domingo, 22 de fevereiro de 2015

À deriva

Cansado, não sei
Da vida, talvez
Amor, eu navego
Em mar português
E às duas por três
Nem sei se renego
Por uma só vez
O quão naveguei

Perdido no mar
Carrego a saudade
À tona da água
Vou na enxurrada
Minha alma molhada
De mar e de mágoa
Toda ela é verdade
Pronta a se afogar

… /…

Meu pinhal, meu país

Oh pobre pinhal queimado
O que avisto desta janela
Moribundo a meu lado
Cor de esperança? Nem vê-la!

Ainda em pé, tristes e sós
Árvores choram resistentes
De troncos negros e ardentes
Consumidas, já sem voz

Triste imagem a deste país
Mesmo em nada diferente
À de toda a sua gente
Escura, cinzenta e infeliz

... /...

sábado, 14 de fevereiro de 2015

O amor anda no ar e às vezes evapora-se

Parece que o amor anda no ar!...
Hoje, é o dia de São Valentim. E daí?...
Desde sempre, quando ouvia o nome Valentim, associava-o imediatamente aos discos do Valentim de Carvalho.
Mais tarde, por volta dos 12 anos, altura em que comecei a ler a “A Bola” regularmente, Valentim só havia um, o Loureiro e mais nenhum!
Ah, e na Emissora Nacional, bem como no Rádio Clube Português passava uma música com um refrão que nunca mais esqueci “Quero o Valentim, olaró laró, quero o Valentim, olaró meu bem”!?... E aqui sim, existiam já alguns sinais de amor…
Mas, afinal quem foi Valentim, aquele que dizem ter sido santo?
Humm, de santo, ele não tinha nada. Então, sendo ele bispo, desobedeceu às ordens de Roma e continuou a celebrar casamentos numa época em que tinham sido proibidos!? Mais me parece ter sido uma atitude bem humana, a da desobediência...
Pobre Artérias, que sendo cega, logo tinha de se apaixonar por um homem que lhe escrevia cartas do calabouço. Diz a história que, milagrosamente, recuperou a visão. Não se sabe mais nada, nem sequer se alguma vez o chegou a ver!?...
Fica à imaginação de todos, se por acaso isso aconteceu e a pobrezinha fugiu para sempre, ou se para além da visão, recuperou também o juízo!?...
Já hoje a loucura é geral!
Bem que hoje tanto podia ser o Dia de São Valentim, como  o Dia das Mentiras. Há dias para tudo e não há de tudo todos os dias.
Recordo há uns anos que, numa noite de 14 de Fevereiro, ali, num restaurante junto às docas, jantei com uma amiga minha… Sim, verdade, apenas amiga!
Conversámos durante todo o jantar e estivemos em modo de observação contínua, comentando o que se passava nas outras mesas, ao nosso redor.
Nalgumas delas havia certamente paixão no ar, mas noutras, senão na maioria, o ar de zanga de alguns casais era notório e o silêncio existente entre outros, era de cortar à faca. Até as velas românticas nos pareciam de prece, ou súplica, rogando a São Valentim que os tirasse de lá, o mais rápido possível.
Gostava de saber quantos daqueles casais de namorados, continuam juntos, quando até a amizade pela minha amiga se apagou com o tempo…
Pois é, mas hoje é dia de festejar os novos, os velhos, os eternos, os efémeros e até os adiados amores! Viva o São Valentim!
Vivam as flores e as floristas, os restaurantes e os chefes! Vivam as juras e as promessas de amor, com figas por debaixo da mesa! Vivam as mãos nas pernas e vivam os empernanços! Vivam as trocas de olhares apaixonados e os olhares que nunca se encontram…
Acho apenas que o homem altera tudo isto e o espírito da coisa é deturpado logo à nascença. O dia dos namorados devia ser celebrado todos os dias, cliché que já cansa. Mas a mentira também é um cliché e as paranóias coletivas também.
Os casais deviam ser sempre felizes e não tirarem o dia de hoje para o serem forçosamente, ou simplesmente casais.
E porque não há-de ser tudo ao contrário?... Porque é que o dia de hoje não é dedicado aos que não têm nenhum amor nas suas vidas? Porque é que aqueles que amam e não são correspondidos, não hão-de de celebrar o amor também? Porque é que não brindam alguns aos seus ex amores!?...
Não haverá por aí um restaurante com um programa de festa para esta gente? Sem velas, sem música romântica e sem felicidade inventada?
Seria certamente um nicho de mercado interessante.
Iria ser bem divertido. Um jantar com gente real, alguma dela disposta a embarcar numa aventura amorosa e tudo, tudo gente sem compromissos impostos.
Um verdadeiro jantar dedicado ao amor!
E mais, poder-se-ia convidar o São Martinho, já que, com o frio que está, umas castanhinhas saberiam sempre bem. O São Cristóvão também, padroeiro dos viajantes, para no final os levar de volta a casa, em segurança... Por fim, o São Pedro, trazendo com ele as suas chaves, úteis para lhes abrir a porta…
Já o São Valentim, ficaria tão somente encarregue de escrever uma carta a todos os namorados e casais oficialmente reconhecidos, dizendo o seguinte:
- Vá lá, deixem-se de tretas, venham mas é para a nossa festa, se não, chamo o São João para vos dar com uns alhos porros na cabeça!


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sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Sol e sombra

A sombra existe porque há sol
E a mão escreve com vontade
Escondida em mim a recusa do abandono
A recusa da escuridão…
Crianças brincam no jardim
Trazem um chapelinho nas cabeças
Não vá o sol fazer-lhes mal
Mas e eu?...
Porque é que eu não escrevo com luvas!?...
Escrevo como quem brinca ao sol
Solto um grito, um sorriso, um soluço
Agarrado à fluidez das palavras deixo-me ir
Como quem se agita no baloiço e balanço
Voo cada vez mais alto
Vou cada vez mais longe…
E não tenho medo da queda
O sol projeta a sombra em movimento
Que nunca toco
Mas sigo com o olhar…
Salto do baloiço
Despeço-me das crianças e do sol
E guardo a caneta no bolso

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terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Poema inacabado

Nunca me levei a sério
Em tudo aquilo que fiz
Minha escrita é um mistério
Verve pobre, infeliz...

Sem ter forma ou conteúdo
Num desatino que asfixia
Meu silêncio é poesia
Se gritado por um mudo

E se algo eu nunca escrevi
Ou se aqui não foi mostrado
Silêncio! Deve-se a ti!
És poema inacabado...

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Se assim não for

Deste vício eu não me queixo
Alimento dos meus dias
De te amar eu não me deixo
Diz-me tu se é como querias?

Se não for desta maneira
Então não é bom indício
Passa a ser um desperdício
Forma menos verdadeira

Que o amor deve ser louco
Desequilibrado e doentio
Se o não for sabe-me a pouco
Gela-me o peito com frio

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segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Sou, sou, sou...

Sou o tosco, o naif, o poeta
Sonhador, o artista da treta
O pintor, dos que pinta aguarelas
Contador de outras tantas balelas

Sou a anedota, sou o riso e a piada
Tanta coisa e às vezes sou nada
O vazio que me ocupa e me cansa
Sou o herói cheio de medo que avança

Sou o sonho que dorme comigo
Que me acorda e me fala ao ouvido
Com a vontade que ora vai e ora vem
Sou o que ri e o que chora também

Eu sou o muro que teimo em saltar
A barreira que tento passar
O deserto que tenho p'la frente
Eu sou um boneco entre tanta gente

Sou eu próprio, o que não se conhece
Que se esconde e que não se merece
Sou aquele que nunca se dá
O que embora presente, não está

Sou o amante por vezes querido
Curioso, fugaz e atrevido
Fugidio, que é medroso e incapaz
O herói ou vilão, tanto faz

Sou eu mesmo e assim como sou
Dá-me o tempo aquilo que tirou
Se essa ausência for o meu castigo
Sou feliz por o haver já cumprido

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