quinta-feira, 26 de junho de 2014

Presente envenenado

Dão-nos um nome e um número
Comprido, e logo ao nascermos
Roubam-nos o sonho e a identidade
Obrigando-nos a crescer incógnitos
E sem esperarmos, num dado momento
Donos de nós, que falsidade
Pois, injustiçados há muito, 
Ainda nos acusam de havermos pecado

Em jeito de redenção, acendem-nos o paraíso
Mas servem-nos o inferno já apagado
Exploram-nos anos e anos, a fio
Humilham-nos e esquecem-se de nós
Sempre que decidem ser necessário
Chupam-nos o tutano, impõem-nos desafios
Decretam que somos precisos, mas mostram-nos o contrário!
Manipulam-nos e aligeiram-nos a idade

Querem-nos jovens até bem tarde
Impedem-nos o que seria o descanso merecido
Prolongando-nos por mais meia vida a meia-idade
Matam-nos a alegria e ficam-nos com a liberdade
Já perto do fim, adiam-nos o fim e a felicidade
De vez em quando usam-nos
Passeiam a nossa velhice pela avenida
Num cortejo onde a mentira se confunde com a verdade

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