O Natal está
à porta, mas desta vez não me sinto entusiasmado…
A alegria e a ansiedade de outrora, não são as mesmas.
A sociedade
em que vivemos e a própria vida encarregaram-se de, a cada ano, arrasar o
espírito de Natal. A quadra não é mais do que uma época importantíssima no
calendário comercial, a melhor das oportunidades para o capital vencer sobre
todas as coisas.
Também os afetos e os sentimentos são negociados.
Também os afetos e os sentimentos são negociados.
Em grande
parte dos casos, as famílias, entretidas que andam durante o ano, de candeias às avessas, resolvem unir-se e serem felizes, por estes dias.
Assim, a
melhor forma de reforçarem os seus laços é oferecendo-se presentes,
na tentativa de causarem boa impressão no destinatário, como se isso purgasse
as fracas ou mesmo nulas prestações afetivas, ao longo de mais um ano de
ausência partilhada.
E assim, dessa
forma, todos são felizes por uns dias.
Come-se bem,
tira-se as barrigas de misérias e passa-se os próximos trinta dias a
praguejar contra o “exagero” que foi tanta comida!... - Para o ano vai ser diferente!... - repete-se constantemente.
À volta das
mesas, alguns aproveitam para fazer as pazes e juras de mudança, são
frequentes. Dali em diante, tudo será diferente, para melhor, é claro.
Muita gente, uma semana depois, por volta do Ano-Novo, já esqueceu o
comprometimento e a história repete-se.
Nada que não
se resolva no próximo ano com uma prenda choruda e um novo banquete, se
possível, bem regado.
Ainda à
volta da mesa, com as barrigas já compostas e os fígados atestados, soltam-se
palavras e atitudes despropositadas, recalques que vêm à tona, aproveitando o
facto de se estar juntos uma só vez durante o ano. São os fantasmas que se
revelam, as mágoas postas à prova, estimulados pelos aromas e temperos da ceia
em família.
O Natal
também é isso…
As crianças
assistem a tudo e afastam-se para o recanto das salas e dos seus quartos,
entretidas que estão com os presentes, que farão as suas delícias, por uns dias.
Tudo muito volátil, tudo muito descartável.
O Natal que
nos é imposto passa a correr!...
Na verdade,
aquela semana não representa sequer dois por cento dos trezentos e sessenta e
cinco dias que compõem o ano.
Pura ilusão,
pois! O que passa a correr é todo o resto do ano, a própria vida também.
Por tudo
isto, este Natal não me sinto nada entusiasmado.
Quero, pois,
ficar no meu canto, de acordo com o que tem sido a minha vida nos últimos
tempos.
Abraçarei os
que amo e aos mais novos tentarei fazer-lhes sentir o que é para mim o Natal.
Se me sentar
com eles à mesa, será para rirmos e trocarmos olhares cúmplices, de quem se
gosta para além do Natal e investe nessa partilha, o verdadeiro e único capital
incalculável.
Quero vibrar
com as luzinhas e com os cheiros do cedro e azevinho utilizados no centro de mesa. Quero saborear as
filhós de abóbora que me transportam para os meus Natais de outrora ou, então, simplesmente
sentar-me e ficar a olhar para a minha neta a brincar.
Dispenso os
presentes e um beijo seu e da sua mãe bastam-me, assim como a ideia de que há
gente que, nem que seja por um momento, pensa e gosta de mim.
Desta forma, feliz e tranquila, quero que seja o meu Natal. Só assim ele faz sentido.
Quero chegar
ao final da quadra festiva e não perceber que ela já lá vai.
Deste modo, o novo ano passará calmamente e o Natal
não ensombrará a minha vida… ... /...
Um comentário:
Pai, da nossa parte não contes somente com um beijo... Terás muitos, destes que estão guardados só para ti! Ah...e não são só para o Natal, estão guardados para todos os dias de todos os anos! Beijinho*
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