terça-feira, 1 de julho de 2014

O pássaro

Incomunicável, é como eu estou
O mundo não sabe de mim        
O mundo não quer saber de mim
E eu…
Eu que nele habito há tanto tempo
Tenho andado distante
Com vontade de desistir
Ao ponto de por vezes já não o reconhecer
E de não me reconhecer a mim, também
Eu que ando distraído…

Aqui estático, observo o final de tarde
Um carro que chega, outro que sai
Um pássaro que voa
Uma folha de árvore que cai…
Os meus olhos registam imagens
Distorcidas pela graduação das lentes dos meus óculos
Pousados tortos sobre o meu nariz
O meu cérebro recebe assim duas imagens distintas
Ousando descodificar qual delas a mais subjetivamente real
O que é difícil…

O mundo, esse não sabe de mim
Muito menos quer saber de mim
E ele…
Se ele estiver a ver-me
No sentido inverso do meu olhar através das lentes dos meus óculos
Poderá concordar que também eu represento a dúvida
Da realidade subjetiva da imagem
Da existência da distorção...
É que eu tenho andado distante
Com vontade de desistir…

O vento sopra agora mais forte
Enfunando-me a vontade de passar para o papel o que tenho vindo a sentir
E eu tento escrever…
Mas não consigo
O pássaro que voa interrompe constantemente o momento da criação
Levando o meu olhar
Desta feita, o meu cérebro descodifica imagens intermináveis
Mais de mil…
O pássaro cai tombado no chão
Mas nada posso fazer...

Incomunicável, é como eu estou
O mundo não sabe de mim        
O mundo não quer saber de mim
E eu…
Eu continuo distante e desisto
Os lugares já estão todos ocupados
Não há sinal de carros a chegar muito menos a partir
A praceta está completa e o vento acalmou
E o mundo…
O mundo, esse, não quer saber de mim, nem do pássaro…

… /…

Um comentário:

Anônimo disse...

Nem de mim .... Nem eu dele!