segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Catarina

O seu nome é Catarina
Extensão viva do meu braço
Obra prima de um só traço
Luz maior que me ilumina

Círculo traçado a compasso
Com rigor que eu não mereço
Perpetuado no abraço
Num aperto que eu não esqueço

E se vaidoso pareço
Não é essa a intenção
Sinto-me apenas feliz

Pois a luz onde me aqueço
Do meu ser é projeção
Maior obra que eu já fiz

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sábado, 5 de novembro de 2016

Sucesso sem nexo, nem sexo

Lá fogem de quando em vez
Do mundo e de quem os fez
Deixando-se confundir
Às vezes consigo próprios

E a horas que são de dormir
Bem cedo p'la madrugada
Lá vão p'rá vida que é nada
Cheios de medos e ódios

Levam consigo um semblante
Treinando o estilo e a pose
Um tique, um ar confiante
Só, pois, porque sim, because...

E mesmo sendo a fingir
O que importa é o sucesso
Levam a vida a sorrir
Talvez por falta de sexo 

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domingo, 16 de outubro de 2016

Remorso

Ah maldito sentimento
Que aqui bate no meu peito
É remorso não desfeito
P'la saudade e arrependimento

Histórias únicas contadas
Curiosas, delirantes
De painéis, letras pintadas
Dedos esguios tão fumegantes

Traços por mãos que tremiam
Poesia a brotar na pele
De napalm que o amarrou

Vendo o que os outros não viam
Foi 25 de Abril aquele
Dia que o não libertou...

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sábado, 1 de outubro de 2016

Dieta em soneto

Este bocado de porco
Atazana-me o juízo
Certo será prejuízo
Se tentar comer um pouco

Já o osso do entrecosto
É o melhor deste petisco
Pois sem carne não há risco
De engordar o que é desgosto

Venham então esses ossos
Que o que eu quero é roer
De azeitonas, os caroços

Não há nada que saber
Ao jantar como tremoços
Objetivo emagrecer

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quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Perfídia

Volátil essa pujança
De quem com tanta cagança
Papada e tamanha pança
Exibe todo o poder

Falsidade de criança
Transportada desde infância
Quão pérfida tal herança
Fraca fraqueza, que horror

Infeliz, nada a fazer
Se não puder perceber
Que é esse o peso do nada

Súbito numa levada
Assim só de uma assentada
Lhe vinga todo o prazer

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terça-feira, 26 de julho de 2016

Madrugada

Trazes a força nas mãos
Dormentes muitas das vezes
Por mais que se esgotem os meses
Nada terá sido em vão
Ainda de noite bem cedo
Fica o cansaço na cama
Depressa te arranjas, sem medo
Em tuas filhas, um beijo, um segredo
De amor que te queima sem chama

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A importância do último dia

No dia em que eu morrer gostava que fizesse sol… que o dia amanhecesse tranquilo e terminasse da mesma forma.
Nesse dia, no dia em que eu morrer, era bom que pudesse passá-lo sozinho e, se o inevitável se desse pela madrugada ou de manhã cedo, gostava de poder ter estado sozinho na véspera. Apenas para descomprimir um pouco, assentar algumas ideias e, quem sabe, despachar alguns assuntos adiados, daqueles que andamos a empurrar com a barriga, ao longo de toda uma vida.
Entre algumas preocupações relacionadas com a chegada desse dia, a ideia de partir e deixar a casa desarrumada, roupa por lavar e engomar, incomoda-me. Mais do que incomodar, stressa-me, para além de que me é desconfortável pensar que vai haver gente a ter de pôr a minha casa em ordem, não bastasse a tarefa de dar caminho a uma série de coisas que ninguém valoriza, a não ser o próprio, o falecido.
Depois, sempre achei que a pior coisa que pode acontecer a quem lida com um corpo rijo é o deparar-se com um, ainda por cima, stressado. Deve ser assim como uma espécie de bife rijo, cheio de nervos.
Pelo menos, é o que dizem… Que os animais, no matadouro, quando perto da morte, pressentem-na e, por isso, stressam. Daí os bifes cheios de nervos e a carne rija.
Bom, dizia eu que, no dia em que eu morrer, gostava de deixar a minha casa arrumada, além disso, as minhas coisas e a minha vida o mais organizadas possível.
Assim, todos me recordariam dessa forma, “olha, ali está um gajo que era arrumado e organizadinho!”. No meio de tanta coisa que é dita na ocasião, elogios desesperados na tentativa de sublevar a memória do defunto, deve ser das melhores coisas que podem ser ditas: Um gajo organizado que se vai e que deixa tudo arrumadinho.
A vida toda organizadinha para além da morte.
Mas, não era só!
Gostava também de tirar o dia só para mim, a fim de me arranjar e preparar-me para o que virá em seguida. Dar um toque no cabelo, fazer a barba, bem-feita, pelo menos, uma vez na vida, cortar as unhas, as das mãos e as dos pés e aparar os pelos do nariz, das sobrancelhas e das orelhas, para ficar o mais apresentável possível.
Afinal de contas, serei a estrela da companhia. Já apagada, é certo…
Como já referi, também, no dia em que eu morrer gostava que fizesse sol…
A ideia de me sentir gelado incomoda-me, para além do desconforto que isso provoca. Um tipo fica inerte, tipo rigidez matinal eterna. Como tal, gostava de não ter de passar por isso.
Assim, o pormenor da roupa é importante. Meia estação, se possível, ou então, equipado à Benfica, calção e manga curta, que o material climalight da Adidas ajuda, para além do calor da chama imensa! Parece-me mais confortável, assim…  
Uma última preocupação… os óculos. Sim, porque sem eles não enxergo nada… Já agora, as lentes dos óculos bem limpas, sem ponta de gordura ou marca de dedada.
E no momento de taparem a caixa, será bom que se certifiquem disso. É que às vezes, no entusiasmo das despedidas, há um bafo, uma lágrima fortuita que pinga sobre as lentes provocando uma visão distorcida.
Depois do assunto arrumado, que cada um volte para a sua vida, pois que eu seguirei a minha.
Desta forma, até vou ter saudades disto e a minha memória não servirá de chacota, como aconteceria se eu fosse um gajo desorganizado e desarrumado, coisa que daria trabalho aos outros, para além dos comentários que provavelmente se ouviriam proferir:
“Lá vai ele, bom rapaz, é certo, mas toda a vida foi assim… E agora, quem cá fica que se amole. Bom, pelo menos, foi-se num dia de sol!…” 

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sexta-feira, 27 de maio de 2016

Natal Novo

Nada mesmo é o que somos
Apesar de alguns cromos
Se acharem tão especiais

De uma coleção fatal
Que se vende no Natal
Num show off p'rós demais

É então vê-los deslumbrados
Bem nutridos e abastados
A rasgar muitos papéis

De presentes irritantes
Todos tão impressionantes
Alguns deles dignos de reis

Quanto a isso não há volta
Na verdade o que revolta
É o desdém com que esses tais

Se referem aos presentes
De amigos que ausentes
Os recordam nos Natais

Importante o sentimento
A vontade no momento
Sincera de querer mimar

Nunca, nunca a fantochada
Da oferta de fachada
Dada para impressionar

Curioso este mundo
Que não pára um segundo
Gira atento sem parar

E lá chega certo dia
Por acaso ou por magia
Nos faz em tudo pensar

Fosse o Natal mais sincero
P'ra todos no mundo inteiro
Desejo que sempre quis

Sem presentes nem dinheiro
Mas de coração inteiro
Era o mundo mais feliz!...

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domingo, 1 de maio de 2016

Menino abril

Ai abril, menino abril!...
De ti há quem não se lembre
Passem anos, mais de mil
Viverás em mim p'ra sempre

És p'ra muitos a razão
De passar por esta vida
Tua luta pelo pão
Numa guerra tão sofrida

Abril mês, vida e esperança
De um amor que fez sofrer
Serás sempre uma criança
Que dá gosto ver crescer

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terça-feira, 26 de abril de 2016

Foguetão

Minha mãe, força e coragem
No horizonte, estrela guia
Teu amor, minha bagagem
Companheira de viagem
Lua cheia no meu dia

Astronauta do amor
Mais veloz do que um cometa
Teu foguetão em rigor
Larga lastro de calor
Sobre todo o meu planeta

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segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

O Fotógrafo Sem Medo!

Parabéns, amigo, por mais um ano na tua caminhada!
Obrigado por seres meu amigo e, por isso, dela fazer parte.
As tuas imagens, por vezes, têm sido mola de balanço para as minhas criações.
Não pares, nunca!... Continua sempre, assim... sem medos!...


Põe no toque do seu dedo
A extensão do seu olhar
De arma em punho, manhã cedo
Por Lisboa em desassossego
Objetivo: disparar!

E eis como que por magia
Se revela seu segredo
Faz pintura e faz poesia
Em cada fotografia

O Fotógrafo Sem Medo!

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domingo, 3 de janeiro de 2016

Escrever ou morrer

Por vezes escrever o que quer que seja
É disponibilidade e até
Quer se deseje muito ou se não queira
O certo é que é bem mais do que se enseja
Ato de criação, uma canseira
Um é que não é, que não se deseja

Por vezes escrever o que quer que seja
Tem sempre um quê de força de vontade
E mesmo que por vezes se não queira
Cansa muito mais do que se deseja
Destrói-nos cá dentro de tal maneira
Ao ponto de a morte meter inveja

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