o maior respeito pelas senhoras. Assim, quando te abeirares da primeira, ao mesmo tempo que a galas, cumprimenta-la “Bom dia, minha senhora”, segues para a segunda e dizes “Bom dia, senhorita”, novamente “Bom dia, minha senhora”… e assim sucessivamente. Posso contar contigo? – perguntou-lhe.
O Galo Galaró estava louco!
Disse que sim e colocou-se na linha de partida, do lado direito, conforme sugerido.
O Aristides, no lado esquerdo, deu o sinal de partida.
Com o seu ritmo habitual, o Aristides, tranquilo, cumprimentava uma a uma as galinhas, enquanto executava com calma e saber a sua tarefa.
- Bom dia, minha senhora – e passava à seguinte.
- Bom dia, senhorita – e lá seguia.
Investia na terceira e dizia:
- Bom dia, minha senhora – tudo com a maior das calmas.
Pelo seu lado, o Galo Galaró, muito acelerado, parecia funcionar em setenta e oito rotações:
- Bom dia minha senhora, bom dia senhorita, bom dia minha senhora, bom dia senhorita!! – como se não houvesse amanhã…
Ainda longe do meio da fila, o Aristides continuava:
- Bom dia, minha senhora…
E o Galo Galaró:
Bom dia minha senhora, bom dia senhorita, bom dia minha senhora! – até que!?...
- Bom dia senhorita, bom dia minha senhora, desculpa Aristides – (!?...)
Assim foi hoje!
Tal como com o Aristides, os anos passaram e resolvi fazer a revisão dos 50.000 Km, convencido que estou de que ainda existe um galo Galaró dentro de mim.
Mal sabia que nesta revisão teria de ser submetido à fatal ecografia à próstata, a fim de poder enfrentar os próximos 50.000 Km. Talvez o mais parecido em linguagem automóvel seja falar-se no check-up da centralina! Não sei se faz sentido, mas é sugestivo.
Pelo sim, pelo não, comprei a tal pistola para o médico me dar um tiro de imediato, caso o exame me fosse agradável.
Não foi preciso. Não gostei. Mas está feito!
Espero que o resultado seja encorajador e que eu possa continuar a dar conta da minha tarefa, se possível, meio Aristides, meio Galo Galaró.
Agora, o que me fez lembrar de toda esta história, foi o facto do Dr. Braço Forte (só o nome assusta! Imaginem quando o exame era feito por toque…), ao preparar-se para fazer a ecografia, com ar de quem não ia fazer coisa boa, me disse:
- Desculpe…
Aquilo soou-me a:
- Desculpa Aristides!...
Para o que um homem está guardado!?...

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segunda-feira, 2 de março de 2015

Contradição

A razão por que eu sou nada
É talvez por já ter sido
Uma história mal contada
Um poema sem sentido

Contradição do poeta!
Discussão intemporal
Toda a obra é sujeita
A controvérsia, é normal

Importante é refletir
Se a entrega foi total
Isso é que nos faz sentir
Quão a arte é universal

E em todo este desatino
A que se chama criação
A procura é o destino,
Destino é a insatisfação

Pobre poeta, pois então
Com sua vida baralhada
Poema sim em vez de não
Falsa história bem contada

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Segredo

Entre risos caminham a passo
Por Lisboa, tão linda cidade
Com suas bocas trocando humidade
Num só beijo que sela o abraço

E assim sendo há quem ponha a questão
Porque andaram os dois afastados
Será que se explicada a razão
Deixam todos de andar tão cismados?

Mas porque é que se havia de ter
A vontade de a todos falar
Muito mais interessante é ver

Para lá do que está bem à vista
Que o saber receber e o dar
É o segredo maior da conquista

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Questão geométrica

Nunca me olhei nas costas.
Nunca me olhei nos olhos.
Dito isto…,
Simplesmente não me conheço.

Não sei o que sentiria
Se o meu olhar penetrasse os meus olhos?
Ou tão só se apercebesse da largura dos meus ombros
Traçando uma perpendicular à verticalidade torta
Da minha coluna…

Não, o espelho não resolve.
Embacia frequentemente.
Apenas reproduz a imagem inicial.
Não mais do que a cópia ou o reflexo inflexo
Do eu que eu não conheço.

Vou comprar um esquadro p'ra com ele
Traçar todas as linhas tortas que desconheço.
Com um transferidor, transferir o ângulo
Da perspetiva das coisas
Perspetivando-o no plano do desconhecimento…

Fica assim a coisa mais simples…
Melhor mesmo não me conhecer!...

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domingo, 22 de fevereiro de 2015

À deriva

Cansado, não sei
Da vida, talvez
Amor, eu navego
Em mar português
E às duas por três
Nem sei se renego
Por uma só vez
O quão naveguei

Perdido no mar
Carrego a saudade
À tona da água
Vou na enxurrada
Minha alma molhada
De mar e de mágoa
Toda ela é verdade
Pronta a se afogar

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Meu pinhal, meu país

Oh pobre pinhal queimado
O que avisto desta janela
Moribundo a meu lado
Cor de esperança? Nem vê-la!

Ainda em pé, tristes e sós
Árvores choram resistentes
De troncos negros e ardentes
Consumidas, já sem voz

Triste imagem a deste país
Mesmo em nada diferente
À de toda a sua gente
Escura, cinzenta e infeliz

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sábado, 14 de fevereiro de 2015

O amor anda no ar e às vezes evapora-se

Parece que o amor anda no ar!...
Hoje, é o dia de São Valentim. E daí?...
Desde sempre, quando ouvia o nome Valentim, associava-o imediatamente aos discos do Valentim de Carvalho.
Mais tarde, por volta dos 12 anos, altura em que comecei a ler a “A Bola” regularmente, Valentim só havia um, o Loureiro e mais nenhum!
Ah, e na Emissora Nacional, bem como no Rádio Clube Português passava uma música com um refrão que nunca mais esqueci “Quero o Valentim, olaró laró, quero o Valentim, olaró meu bem”!?... E aqui sim, existiam já alguns sinais de amor…
Mas, afinal quem foi Valentim, aquele que dizem ter sido santo?
Humm, de santo, ele não tinha nada. Então, sendo ele bispo, desobedeceu às ordens de Roma e continuou a celebrar casamentos numa época em que tinham sido proibidos!? Mais me parece ter sido uma atitude bem humana, a da desobediência...
Pobre Artérias, que sendo cega, logo tinha de se apaixonar por um homem que lhe escrevia cartas do calabouço. Diz a história que, milagrosamente, recuperou a visão. Não se sabe mais nada, nem sequer se alguma vez o chegou a ver!?...
Fica à imaginação de todos, se por acaso isso aconteceu e a pobrezinha fugiu para sempre, ou se para além da visão, recuperou também o juízo!?...
Já hoje a loucura é geral!
Bem que hoje tanto podia ser o Dia de São Valentim, como  o Dia das Mentiras. Há dias para tudo e não há de tudo todos os dias.
Recordo há uns anos que, numa noite de 14 de Fevereiro, ali, num restaurante junto às docas, jantei com uma amiga minha… Sim, verdade, apenas amiga!
Conversámos durante todo o jantar e estivemos em modo de observação contínua, comentando o que se passava nas outras mesas, ao nosso redor.
Nalgumas delas havia certamente paixão no ar, mas noutras, senão na maioria, o ar de zanga de alguns casais era notório e o silêncio existente entre outros, era de cortar à faca. Até as velas românticas nos pareciam de prece, ou súplica, rogando a São Valentim que os tirasse de lá, o mais rápido possível.
Gostava de saber quantos daqueles casais de namorados, continuam juntos, quando até a amizade pela minha amiga se apagou com o tempo…
Pois é, mas hoje é dia de festejar os novos, os velhos, os eternos, os efémeros e até os adiados amores! Viva o São Valentim!
Vivam as flores e as floristas, os restaurantes e os chefes! Vivam as juras e as promessas de amor, com figas por debaixo da mesa! Vivam as mãos nas pernas e vivam os empernanços! Vivam as trocas de olhares apaixonados e os olhares que nunca se encontram…
Acho apenas que o homem altera tudo isto e o espírito da coisa é deturpado logo à nascença. O dia dos namorados devia ser celebrado todos os dias, cliché que já cansa. Mas a mentira também é um cliché e as paranóias coletivas também.
Os casais deviam ser sempre felizes e não tirarem o dia de hoje para o serem forçosamente, ou simplesmente casais.
E porque não há-de ser tudo ao contrário?... Porque é que o dia de hoje não é dedicado aos que não têm nenhum amor nas suas vidas? Porque é que aqueles que amam e não são correspondidos, não hão-de de celebrar o amor também? Porque é que não brindam alguns aos seus ex amores!?...
Não haverá por aí um restaurante com um programa de festa para esta gente? Sem velas, sem música romântica e sem felicidade inventada?
Seria certamente um nicho de mercado interessante.
Iria ser bem divertido. Um jantar com gente real, alguma dela disposta a embarcar numa aventura amorosa e tudo, tudo gente sem compromissos impostos.
Um verdadeiro jantar dedicado ao amor!
E mais, poder-se-ia convidar o São Martinho, já que, com o frio que está, umas castanhinhas saberiam sempre bem. O São Cristóvão também, padroeiro dos viajantes, para no final os levar de volta a casa, em segurança... Por fim, o São Pedro, trazendo com ele as suas chaves, úteis para lhes abrir a porta…
Já o São Valentim, ficaria tão somente encarregue de escrever uma carta a todos os namorados e casais oficialmente reconhecidos, dizendo o seguinte:
- Vá lá, deixem-se de tretas, venham mas é para a nossa festa, se não, chamo o São João para vos dar com uns alhos porros na cabeça!


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sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Sol e sombra

A sombra existe porque há sol
E a mão escreve com vontade
Escondida em mim a recusa do abandono
A recusa da escuridão…
Crianças brincam no jardim
Trazem um chapelinho nas cabeças
Não vá o sol fazer-lhes mal
Mas e eu?...
Porque é que eu não escrevo com luvas!?...
Escrevo como quem brinca ao sol
Solto um grito, um sorriso, um soluço
Agarrado à fluidez das palavras deixo-me ir
Como quem se agita no baloiço e balanço
Voo cada vez mais alto
Vou cada vez mais longe…
E não tenho medo da queda
O sol projeta a sombra em movimento
Que nunca toco
Mas sigo com o olhar…
Salto do baloiço
Despeço-me das crianças e do sol
E guardo a caneta no bolso

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terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Poema inacabado

Nunca me levei a sério
Em tudo aquilo que fiz
Minha escrita é um mistério
Verve pobre, infeliz...

Sem ter forma ou conteúdo
Num desatino que asfixia
Meu silêncio é poesia
Se gritado por um mudo

E se algo eu nunca escrevi
Ou se aqui não foi mostrado
Silêncio! Deve-se a ti!
És poema inacabado...

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Se assim não for

Deste vício eu não me queixo
Alimento dos meus dias
De te amar eu não me deixo
Diz-me tu se é como querias?

Se não for desta maneira
Então não é bom indício
Passa a ser um desperdício
Forma menos verdadeira

Que o amor deve ser louco
Desequilibrado e doentio
Se o não for sabe-me a pouco
Gela-me o peito com frio

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segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Sou, sou, sou...

Sou o tosco, o naif, o poeta
Sonhador, o artista da treta
O pintor, dos que pinta aguarelas
Contador de outras tantas balelas

Sou a anedota, sou o riso e a piada
Tanta coisa e às vezes sou nada
O vazio que me ocupa e me cansa
Sou o herói cheio de medo que avança

Sou o sonho que dorme comigo
Que me acorda e me fala ao ouvido
Com a vontade que ora vai e ora vem
Sou o que ri e o que chora também

Eu sou o muro que teimo em saltar
A barreira que tento passar
O deserto que tenho p'la frente
Eu sou um boneco entre tanta gente

Sou eu próprio, o que não se conhece
Que se esconde e que não se merece
Sou aquele que nunca se dá
O que embora presente, não está

Sou o amante por vezes querido
Curioso, fugaz e atrevido
Fugidio, que é medroso e incapaz
O herói ou vilão, tanto faz

Sou eu mesmo e assim como sou
Dá-me o tempo aquilo que tirou
Se essa ausência for o meu castigo
Sou feliz por o haver já cumprido

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quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

O Mágico

Meu amigo isso já passa
Que tu és daquela raça
Antes partir que torcer

Toma lá aquele abraço
Muito firme, sem cansaço
Meu amigo, p’ra valer

Vê se voltas para casa
Como que num golpe de asa
Dos que só tu sabes dar

Que o jogo não terminou
O apito não soou
Vais continuar a jogar

Neste campo fazes falta
És o craque cá da malta
Queremos festejar contigo

Que o jogo sem ti não presta
És daqueles que nos resta
Ter p’ra sempre como amigo

Houve jogos no passado
Em que o grupo derrotado
Deveu a vitória a ti

Por isso vais dar a volta
Põe tua magia à solta
Como tu eu nunca vi!

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quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

O desejo do ensejo

Trago o meu peito tão cheio
De calor, mais do que meio
Com ardor a palpitar

Tivesse ele mais espaço
Que eu traçaria a compasso
Tua boca p’ra beijar

Iludido é que não
Pois pior do que a ilusão
Meu destino, este sofrer

Dai-me forças Deus, então
P’ra acalmar meu coração
Pois assim não sei viver

Seja este o meu castigo
Partilhar junto contigo
Lado a lado e até ao fim

O destino deste amor
Carregado de torpor
Tão sofrido para mim

Trago o meu peito tão cheio
De tão grande é meu receio
Possa um dia ele estoirar

Permita Deus esse ensejo
Realizando o meu desejo
Tua boca poder beijar

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