quinta-feira, 29 de maio de 2014

Asas

Tenho uma vida lá fora
À espreita do meu caminho
Quer seguir-me pese embora
Tenha medo do destino

Tem receio de quem sou
Pois conhece o meu passado
Sabe bem que não me dou
A quem me traga amarrado

É que as asas que eu transporto
Sempre souberam voar
Guiadas pelo coração

Atá-las isso é que não
Mais valia me matar
Que de morrer não me importo

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domingo, 18 de maio de 2014

Magia na sala

Eis que a porta se abre
E tu entras de mansinho na sala
Mais do que uma simples entrada
És furacão, invasão tão bela
Deixando a sala toda iluminada...

E a corte de faca ou de sabre
Rasgas-me o medo de errar
Vislumbro-te debruçada na cadeira
Sinto-te na sala a rodopiar
Tocando-me o rosto, tal brisa verdadeira...

Olho então para os meus dedos
Já sem medo de falhar
Nas teclas parto solto à aventura
Brancas, pretas, o que calhar...
Que melodia! Que liberdade! Que loucura!...

Noite mágica p’ra recordar…

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sábado, 10 de maio de 2014

À noite

A noite soa-me a loucura
Só, em casa, oiço todos os sons do mundo
Alguns que recordo
Outros que jamais ouvi
Consigo escutar minha mãe a me ralhar
Som doce… e no entanto
Ignoro o pranto duma criança, ao longe, a chorar …

À noite, em casa, quando estou só
Sou invadido por uma esquizofrenia louca
Que me tele transporta do meu sótão
Levando-me até junto daquela criança que sofre
Lá longe, no mais distante lugar do mundo
Onde mulheres desaparecem e são esquecidas
Enquanto aqui eu escrevo, bocejo e complacente durmo…

E é à noite que por vezes eu acordo agitado
Nada de novo, já é costume…
Desperto de um sonho que me instiga tremura
Acordo trémulo e confuso
Transpiro e às vezes enlouqueço, outras quase que vomito
Tal é a minha revolta profunda
Por vezes choro, o que me acalma e acobarda a vontade do grito…

Ah sons do mundo que no ouvido deste surdo
Surtem um efeito pouco mais do que mudo
Não falando, quase juraria que oiço
Consequência do silêncio ruidoso que me invade
Deixando-me confuso ao não compreendê-lo
Revoltando-me comigo ao rever-me num ser cobarde
Que na verdade o sou por mais que não queira sê-lo

Ah loucura que traz a noite até mim
Que embora escura, é bela e que por ser bela tem um fim
Enquanto aquela criança lá longe sofre
Numa guerra estúpida que destrói o seu mundo
Entre mulheres, seres violentados  
Sob o olhar conivente de um planeta surdo mudo
Escutando indulgente o eco dos silêncios amordaçados

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quarta-feira, 7 de maio de 2014

Coisa rocambolesca

Não sei se é amor
Se pensar bem, digo não sei…
Amor é suposto dar dor
Ardor, calor, tumor, rubor
E mais do que suposto, é lei…

Em vez disso sinto uma brisa
Que me invade e me refresca…
Qualquer coisa que me tranquiliza
Que após feita alguma pesquisa
No mínimo, é coisa rocambolesca…

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terça-feira, 6 de maio de 2014

Até já

Nem pensar em ficarmos sós
É um ir ali, até já…
Que a ausência dos que amamos
Também pode ser sinónimo de felicidade
Sinais de tempos de mudança
Porque assim se cria uma criança
Há sempre o amor ao longo dos anos
Há a alegria, há a raiva e a vontade
E às vezes há muita saudade…

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O comboio do amor

Ouvi barulho nos carris
Pensei que era chegada a hora
Nervoso, levantei-me pronto para correr
Pronto para ser feliz
Mas não…

Não era o comboio a chegar à estação
Voltei a sentar-me
Decidi esperar mais um pouco
Deixa ver…
Deve estar a chegar…

Não deve demorar…
Deve estar a aparecer…
P'ra quê estar inquieto
Ele vai chegar
Já deve vir perto…

Afinal os comboios chegam várias vezes ao dia
E várias vezes ao dia partem a um ritmo louco
Às vezes atrasam… Também…
Melhor esperar mais um pouco
Não tarda ele aí vem...

Se em dez minutos não chegar nenhum 
Atraso a felicidade em quinze ou vinte minutos…
Nada a fazer… O importante é ser feliz
Oh, parece que já lá vem
Oiço um barulho nos carris…

Assim que ele chegar
O meu amor vou abraçar
Que na estação vai ficar só algum tempo… pouco
Como o comboio, ele, não tem tempo a perder
Rápido, rápido, parte a um ritmo louco…

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domingo, 4 de maio de 2014

Meu relicário

Vislumbro-te no sol que encandeia os meus olhos
Vibrando no reflexo das águas que me refrescam
Sinto-te na brisa que me toca e beija a minha face
Sobrevoando os campos, embalando flores aos molhos

Reinvento-te, ó minha musa, sempre que te escrevo
És, em cada poema, inspiração, amor, sofrido desenlace
Trago-te no meu peito, nas  mãos vazias que secam
Matas-me assim a sede, feita copo de água que bebo

Como eu sorrio ao recordar a tua serena imagem
Tão doce, de serenidade tão bela, tão bem desenhada
Porém, desespero ao saber da tua distante paragem
E desfaço-me em pranto ao visitar tua última morada

Amo-te como nunca amei ninguém
Vives comigo para sempre, minha mãe…

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sexta-feira, 2 de maio de 2014

Dar tempo ao tempo

Bastasse ao tempo ter algum tempo
P'ra atrasar o final desta vida
Certamente que iria ajudar
Com mais tempo a melhor preparar
O futuro que viesse em seguida…

Aguardasse também esse tempo
Sem cobrança ou qualquer ansiedade
Tão somente que o tempo passasse
Tranquilo e dessa forma chegasse
O futuro (im)perfeito, a verdade…

Caso fosse o futuro impossível
Ainda assim que esse tempo avançasse
Outras coisas tão belas trouxesse
Tranquilidade e paz devolvesse
Até que um dia a morte o travasse…

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